Brasil

Mandetta defende isolamento social

Ministro da Saúde contraria o presidente Jair Bolsonaro e recomenda à população que fique em casa. De acordo com ele, governo seguirá orientação de cientistas para combater a Covid-19. País registra 114 mortes e 3.904 casos confirmados

Correio Braziliense
postado em 29/03/2020 04:04
De acordo com o ministro, algumas cidades do país poderão sofrer lockdown, mas diz que medida será adotada de forma organizada


O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recomendou que a população permaneça em casa, apoiou o fechamento das escolas, disse ser contrário às manifestações para que o comércio reabra e afirmou que o governo seguirá a orientação de cientistas para combater o coronavírus. As declarações do ministro, que contrariam o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, foram dadas ontem, durante coletiva de imprensa com o primeiro balanço mensal da disseminação do vírus pelo país. Ele repetiu que permanece no cargo, a menos que o chefe do Planalto o demita.

O balanço do ministério mostra que das 15h de sexta-feira ao mesmo horário ontem, o Brasil teve 487 novos infectados notificados, 10% a mais do que no período anterior. Ao todo, o país registra 3.904 positivos e 114 óbitos. De acordo com Mandetta, essa primeira fase do isolamento social fez com que caíssem o número de acidentes de trânsito no país, o que levou a uma maior disposição de leitos em unidades de terapia intensiva em vários hospitais.

A região com maior número de infectados é o Sudeste, com 2.222 casos e 97 mortes, seguida pelo Nordeste, com 624 confirmações e 10 óbitos; pelo Sul, 514 registros e cinco mortes, e pelo Centro-Oeste, com 360 confirmações e uma morte. A região com menos casos é a Norte, com 184 casos e um óbito. Do total de casos, 90% é de idosos acima de 60 anos.

Mandetta alertou que as próximas semanas serão mais difíceis. Ele pediu que estados e municípios informem a quantidade de leitos, respiradores e equipamentos de proteção individual que têm disponíveis e ressaltou que o combate ao vírus só será efetivo se as regiões agirem juntas. O ministro fez um apelo para que juízes consultem o Ministério da Saúde antes de dar decisões favoráveis a municípios para retirar, de fábricas, material destinado à prevenção da doença.

De acordo com o ministro, algumas cidades do país poderão sofrer lockdown (procedimento de suspensão de todas as atividades com moradores isolados em suas casas) no decorrer da crise, mas que isso será feito de forma organizada, para garantir o abastecimento tanto de equipamentos de saúde quanto de alimento em todo o país.

Distribuição

O ministério tem 40 caminhões distribuindo equipamentos de proteção individual entre os estados e usará aviões para agilizar as entregas quando for necessário. A Força Aérea Brasileira também auxiliará com aeronaves.

O Brasil comprou da China roupas de proteção para profissionais de saúde. Agora, contará com a ajuda de empresas que trabalham na nação asiática, entre elas, bancos e a Vale, para trazer o material para o país. Mandetta afirmou que as roupas de proteção estão visadas em todo o mundo. “Conseguimos comprar um pouco. A China tinha fechado a produção. Voltou a abrir. O mundo inteiro fazendo requisição, e o Brasil também. Está muito difícil comprar e tirar de lá. Há situações em que vamos ter de contratar aviões para embarcar, sair de lá e chegar aqui”, explicou.

Segundo o ministro, o material não será distribuído imediatamente para os estados. “Neste momento, a gente segura. Por quê? Se deixar, começa uma competição entre estados, municípios e empresas, todos começam a predar um ao outro.” Ele destacou, ainda, que o tempo que levará para distribuir o material é mais um motivo para a população ficar em casa. Se o vírus se alastrar antes de os profissionais estarem devidamente protegidos, mais médicos e enfermeiros ficarão doentes, o que reduzirá a capacidade de socorrer os infectados.

“Precisamos montar um sistema de logística. O ministro da Infraestrutura está trabalhando para recompor essa logística. Reorganizar regras de comércio e concorrência com empresas, em que solicitamos pelo menos um voo para capitais em horário estabelecido. Se não tiver passageiro, que vá só o material. Não dá para falar libera todo mundo para sair, pois não temos capacidade nem de entregar o equipamento a tempo”, alertou.

Mandetta apelou a governadores e prefeitos que atuem com a União, e não separadamente. “Não adianta pensar só na estrutura municipal. Não vai ser o plano do ministro Mandetta. O plano do SUS. Vamos andar com municípios, estados e a União. Por isso, estamos discutindo um consenso com secretários estaduais e municipais. Isso aqui dá? Isso dando, a gente faz e mede todo dia. Onde a gente vê que pode estar perdendo a guerra, a gente aperta”, ressaltou. “Onde apertou demais, a gente afrouxa. Mas, juntos. Nós vamos errar e acertar. Ter dias bons e ruim. Mas, juntos. Nos indivíduos, vamos ter muitas perdas. A gente vai olhar pra trás e dizer que foi muito duro. E vamos trabalhar para poupar a vida de todo mundo.”




“Não adianta pensar só na estrutura municipal. Não vai ser o plano do ministro Mandetta. O plano do SUS. Vamos andar com municípios, estados e a União. Por isso, estamos discutindo um consenso com secretários estaduais e municipais”
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde


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