Brasil

Até 5 mil infectados na semana

Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:13



A Covid-19 avança a passadas largas em um caminho sem volta. Em meio às aglomerações, pegou carona de modo que, no Brasil, já não é mais possível identificar uma linha de transmissão. Mais rápido e contagioso, o vírus ultrapassa a velocidade dos esforços para aquisição de insumos e busca de tratamento. Estudos projetam que até 5 mil brasileiros estejam infectados em todo o país ao final desta semana, de modo que o número de casos passe a dobrar a cada dois dias até que o Sistema Único de Saúde (SUS) entre em “colapso”, como definiu o ministro Luiz Henrique Mandetta. Para frear essa crescente, o país precisa se recolher.

Para auxiliar o governo nas medidas a serem implementadas, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) — parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), PUC do Rio de Janeiro e o Instituto D’or — monitora a curva de crescimento do novo coronavírus. A ideia é fazer projeções de curto prazo, partindo do atual contexto, a fim de trazer dados mais próximos da realidade.

O estudo traça três panoramas: o otimista, o mediano e o pessimista (veja gráfico). Como critério, baseia-se na evolução epidemiológica de países que estão mais avançados na doença, colocando a Itália e o Irã no quadro mais crítico e a Coreia do Sul, no mais ameno. Na primeira nota técnica do Nois, os números brasileiros variaram de 2,3 mil a 5 mil casos até a próxima quinta-feira.

De acordo com o Observatório Covid-19 BR — iniciativa de colaboração entre pesquisadores e cientistas — o tempo de duplicação atual está entre 1,8 a 2,1 dias. Os cálculos se aproximam aos da Itália no início da pandemia, sugerindo um alinhamento com o país europeu, que superou o número de mortos na China, ultrapassando 4 mil óbitos. “A dinâmica da transmissão de doenças infecciosas e, em particular, da Covid-19, deve ser compreendida para que os governos e os cidadãos possam tomar as melhores decisões”, alerta a iniciativa.

O infectologista e coordenador do centro de contingência contra o coronavírus em São Paulo, David Uip, explica que, além de prever o que aconteceu nos países que já tiveram ações exitosa, é preciso entender a realidade da cultura brasileira. O comportamento do vírus também precisa ser analisado. “Precisamos entender se comportamento dele é diferente em um país tropical de clima quente. Pelo visto, o vírus está se comportando da mesma forma do que nos países do hemisfério norte”, avaliou.

Ainda com base em modelos matemáticos de previsão, pesquisadores da Fiocruz e da Fundação Getulio Vargas (FGV) estimaram os riscos de disseminação da pandemia no país. As conclusões desenham um cenário que se torna evidente a cada dia: as grandes regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e São Paulo se tornam o principal foco de disseminação a partir de agora. “Essa exportação é prevista tanto para os outros grandes centros urbanos do Sudeste, Sul, além do Distrito Federal e Salvador, quanto para as regiões menores próximas a esses estados, devido à mobilidade dos trabalhadores”, explica o coordenador do estudo, Marcelo Gomes.

Para Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, grupo do Laboratório Exame, em três ou quatro semanas o Brasil atingirá o pico do número de casos confirmados da nova doença. “A velocidade de transmissão influenciará diretamente no número de pessoas que serão potenciais contagiantes. Para a Covid-19, o melhor remédio é o isolamento social. O vírus é de baixo risco individual, mas é de responsabilidade de todos”, afirma.



Grupo de risco

Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 20% dos infectados pelo novo coronavírus apresentam sintomas graves e necessitam de UTI, estando mais suscetíveis a esses casos os idosos e com comorbidades. O índice de mortalidade chega a ser cinco vezes maior no grupo acima dos 60 anos. No Brasil, a maioria das mortes registradas está dentro desse grupo.




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