Brasil

Transmissão comunitária se espalha pelo país

Além de casos no Rio e em São Paulo, já não é mais possível detectar a origem da infecção de pacientes em Belo Horizonte, Porto Alegre, Santa Catarina e Pernambuco. Com 621 notificações confirmadas pelo Brasil, número de mortos pela Covid-19 chega a sete

Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:03
Todas as pessoas com sintomas respiratórios devem ficar 14 dias em isolamento domiciliar, reforça Ministério


O número de cidades que não conseguem mais rastrear como a Covid-19 infectou pelo menos um de seus casos confirmados aumentou. A chamada transmissão comunitária ou sustentada, que até então só existia nas capitais de São Paulo e no Rio de Janeiro, chegou a Belo Horizonte, Porto Alegre, e no sul de Santa Catarina, mais especificamente à região da cidade de Tubarão. Além de Pernambuco. Com a limitação de se realizar testes em toda a população e a recomendação de só comparecer aos hospitais em caso de sintomas graves, autoridades reconhecem que nem todos os números são revelados nos balanços. “Estamos vendo a ponta do iceberg, mas embaixo tem muito mais casos. Nós vamos começar a subir uma montanha agora", prevê o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, acredita que a transmissão comunitária pode começar a aparecer onde há uma maior concentração demográfica. “Nas grandes cidades é possível que aumente a transmissão e que esta vire comunitária de forma mais rápida”, disse.

Mandetta reforçou o pedido para que os idosos fiquem em casa e que as famílias cuidem de parentes do grupo de risco. “Não é uma epidemia de São Paulo, de Brasília ou do Acre. É uma possível epidemia nacional. É de todos os brasileiros e não deixaremos nenhum deles sem a nossa presença”, afirmou o ministro da Saúde.

Infectologistas reforçam que deve haver muito mais casos confirmados do que o número registrado pelo órgão. O infectologista do Laboratório Exame e primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), David Urbaez, explica que esse comportamento é comum com doenças infecciosas. “Na verdade,quando a gente fala de qualquer doença infecciosa, tem, literalmente, um iceberg. Normalmente, nesses casos, você sempre terá uma ponta do iceberg que será mais estreita, representada pelos casos sintomáticos e casos graves”, esclareceu.

Apesar dos balanços do ministério não darem conta, por exemplo, dos casos assintomáticos e leves, a metodologia da vigilância epidemiológica permite mensurar o panorama por amostragem e traçar a realidade vivida no país, sem prejuízos às análises. É o que garante Mandetta: "O Brasil vai trabalhar com números verdadeiros, bem científico e técnico".

O último balanço registrou 621 casos confirmados da Covid-19. O Sudeste é a região com o maior número. São 391 pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. Em seguida, está o Nordeste, com 90 casos; Sul, 71; Centro-Oeste, 61; e Norte, com oito casos confirmados.

O infectologista David Urbaez destacou, no entanto, que esse tipo de virose gera casos assintomáticos e oligossintomáticos. “Muitos casos não entram em contato com o sistema de saúde e as medidas de restrição de contato social são necessárias porque temos esses casos”.

Isolamento
O Ministério da Saúde reforçou, ontem, medidas de isolamento social e reforçou que os idosos com mais de 60 anos devem ficar em casa. “Todas as pessoas com sintomas respiratórios devem ficar 14 dias em isolamento domiciliar. As demais pessoas que habitam a mesma casa também deverão realizar isolamento domiciliar por 14 dias, mesmo que não apresentem sintomas”, diz a recomendação. Além disso, o ministério indica que os serviços de saúde deverão fornecer atestado de duas semanas  para todas as pessoas do domicílio, mesmo àquelas que não estiverem presentes na consulta da pessoa com sintomas. 

Urbaez acredita que, pelo comportamento visto do vírus ao redor do mundo, será preciso mais do que 15 dias, média das restrições recomendadas pelos governadores dos estados, para reduzir a velocidade da transmissão. “No mundo, 15 dias não foram suficientes para conter o avanço do novo coronavírus. Mas essas medidas podem ser renovadas e ampliadas. Precisamos de ações muito poderosas e potentes para restringir o contato social”, indicou. 

O secretário-executivo da Saúde, João Gabbardo, já adiantou que os “prazos precisarão ser ampliados, mas vamos esperar duas semanas para saber por quanto tempo as medidas precisarão permanecer. Não conseguimos medir ainda o resultado de cada ação”. 

Vítimas
A Covid-19 matou sete brasileiros, todos idosos e, portanto, pertencentes ao grupo de vulnerabilidade da doença. Cinco vítimas são de São Paulo e as outras duas, do Rio de Janeiro. A última atualização foi dada na tarde de ontem e não chegou a entrar no balanço oficial do Ministério da Saúde. Se trata do óbito de um homem de 77 anos que sofria comorbidades. 

Os outros casos do estado paulista são de idosos de 62, 81 e 85 anos. Já no Rio de Janeiro, um homem de 69 anos morreu da doença, após ter contato com um infectado que veio do exterior. A única mulher do grupo tinha 63 e também contraiu o vírus a partir da transmissão local. Sua patroa atestou positivo para a doença após voltar da Itália. 

Na verdade, quando a gente fala de qualquer doença infecciosa, tem, literalmente, um iceberg. Normalmente, nesses casos, você sempre terá uma ponta do iceberg que será mais estreita, representada pelos casos sintomáticos e casos graves”
David Urbaez, infectologista do Laboratório Exame e primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)


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