postado em 29/02/2020 07:00

O presidente
Jair Bolsonaro prorrogou nesta sexta-feira (29/2), por mais uma semana, o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (
GLO) no
Ceará, um dia depois de sinalizar que não adotaria a medida. Com isso, cerca de 2,8 mil militares, entre homens das Forças Armadas e da Força Nacional, continuam patrulhando as ruas de Fortaleza e de outras cidades do estado, em razão do motim de policiais militares, há12 dias. Ao prorrogar a presença das tropas, o presidente voltou a cobrar do Congresso a aprovação do excludente de ilicitude — instrumento legal que pode isentar de punições agentes acusados de cometer excessos em operações de segurança.
A greve continua sem que se chegue a um acordo para as reivindicações salariais da categoria. Com a prorrogação da GLO, as tropas do Exército permanecerão atuando no policiamento das ruas de Fortaleza e do interior cearense até o dia 6 de março. A decisão de Bolsonaro atende a um pedido feito pelo governador Camilo Santana (PT), na última quarta-feira, em meio à explosão de casos de homicídios no estado, reflexo da paralisação na PM.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará, foram 195 assassinatos desde o início da greve, do dia 18 até a última terça-feira – quando o número de assassinatos deixou de ser divulgado. O número é 18,9% superior ao de todo o mês de fevereiro do ano passado, quando foram registradas 164 ocorrências desse tipo de crime no estado.
A GLO, que venceria nesta sexta-feira (28/2), foi prorrogada um dia depois de Bolsonaro afirmar, em uma live nas redes sociais, que a medida “não é para ficar eternamente atendendo um ou mais governadores”. Durante a transmissão, o presidente também cobrou de Camilo Santana uma solução para a greve dos PMs. “Negocie com sua Polícia Militar, e chegue a bom termo essa questão”, disse o presidente.
Na nota divulgada nesta sexta-feira (28/2) pelo Planalto, Bolsonaro voltou a cobrar uma solução para o movimento dos PMs, que estão amotinados em vários batalhões da corporação. “No dia 26 de fevereiro, o governador do Ceará pediu uma prorrogação da GLO. O governo federal, por sua vez, autoriza a prorrogação e entende que, no prazo de até o dia 6 de março, a situação deva ser normalizada, prevalecendo o bom senso. O governo federal avalia que se trata de uma negociação do estado, entretanto continua prestando seus esforços de ajuda à população”, diz um trecho do comunicado, que também faz cobranças ao Legislativo.
“Ressalta-se a importância de que o Congresso Nacional reconheça que, o emprego da GLO, dada a necessidade de segurança aos integrantes das forças, muitos deles jovens soldados com cerca de 20 anos de idade, discuta e vote o excludente de ilicitude”, afirma o presidente, em outro trecho da nota.
O documento informa também que a primeira solicitação pela GLO foi feita pelo governador do Ceará em 19 de fevereiro, por meio de ofício, ante a “incapacidade de gestão da sua força policial, em decorrência da paralisação das forças de segurança na região”. A partir desse pedido, a primeira fase da atuação do Exército no estado se deu de 21 a 28 de fevereiro.
Governadores avaliaram colaborar com efetivos
Governadores de ao menos seis estados estudavam uma forma jurídica de enviar policiais militares de suas tropas para reforçar a segurança do Ceará, onde parte dos PMs está amotinada, caso o presidente Jair Bolsonaro não renovasse o decreto de Garantia da Lei e da Ordem. As discussões envolveram os governos de São Paulo, do Rio, do Piauí, do Maranhão, da Bahia e do Pará. Ao menos na PM paulista, havia dúvidas sobre as formas legais de viabilizar essa cooperação. Edição extra do Diário Oficial da União, que circulou nesta sexta-feira (28/2) à tarde, trouxe o Decreto que prorroga a GLO.
Disposição para dialogar se mantém
O governador do Ceará, Camilo Santana, em um post nas redes sociais, comunicou aos seguidores a prorrogação da GLO, “uma medida necessária pela continuidade do motim de parte dos PMs, que tem provocado insegurança e o aumento da violência em nosso estado”.
Na mensagem, voltou a afastar a possibilidade de conceder anistia aos amotinados, rejeitando proposta das associações ligadas ao movimento. Segundo a Constituição Federal, policiais — civis e militares — são proibidos de se sindicalizarem e de fazerem greve.
“Informo que a comissão composta pelos Três Poderes, acompanhada pelo MP, OAB, Exército e Força Nacional, segue trabalhando e dialogando para pôr fim ao impasse. Reafirmo que sempre estaremos dispostos a ouvir e dialogar, mas não aceito anistia para quem pratica atos criminosos. A garantia é de que todos os processos sejam conduzidos com isenção e transparência, para que tudo seja feito de acordo com a lei”, concluiu o governador cearense.
A Secretaria da Segurança Pública do Ceará informou nesta sexta-feira (28/2) que não vai mais divulgar o número de homicídios ocorridos durante o motim de policiais militares. Conforme nota divulgada pela pasta, “com o fim do carnaval, há um acúmulo de trabalho no setor de estatística, que deve ser normalizado nos próximos dias”.
O órgão, que divulga mensalmente dados sobre assassinatos no estado, esclarece que os númenos diários vinham sendo publicados “de forma extraordinária”, em razão da greve na PM. “Agora, a Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp), setor responsável pela contabilidade dos dados, retorna ao trabalho habitual para consolidar os números e realizar a divulgação dos dados mensais”, informa o comunicado da Secretaria.
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