Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 08:00
O Ministério da Saúde anunciou, ontem, que pretende distribuir 10 milhões de testes laboratoriais rápidos para diagnóstico da Covid-19, doença que resultou em uma pandemia que já matou 18 brasileiros, até o momento, além de 1.128 outros casos confirmados. O governo deve enviar 5 milhões de kits para todos os estados até o próximo domingo, disse o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, em coletiva à imprensa.Até agora, foram oferecidos 27 mil — 17 mil na semana passada e 10 mil neste fim de semana. Com o reforço, pessoas com indícios leves de que tenham sido infectadas pelo novo coronavírus também poderão ser testadas, não apenas as que apresentam sintomas graves, como tem sido até agora. “Vai aumentar muito a velocidade de diagnóstico em todo o Brasil”, prevê Wanderson, sem especificar a data de entrega dos outros 5 milhões. Disse apenas que acontecerá “nas próximas semanas”.
O número de kits, no entanto, ainda não será suficiente para seguir por completo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que o exame seja feito em massa. Quem não apresentar nenhum sintoma de Covid-19 não será testado. “Não há insumos suficientes no Brasil para realização de testes de forma indiscriminada”, explicou o secretário de Vigilância em Saúde.
Além de aumentar o alcance dos exames, o governo quer, “em breve”, implementar uma estratégia similar à usada pela Coreia do Sul, que instalou “drive thrus” para testagem. Assim, as pessoas vão poder fazer o exame sem sair do carro, para evitar o contágio nos postos de saúde. “Esses processos estão em curso, para ficarem disponibilizados nas próximas semanas”, anunciou Wanderson.
Os novos testes, que serão adquiridos a partir de agora, serão sorológicos, como os que são usados para medir a glicemia. Depois da coleta de uma pequena amostra do sangue do paciente, o resultado deve sair em minutos. Eles serão destinados prioritariamente a unidades básicas de saúde.
Parcerias
Wanderson disse ter conversado com representantes de laboratórios públicos e privados, que chegaram à mesma conclusão: de que a indústria mundial “está sendo pressionada” pela demanda e ainda não tem condições de produzir na escala necessária. “Os grandes produtores de insumo estão aumentando a sua capacidade, mas ainda não em quantidade suficiente para abastecer todos os mercados”, afirmou.O governo busca doações e parcerias com empresas para conseguir fazer frente ao gasto com os novos testes — que, se chegarem aos 10 milhões pretendidos, vão custar R$ 750 milhões. Cada um custa R$ 75. O ministério tem conversado, por exemplo, com a mineradora Vale. “Caso isso não seja possível, vamos fazer a aquisição com recursos do ministério”, afirmou.
Confirmações
O Ministério da Saúde informou, ontem, que há 1.128 casos confirmados de coronavírus no Brasil. Até o momento, 18 brasileiros morreram em decorrência da Covid-19, pelos dados mais recentes. Deles, 15 em São Paulo e três no Rio de Janeiro. Mais da metade dos casos (51,2%) está concentrada nesses dois estados. Em SP, eram 459 até ontem. No RJ, 119.O Distrito Federal registra, pelas contas da pasta, 100 casos. Ontem, a Secretaria de Saúde de Roraima confirmou os dois primeiros infectados no estado, de um casal que esteve recentemente em São Paulo. “A maioria absoluta dos casos está em cidades com mais de 500 mil habitantes. Em cidades menores, são sempre casos relacionados a viagens. Temos uma epidemia muito concentrada em grandes centros”, disse Wanderson.
O número de casos suspeitos deixou de ser divulgado pelo Ministério da Saúde porque, como já há transmissão comunitária, “todo brasileiro que tiver sintoma pode ser considerado um caso suspeito”, explicou o secretário-executivo do ministério, João Gabbardo Reis. Por enquanto, a taxa de letalidade no país é de 1,6%, menor do que a global, de 3,4%. Mas, como ainda há poucos casos registrados, ainda é cedo para comparar os números, afirmou o secretário.
Gabbardo também garantiu que o governo vai “fazer um esforço brutal” para aumentar o número de leitos de UTI e que as informações relativas a eles passarão a ser divulgadas. As Forças Armadas, segundo ele, apoiarão a instalação de hospitais de campanha. “Esse é um compromisso das Forças Armadas e do presidente Jair Bolsonaro”, disse.
Até 5 mil infectados na semana
A Covid-19 avança a passadas largas em um caminho sem volta. Em meio às aglomerações, pegou carona de modo que, no Brasil, já não é mais possível identificar uma linha de transmissão. Mais rápido e contagioso, o vírus ultrapassa a velocidade dos esforços para aquisição de insumos e busca de tratamento. Estudos projetam que até 5 mil brasileiros estejam infectados em todo o país ao final desta semana, de modo que o número de casos passe a dobrar a cada dois dias até que o Sistema Único de Saúde (SUS) entre em “colapso”, como definiu o ministro Luiz Henrique Mandetta. Para frear essa crescente, o país precisa se recolher.
Para auxiliar o governo nas medidas a serem implementadas, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) — parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), PUC do Rio de Janeiro e o Instituto D’or — monitora a curva de crescimento do novo coronavírus. A ideia é fazer projeções de curto prazo, partindo do atual contexto, a fim de trazer dados mais próximos da realidade.
O estudo traça três panoramas: o otimista, o mediano e o pessimista (veja gráfico). Como critério, baseia-se na evolução epidemiológica de países que estão mais avançados na doença, colocando a Itália e o Irã no quadro mais crítico e a Coreia do Sul, no mais ameno. Na primeira nota técnica do Nois, os números brasileiros variaram de 2,3 mil a 5 mil casos até a próxima quinta-feira.
