Brasil

Em meio à pandemia, onda de solidariedade toma conta do país

Atos de solidariedade inspiram corrente do bem em meio à pandemia. Com oferta de compras para vizinhos e apresentação musical nas janelas, brasileiros criam alternativas para ajudar o coletivo a enfrentar os desafios do isolamento social

Fernanda Strickland*
postado em 26/03/2020 06:00

Músico Bernardo Rosa toca em sua varanda para Brasileiros estão se mobilizando para ajudar quem precisa em época de isolamento social, em especial os grupos de risco.  Preocupada com o aumento do número de casos confirmados da doença, a servidora pública Fernanda Salvadé, de 36 anos, entendeu que mesmo confinada, é necessário fazer sua parte. No prédio em que mora, na Asa Norte, os vizinhos são em sua maioria idosos. Por isso, ela pensou em alternativas que não os colocassem em risco. “Precisamos isolar essas pessoas. Na verdade, todos precisam ficar em casa o maior tempo possível”, alerta a servidora. 


Fernanda decidiu, então, fixar um bilhete no elevador, escrito à mão, para chamar a atenção de quem tem mais dificuldade em ler. Nele, ela escreveu: “Se você tem mais de 60 anos, eu posso ir no/ao mercado para você, sem custo, sem nada, apenas me chame”. E informou seu número de telefone e apartamento. 

O gesto inspirou outros vizinhos a formar um grupo nas redes sociais, com os moradores de risco e a equipe de interessados em ajudar. “É uma medida para evitar ao máximo a circulação de pessoas e, principalmente, de resguardar o grupo de situação de risco. Eu indo no lugar dessas pessoas, a única ameaça seria eu mesma, diminuindo, assim, a gravidade na quantidade de contágio”, acredita Fernanda Salvadé.

Em Campo Limpo (SP), o analista Weller Neto dos Reis, 29, tem como vizinhas Belinha Marques, 75, e Aparecida Marques, 93. “Eu me dispus a ajudar, pois a família delas mora a 10 km de distância”, conta. 

Toda vez que Weller sai de casa para tratar de assuntos pessoais, pergunta às vizinhas se precisam de algo, como compras de supermercado, ou se oferece para ajudar em alguma coisa que necessite que elas saiam de casa. A intenção é evitar que ponham a saúde em perigo, reforça o analista.

Show particular


Por conta da quarentena, o músico Bernardo Rosa, 38 anos, teve shows e eventos cancelados. Ele decidiu, então, fazer música sozinho, em casa. Foi quando teve a ideia de se apresentar em sua varanda, em Águas Claras. “Eu estava tocando em casa, conversando com um amigo, e veio a ideia de tocar na varanda. Lembrei de ter visto algumas iniciativas na Itália e de famosos, como Chris Martin, do Coldplay”, explica.

Naquela quarta-feira, o clima não estava amistoso. “Houve aqueles protestos pró e contra o presidente, no meio disso tudo, eu pensei: 'preciso dar uma amenizada nisso aí'”, lembra.

Bernardo montou o equipamento na varanda do apartamento e tocou quatro músicas. Aquela performance, acredita o músico, serviu para diminuir a discórdia. Ele conta que, após o pequeno show, ganhou mais de 600 seguidores no Instagram, rede social pela qual ele transmitiu uma live da apresentação. 

Segundo o artista, os vizinhos foram muito receptivos e, com isso, ele decidiu gravar e transmitir tudo sempre que fosse ensaiar. Começou a fazer as apresentações na janela e o gesto ganhou repercussão, com mais de 150 pessoas simultâneas assistindo pela internet.

As performances, acredita, dão uma força para que pessoas isoladas em casa saiam do desconforto. É o caso de um vizinho de Bernardo, que “está se recuperando de uma cirurgia. Ele já me disse que sempre fica aguardando as músicas começarem”.

Segundo a psicóloga Elsie Frances Silva, não é preciso ser profissional de saúde para dar apoio a quem precisa. “Frente ao cenário enfrentado, no qual grupos de risco, em sua maioria idosos, devem ficar de quarentena, agrava-se a possibilidade de depressão, ansiedades, medos, sentimento de privação de liberdade”, destaca.

De acordo com a profissional, este período de crise, apesar de causar possível instabilidade emocional, pode ser vivido como possibilidade ou oportunidade de mudanças. “O sentimento de felicidade que é proporcionado quando ajuda-se a quem precisa, pode ser mais bem explicado pelo aumento de dopamina, que melhora o humor; e da ocitocina, que beneficia a saúde cardíaca”, enfatiza.

“Aqui expressada como ato de servir, a bondade abre esperança perante ao caos, seja no coração de quem pratica, seja no de quem recebe a ação. Quem pratica deixa de ser egoísta e passa a enxergar a necessidade do outro e seu bem estar. Isto é propício para ajudar a dar sentido à vida de ambos, aumenta a autoestima e é um ótimo remédio contra a depressão”, reforça a psicóloga.

Em meio à pandemia e a instabilidade de humor, vale tentar amenizar a dura rotina. “Pessoas que ajudam e que são ajudadas, geralmente são mais felizes e tendem a ser mais sensíveis às necessidades daqueles com quem convivem”, diz.

* Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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