Correio Braziliense
postado em 10/03/2020 04:05
Pacientes infectados com o novo coronavírus e atendidos em hospitais particulares não devem ser transferidos para prosseguirem o tratamento na rede pública de saúde. A medida foi definida como “inadmissível” pelo secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, em resposta ao questionamento feito pelo Correio, a respeito da transferência da paciente que está infectada com o vírus e em estado grave, no Hran. A pasta também anunciou novas estratégias para controle da doença no Brasil.
“Não aceitaremos e não vamos concordar que isso possa ser feito”, disse Gabbardo. Apesar de afirmar desconhecer justificativas específicas quanto ao caso do DF, o secretário disse que, de modo geral, decisões como esta não estão alinhadas com o protocolo emergencial da pasta. “O plano de saúde e o hospital que acompanharam o paciente estão preparados para atendê-lo na UTI. Não tem por que deixar de atender quem necessita por ser um caso de coronavírus”, reforçou.
A reportagem contextualizou a pergunta fazendo referência à única paciente internada no DF com a confirmação de Covid-19. A mulher, de 52 anos, deu entrada no Hospital Daher, na última quarta-feira, com sintomas da doença. No dia seguinte, um exame feito na unidade deu positivo para a infecção. Em seguida, ela foi transferida para o Hran. Até a última atualização, a paciente está em coma induzido e passa por exames neurológicos.
A Secretaria de Saúde afirmou, em nota oficial, que acolheu a paciente por demanda do Daher, que justificou o pedido dizendo que o isolamento “exige condições específicas que foram equacionadas pelo governo do Distrito Federal”. O Correio tentou um novo posicionamento do Daher após as declarações de Gabbardo, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Mudanças na estratégia
O Ministério da Saúde anunciou que vai verificar a presença do agente contagioso em todos os casos de síndrome respiratória aguda grave. Logo, o critério de viagem para o exterior só continuará sendo levado em consideração para pacientes sem esse tipo de complicação e que apresentarem febre e outro sintoma gripal.
Com o objetivo de garantir atendimento suficiente para o enfrentamento do novo coronavírus, sem prejudicar as demandas habituais, a pasta também disse que vai ampliar o Saúde na Hora, programa lançado em maio do ano passado e que aumentou o horário de atendimento das unidades básicas de saúde (UBS), das 8 horas diárias para 12 ou 15 horas. Atualmente, 1.528 unidades funcionam em expediente estendido. A nova versão, chamada de Saúde na Hora 2.0, alcançará 5.227 UBSs.
“Cerca de 5 mil unidades podem fazer essa adesão ao programa, mas é uma oferta do Ministério da Saúde que fica condicionada à adesão dos municípios”, afirmou a secretária de Atenção Primária à Saúde, Caroline Martins. O governo federal informou que priorizará a habilitação de unidades de saúde dos estados e municípios com casos confirmados de coronavírus. Até agora, seis estados e o DF têm casos confirmados.
Com a adesão, o Ministério estima que cerca de 40% das equipes que hoje estão implantadas passem a funcionar com horário estendido, aumentando a capacidade de resposta da atenção primária. A previsão orçamentária para esse prolongamento de funcionamento é de R$ 900 milhões.
“A atenção primária é o nível de atenção estratégico para fazer a contenção do surto, porque é o serviço mais capilarizado, com 43 mil unidades básicas de saúde espalhadas pelo Brasil”, justificou Caroline.
Além da ampliação do horário das unidades básicas de saúde previstas no programa, o governo inicia, na próxima semana, o chamamento de novos profissionais através do programa Mais Médicos. “Hoje cerca de 5 mil equipes estão com vagas desocupadas ou prestes a serem desocupadas”, informou a secretária.
Sobre o Mais Médicos, o Ministério informou que seguirá os trâmites de convocação previstos na Lei 12.871/13: primeiro, os médicos registrados no CRM ou que se submeteram ao Revalida; segundo, os médicos brasileiros formados no exterior e; terceiro, os médicos estrangeiros.
Casos confirmados
O número de confirmações se manteve estável. São 30 casos, 25 constatados pelo Ministério e outros cinco, pela Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro. Desses, 16 são em São Paulo, oito no Rio de Janeiro, dois na Bahia, um em Alagoas, um no Espírito Santo, um em Minas Gerais e um no DF.
Dos pacientes infectados, 80% têm histórico de viagem ao exterior e apenas quatro foram hospitalizados. O restante cumpre isolamento domiciliar. O novo boletim também apontou que o número de suspeitas subiu para 930. Somente Amapá, Tocantins, Maranhão, Roraima não possuem investigações. Segundo o Ministério, o Distrito Federal tem 41 casos suspeitos, um confirmado e 24 descartados. No Brasil, 684 casos apontam ausência do vírus.
Dos estados que possuem casos confirmados, somente em São Paulo e na Bahia há pacientes que se infectaram no Brasil. O vírus não apresenta transmissão comunitária, ou seja, quando não se consegue mais identificar onde se originou a contaminação de um caso confirmado.
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