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Polícia investiga BO sobre mortes por problemas respiratórios em MG

De acordo com boletim de ocorrência, funerária recebeu, no fim de semana, 23 corpos cuja causa de morte foram problemas respiratórios. BO é verdadeiro, mas há suspeita sobre seu conteúdo

Correio Braziliense
postado em 23/03/2020 13:33
Lagoa da PampulhaAutoridades policiais abriram investigação sobre um boletim de ocorrência (BO) registrado pela Polícia Militar de Minas Gerais indicando que uma funerária de Belo Horizonte recebeu 73 cadáveres entre a sexta-feira (20) e a noite de domingo (22).

Segundo o BO, foi informado que os laudos cadavéricos mostram que pelo menos 23 desses corpos tiveram como causa da morte problemas respiratórios graves — como "insuficiência respiratória aguda", "pneumonia crônica" e "pneumonia aspirativa" — e que o laudo de um deles indicava morte por Covid-19. 

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) confirmou a existência do boletim de ocorrência à reportagem. Mais tarde, no entanto, ressaltou que há suspeitas sobre a veracidade do que foi escrito no documento, o que levou o Correio a editar esta matéria às 19h, após publicar uma primeira versão dela.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, afirmou que não há, pelo menos até este momento, nenhum comunicado oficial de morte por coronavírus no estado. Ele ressaltou que uma série de doenças pode levar à insuficiência respiratória. Ou seja, não se pode ligar as mortes ao novo coronavírus. Por isso, ressaltou ele, é importante ter cuidado com as informações transmitidas à sociedade.

O que é dito no boletim

No boletim, cujo conteúdo é questionado pelas autoridades mineiras, há o relato de que policiais militares receberam uma denúncia anônima sobre a chegada de 41 corpos em 48 horas a uma funerária do Bairro Nova Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, em um curto intervalo de tempo.

De acordo com a denúncia, os mortos teriam diagnóstico de problemas respiratórios, o que chama a atenção para a pandemia da Covid-19. O denunciante se mostrava ainda preocupado com o fato de haver estudantes de tanatologia no local, podendo ser expostos a risco de contágio. 

Ainda de acordo com o BO, ao qual a reportagem teve acesso, após receber a denúncia, policiais foram ao local e confirmaram a informação com o gerente do estabelecimento, Sérgio José da Silva, 56 anos, que mencionou 73 corpos em 72 horas, sendo 23 mortes por problemas respiratórios. Ao Correio, Silva confirmou que o local nunca recebeu tal quantidade de corpos em tão pouco tempo. Ele ressaltou ser um fato atípico em 30 anos de carreira. "Sim, recebemos muitos corpos desde sexta-feira. Dobrou (a quantidade) por conta das mortes por insuficiência respiratória", declarou o gerente.


Procedimentos

Segundo a versão que consta no BO, o gerente disse aos policiais que dos 23 corpos, um tinha como causa da morte a Covid-19, e que, por isso, foi enterrado sem velório. Os demais, passaram por procedimentos comuns e, antes do enterro, foram levados para despedida dos familiares. A reportagem recebeu informações, por fontes no governo mineiro, de que o registro da ocorrência foi cancelado. Foi tentado, sem sucesso, contato com a Polícia Civil de Minas Gerais para confirmar a informação.

O BO foi registrado no domingo (22), pouco antes das 22h. Consta no documento também que os corpos teriam vindo de municípios da Grande BH, da Região Central e também da capital, um deles, segundo o gerente da funerária, de um paciente que estava no Hospital da Polícia Militar. 

Na manhã desta segunda-feira, o major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar de Minas Gerais, confirmou à imprensa que o boletim de ocorrência foi mesmo registrado por um policial, mas que ele não faz juízos de valor no texto. “Ele (o BO) relata situações que são repassadas por um denunciante, e é claro e evidentemente que a Polícia Militar já tomou procedimentos, já encaminhou à polícia investigatória (Polícia Civil) para que isso seja melhor definido. Mas tem uma informação que já é extremamente importante: o caso relatado de uma pessoa falecida oriunda do Hospital Militar não é verídico", informou o militar.

“É importante que nós levemos essa informação a todos, para não criar pânico desnecessário, inclusive com situações que estão em apuração”, disse o major Santiago. “O mais importante é que essas informações estão sendo checadas, mas que já há o indício de informações inverídicas, como eu falei, e precisamos de muita cautela no repasse a essas informações”, pontuou. A reportagem procurou a Polícia Civil sobre o caso. No início desta tarde de segunda-feira, a instituição informou que o governo de Minas se pronunciaria sobre o caso.


Dentro da normalidade

Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que a situação está sendo avaliada e acompanhada pelos órgãos competentes. “Vale ressaltar que não há, até o momento, nenhum caso confirmado de óbito por Covid-19 no estado de Minas Gerais. Tão logo as informações sejam apuradas adequadamente, daremos os devidos esclarecimentos”, finalizou.

Diante da polêmica, a funerária Grupo Zelo informou, em nota, que, “em relação ao Boletim de Ocorrência da Polícia Militar de Minas Gerais, “todos os atendimentos estão dentro da normalidade”. No entanto, afirmou que o número de atendimentos teve aumento nos últimos dias, “mas nada que possa ser considerado significativo, estando dentro da regularidade para essa época do ano”.

A funerária informou ainda que não é responsável pela emissão de atestados de óbitos, portanto, está impossibilitada de atestar a causa das mortes dos atendimentos realizados. “Até o momento, o Grupo Zelo não recebeu comunicação de nenhum caso de Covid-19 confirmado por parte dos hospitais”, ressaltou.

Quando há o caso específico de risco biológico para doença infectocontagiosa, como a Covid-19, a funerária informa que a recomendação das autoridades de vigilância sanitária é de não se fazer a tanatopraxia, ou seja, o corpo deve ser levado ao laboratório, onde é colocado na urna. A mesma deve ser lacrada e enviada diretamente para sepultamento. “Nesses casos, o hospital deve comunicar imediatamente a funerária no momento da remoção, o que, conforme já comunicado acima, não ocorreu até o momento presente”, completou.

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