Correio Braziliense
postado em 27/02/2020 10:08
O médico Jarbas Barbosa, vice-diretor da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse ao jornal O Estado de S. Paulo que a classificação de pandemia é feita quando há "transmissão sustentável" em vários paÃses da doença. Por enquanto, a entidade classifica o surto como emergência internacional. Mas ele advertiu que, independentemente da nova posição da OMS, paÃses têm de estar preparados para reagir rapidamente à chegada do novo coronavÃrus.
"A OMS está avaliando (se é pandemia ou não), mas mesmo sem uma denominação formal de pandemia, é certo que pode-se transmitir para outros paÃses com relativa velocidade como está ocorrendo", disse Barbosa. "É um aprendizado que tivemos na pandemia de 2009 (vÃrus H1N1). Alguns paÃses da América Latina, quando já era perceptÃvel que havia transmissão na comunidade, gastavam esforço para contenção. Analisavam a ponta do iceberg, em vez de já tomar decisões de mitigação, como adiar uma cirurgia eletiva para deixar um leito de UTI disponÃvel", completou o brasileiro, que atua na Opas em Washington.
Barbosa observou que o cenário é de redução de novos casos na China, epicentro do surto, mas há avanço em outros paÃses. "Neste momento a gente tem boas e más notÃcias." Segundo ele, medidas restritivas, como isolar cidades, têm de ser avaliadas com extrema cautela. "No caso da China, dados que se têm até agora parecem ser favoráveis. Aquelas medidas de redução do contato social podem ter reduzido a transmissão", disse.
O médico destacou que o "estigma e a discriminação", além de "inaceitável", podem dificultar que um paciente busque um serviço de saúde por receio de sofrer represália. Ele também afirmou que impedir a circulação de mercadorias acabaria, em muitos casos, atrapalhando o tratamento de pacientes. A China, por exemplo, é grande exportadora de produtos para saúde e medicamentos.
Segundo Barbosa, a maior preocupação da Opas é com paÃses das Américas que têm sistemas "frágeis" de saúde, como o Haiti, ou são pequenos e dependem do turismo como principal fonte de renda, como ilhas do Caribe. "Se chegar lá um cruzeiro com infectados, pode ser uma sobrecarga no sistema de saúde. Essas são as duas preocupações maiores."
O vice-diretor da Opas disse que o Brasil tem bom sistema de vigilância e que medidas que o Ministério da Saúde têm tomado são "adequadas". "Mas nenhum paÃs está protegido de receber uma pessoa infectada", lembrou.
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