Brasil

Durante pandemia, brasileiros "presos" na África do Sul relatam drama

Com o fechamentos de comércios, estradas e aeroportos pelo governo sul-africano, eles não conseguem retornar ao Brasil. Itamaraty ainda não tem solução

Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 21:30
Com o fechamentos de comércios, estradas e aeroportos pelo governo sul-africano, eles não conseguem retornar ao Brasil. Itamaraty ainda não tem soluçãoPraticamente ilhados e fora de seus países, brasileiros que estão na África do Sul ainda não sabem como conseguirão retornar ao Brasil. Entre contatos com o consulado brasileiro na Cidade do Cabo, capital sul-africana, e com companhias aéreas, eles pedem por respostas por parte das autoridades brasileiras e um retorno rápido ao Brasil.

A situação é especialmente dramática para aqueles que estão na Cidade do Cabo. Isso porque os voos que sairão do Brasil partem de Joanesburgo. Assim, eles haviam adquirido passagens de Cidade do Cabo para Joanesburgo, mas o trajeto se tornou inviável na última segunda-feira (23), quando o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou 21 dias de “lockdown” a partir do último dia 26, com fechamento de comércios, estradas e aeroportos, permanecendo em funcionamento somente as atividades essenciais. Mesmo aqueles que pensaram em ir de carro para Joanesburgo (uma viagem de 14 horas), relatam a impossibilidade pelo fechamento de estradas. 

O arquiteto e servidor público Antônio Menezes Júnior, de 56 anos, afirma que o anúncio pegou todos de surpresa. De acordo com ele, mesmo antes das medidas os voos já estavam sendo cancelados. Depois, pairou sobre eles a dúvida se deveriam ou não ir para Joanesburgo. Júnior conta que muitos de seus colegas tiveram que sair de hostels e hotéis após a decisão presidencial, e ficaram sem saber o que fazer. O brasileiro estava no país para um curso de inglês, que foi suspenso. O retorno dele seria dia 2 de maio, mas ele buscou antecipá-lo. Júnior diz que soube de dois voos da Latam, para os dias 30 e 31 de março, mas que foram cancelados. 

O advogado Israel Catizani, de 27 anos, de Minas Gerais, que também foi ao país para um curso de inglês, conseguiu um voo para o dia 23 de março, mas foi cancelado. “O que paira sobre as nossas cabeças são incertezas e poucas respostas”, disse. Ele conta também ter ciência de dois voos da Latam para os dias 30 e 31, entretanto, mesmo que os voos saiam, ele não teria como estar à bordo. Isso porque o jovem está em Cidade do Cabo, e o voo sai de Joanesburgo. “Não sabemos se terá como nos repatriar a partir daqui. Não tem como ir, porque as rodovias estão fechadas, locadoras de veículos, aeroportos”, conta. De acordo com ele, não há uma resposta sobre o que será feito em relação aos brasileiros que estão fora de Joanesburgo, mas querem retornar ao Brasil.

A analista de projetos Juliana Macedo Carvalho, de 31 anos, também está na Cidade do Cabo sem saber como retornará ao Brasil. Ela conta que seu voo sairia no dia 30 para Joanesburgo, e de lá ela viria para o Brasil. Entretanto, com o cancelamento dos voos e fechamento de rodovias, ela não sabe o que fazer. “A orientação é que a gente vá para Joanesburgo, mas não tem como deslocar para lá. Precisamos de algum auxílio”, disse. 

A advogada Mariana Fogaça, de 24 anos, estava no país desde o dia 27 de fevereiro com o namorado para um intercâmbio de quatro semanas. Entretanto, na semana passada, quando a escola de inglês suspendeu as aulas, eles decidiram antecipar o voo que seria para o dia 28 de março, mas não conseguiram. Na terça-feira, um dia depois do anúncio do presidente de que haveria o ‘lockdown’, o casal recebeu a informação de que o voo de Joanesburgo para o Brasil havia sido cancelado. Sem a certeza de que conseguiram voltar, preferiam ficar em Cidade do Cabo, onde pelo menos têm acomodação por enquanto.

Mariana afirma que foi ao consulado e teve como orientação, depois do anúncio do presidente, de permanecer em Cidade do Cabo, até que fosse resolvida a abertura do espaço aéreo para a retirada dos brasileiros do país. “Não sabemos como fazer, não sabemos como vão fazer com o pessoal que está aqui na Cidade do Cabo, porque está tudo fechado. Não tem como ir para Joanesburgo”, disse. 

Em nota, o Itamaraty afirma que tem conhecimento da situação dos brasileiros retidos na Cidade do Cabo em decorrência das medidas de isolamento decretadas pelo governo sul-africano, mas informou não ter previsão de quando o problema será resolvido. “Negociações com o governo e com as companhias aéreas estão em andamento para viabilizar solução que permita a todos os nacionais não-residentes retidos na África do Sul o mais rápido retorno possível ao Brasil”, explicou.

Saiba Mais

O Itamarary aconselhou, ainda, que os brasileiros na Cidade do Cabo que ainda não fizeram contato com o consulado, que o façam. “O Itamaraty está trabalhando, ininterruptamente, para lograr o retorno de nossos compatriotas”, ressaltou.

A Latam, por sua vez, afirma que está programado um voo de Joanesburgo no dia 1º de abril, mas que ele seguirá a rota Joanesburgo-Guarulhos (São Paulo), e não irá passar na Cidade do Cabo. Em nota, a empresa frisa que vem trabalhando “junto às autoridades dos diversos países onde opera  para trazer seus clientes de volta para casa”. “A companhia reforça que está em contato com seus clientes para prestar as informações necessárias”, pontuou.

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