De acordo com o Observatório Covid-19 BR — iniciativa de colaboração entre pesquisadores e cientistas — o tempo de duplicação atual está entre 1,8 a 2,1 dias. Os cálculos se aproximam aos da Itália no início da pandemia, sugerindo um alinhamento com o país europeu, que superou o número de mortos na China, ultrapassando 4 mil óbitos. “A dinâmica da transmissão de doenças infecciosas e, em particular, da Covid-19, deve ser compreendida para que os governos e os cidadãos possam tomar as melhores decisões”, alerta a iniciativa.
O infectologista e coordenador do centro de contingência contra o coronavírus em São Paulo, David Uip, explica que, além de prever o que aconteceu nos países que já tiveram ações exitosa, é preciso entender a realidade da cultura brasileira. O comportamento do vírus também precisa ser analisado. “Precisamos entender se comportamento dele é diferente em um país tropical de clima quente. Pelo visto, o vírus está se comportando da mesma forma do que nos países do hemisfério norte”, avaliou.
Ainda com base em modelos matemáticos de previsão, pesquisadores da Fiocruz e da Fundação Getulio Vargas (FGV) estimaram os riscos de disseminação da pandemia no país. As conclusões desenham um cenário que se torna evidente a cada dia: as grandes regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e São Paulo se tornam o principal foco de disseminação a partir de agora. “Essa exportação é prevista tanto para os outros grandes centros urbanos do Sudeste, Sul, além do Distrito Federal e Salvador, quanto para as regiões menores próximas a esses estados, devido à mobilidade dos trabalhadores”, explica o coordenador do estudo, Marcelo Gomes.
Para Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, grupo do Laboratório Exame, em três ou quatro semanas o Brasil atingirá o pico do número de casos confirmados da nova doença. “A velocidade de transmissão influenciará diretamente no número de pessoas que serão potenciais contagiantes. Para a Covid-19, o melhor remédio é o isolamento social. O vírus é de baixo risco individual, mas é de responsabilidade de todos”, afirma.
Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 20% dos infectados pelo novo coronavírus apresentam sintomas graves e necessitam de UTI, estando mais suscetíveis a esses casos os idosos e com comorbidades. O índice de mortalidade chega a ser cinco vezes maior no grupo acima dos 60 anos. No Brasil, a maioria das mortes registradas está dentro desse grupo.
Para auxiliar o governo nas medidas a serem implementadas, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) — parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), PUC do Rio de Janeiro e o Instituto D’or — monitora a curva de crescimento do novo coronavírus. A ideia é fazer projeções de curto prazo, partindo do atual contexto, a fim de trazer dados mais próximos da realidade.
O estudo traça três panoramas: o otimista, o mediano e o pessimista (veja gráfico). Como critério, baseia-se na evolução epidemiológica de países que estão mais avançados na doença, colocando a Itália e o Irã no quadro mais crítico e a Coreia do Sul, no mais ameno. Na primeira nota técnica do Nois, os números brasileiros variaram de 2,3 mil a 5 mil casos até a próxima quinta-feira.
De acordo com o Observatório Covid-19 BR — iniciativa de colaboração entre pesquisadores e cientistas — o tempo de duplicação atual está entre 1,8 a 2,1 dias. Os cálculos se aproximam aos da Itália no início da pandemia, sugerindo um alinhamento com o país europeu, que superou o número de mortos na China, ultrapassando 4 mil óbitos. “A dinâmica da transmissão de doenças infecciosas e, em particular, da Covid-19, deve ser compreendida para que os governos e os cidadãos possam tomar as melhores decisões”, alerta a iniciativa.
O infectologista e coordenador do centro de contingência contra o coronavírus em São Paulo, David Uip, explica que, além de prever o que aconteceu nos países que já tiveram ações exitosa, é preciso entender a realidade da cultura brasileira. O comportamento do vírus também precisa ser analisado. “Precisamos entender se comportamento dele é diferente em um país tropical de clima quente. Pelo visto, o vírus está se comportando da mesma forma do que nos países do hemisfério norte”, avaliou.
Ainda com base em modelos matemáticos de previsão, pesquisadores da Fiocruz e da Fundação Getulio Vargas (FGV) estimaram os riscos de disseminação da pandemia no país. As conclusões desenham um cenário que se torna evidente a cada dia: as grandes regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e São Paulo se tornam o principal foco de disseminação a partir de agora. “Essa exportação é prevista tanto para os outros grandes centros urbanos do Sudeste, Sul, além do Distrito Federal e Salvador, quanto para as regiões menores próximas a esses estados, devido à mobilidade dos trabalhadores”, explica o coordenador do estudo, Marcelo Gomes.
Para Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, grupo do Laboratório Exame, em três ou quatro semanas o Brasil atingirá o pico do número de casos confirmados da nova doença. “A velocidade de transmissão influenciará diretamente no número de pessoas que serão potenciais contagiantes. Para a Covid-19, o melhor remédio é o isolamento social. O vírus é de baixo risco individual, mas é de responsabilidade de todos”, afirma.
Grupo de risco
Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 20% dos infectados pelo novo coronavírus apresentam sintomas graves e necessitam de UTI, estando mais suscetíveis a esses casos os idosos e com comorbidades. O índice de mortalidade chega a ser cinco vezes maior no grupo acima dos 60 anos. No Brasil, a maioria das mortes registradas está dentro desse grupo.Contagem
Novos números mostram 18 mortes e 1.128 casos no BrasilRegião Casos Mortes
Norte 26 -
Nordeste 168 -
Sudeste 642 18
Centro-Oeste 138 -
Sul 154 -
Fonte: Ministério da Saúde
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