Brasil

Projeções em prédios de BH tentam dar esperança em tempos de coronavírus

Conversamos com integrantes do coletivo de moradores que criou intervenção em tempos de coronavírus em BH

Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 19:30
Conversamos com integrantes do coletivo de moradores que criou intervenção em tempos de coronavírus em BHEm letras garrafais, no gigante de concreto e vidro, a mensagem de luz fica mais clara: "Ninguém está sozinho". Outro hit também ganhou cliques e likes nas redes sociais afora: "Tudo vai ficar bem, BH. <3". Projetadas na fachada do Edifício JK, icônico prédio residencial desenhado por Oscar Niemeyer no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, as mensagens se destacam entre as iniciativas urbanas para trazer um pouco de alento e esperança, em meio aos duros tempos de isolamento imposto com o avanço do novo coronavírus no mundo. Essa intervenção é obra do coletivo de moradores Viva JK, com quem conversamos com exclusividade para esta reportagem. 

O grupo, com aproximadamente 50 jovens vizinhos, entre advogados, engenheiros, publicitários e arquitetos, formou-se no fim de novembro do último ano, sem pretensões políticas. "Não somos uma chapa para concorrer ao cargo de síndico. Queremos apenas destacar e falar das coisas boas que existem neste prédio incrível e que, muitas vezes, passam despercebidas pelos moradores da cidade", diz um dos integrantes do coletivo - como a obra é conjunta e a ideia a princípio é projetar o prédio e não as pessoas, eles preferem não se identificar.

Como as projeções em tempos de afastamento acabaram por lançar luz também ao trabalho do coletivo, eles acabam de chegar ao Instagram (@vivajk). As primeiras projeções ocorreram no último sábado (21/3), integradas ao movimento de panelaço em oposição à maneira como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem conduzido a crise - mas não somente isso. "Viva o SUS" e "Fique em casa, fique bem" foram outras mensagens que viralizaram na internet. "Muitas pessoas mandaram mensagens para gente agradecendo e percebemos isso como algo muito legal", conta um participante do coletivo.

O projetor usado para a intervenção pertence a um dos moradores. Passado de um apartamento ao outro, foi devidamente higienizado com álcool gel antes do começo dos trabalhos. Na primeira noite, as imagens ficaram prontas minutos antes de a fachada do edifício se transformar em tela gigante, chamando a atenção nas redes sociais. 

Os entusiastas do Viva JK querem aproveitar para tentar abolir preconceitos que ainda persistem no imaginário da cidade sobre o prédio. "As pessoas lamentaram muito a perda do relógio do JK (considerada 'símbolo da cidade', a estrutura foi removida pelo banco que a patrocinava). Mas este prédio é muito mais que o relógio. Queremos que os olhos de fora comecem a olhar para cá sem o estigma que o prédio tem".

"A ideia é, no futuro, também ampliar ações que ajudem as pessoas a entenderem esse prédio. São quase 4 mil habitantes, uma força, uma potência, Niemeyer deu um presente para a cidade e queremos que esse presente seja soberano. Claro que, no momento, estamos no meio de uma crise mundial e com certeza vamos seguir a linha de mensagens que motivam as pessoas. Essa de 'ninguém está sozinho', por exemplo: sabemos como há vários moradores aqui que estão sozinhos em casa. Você chegar na janela e ver essa mensagem que é muito importante", conta outro morador do prédio que faz parte do grupo.

O movimento não esperava tanto sucesso. "Entre os moradores, sim, mas não na cidade toda", diz um deles. Da atitude impetuosa de usar um projetor para lançar textos na fachada oposta saiu uma grande ação de alento e coragem. Informações muito duras circulam pelas telas que nos cercam durante o período de isolamento. Na televisão, no celular, nos computadores e tablets. Na tela gigante do JK, na segunda-feira (23/3), a palavra estava com o mestre Guimarães Rosa: "A vida é assim. Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desenquieta. O que ela quer da gente é coragem".

Que prédio é este?

O complexo Governador Juscelino Kubitschek tem duas torres (23 e 36 andares), onde estão 1.086 apartamentos de 13 tipos. Foi projetado por Oscar Niemeyer em 1951. A construção começou em 1952 e o residencial foi entregue em 1970. Considerado ícone da nossa arquitetura, representa o ideário de habitação coletiva e social, incorporando originalmente funções diversas, com o conceito de "cidade dentro da cidade".
 


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