Brasil

Agressividade do coronavírus impressiona autoridades de saúde

O acometimento de jovens aparentemente saudáveis também tem levantado preocupações

Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 06:00
um médio em um laboratórioO entendimento de que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, ataca de forma mais grave em sua maioria idosos e pessoas com comorbidades (como doenças respiratórias ou diabetes) vem da análise dos casos da China e de outros países que já estão em um ciclo mais avançado de enfrentamento ao vírus. O acometimento de jovens aparentemente saudáveis, entretanto, tem levantado preocupações.

É o caso do Rio de Janeiro. O secretário de Saúde de estado, Edmar Santos, disse em entrevista ao programa “Bom Dia Rio”, da Rede Globo, que a faixa etária com mais casos de internação são de pessoas entre 30 e 39 anos, tendo, inclusive, registros de mortes nessas idades. “Não nos contaram tudo sobre esse vírus”, disse. Santos pontuou ainda que a agressividade da doença impressiona.

Em São Paulo, a secretaria de Saúde registrou morte de jovens de 26 e 33 anos. A pasta busca, agora, levantar se eles possuíam outras doenças. Balanço do Ministério da Saúde divulgado ontem mostra que 89% das mortes são de pessoas acima dos 60 anos, mas que também há óbitos por Covid-19 em pessoas entre 40 e 59 anos e entre 20 e 39 anos.

Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jamal Suleiman explicou que estudos de outros países mostram mortalidade maior em pessoas mais velhas. Entretanto, é preciso analisar se no Brasil a lógica se repetirá, explicando que existem diferenças regionais do padrão de infecções. “A ciência ainda não tem essa resposta”, destacou.

Suleiman disse que o dado levantado pelo secretário do Rio é importante, e não pode ser desprezado, mas é uma informação inicial. Assim, é preciso observar se isso persistirá ou não; se acontece em outros estados ou se é algo específico relacionado a algum outro fator. O infectologista explicou, por exemplo, que no Instituto de Infectologia Emílio Ribas foi observado um aumento de pacientes abaixo dos 60 anos com quadros mais severos em decorrência da Covid-19 nos últimos dois dias. Mas salientou ser preciso analisar por mais tempo para ter um entendimento do que isso significa.

O médico frisou, então, a importância de que as pessoas fiquem em casa, independentemente da faixa etária, uma vez que não se sabe tudo sobre o vírus. “Não arrisquem, para que a gente não confirme desse jeito (com alto índice de mortos) que o vírus não escolhe idade”, afirmou.

Infectologista do Hospital de Base, Julival Ribeiro ressaltou que a doença causada pelo coronavírus é nova, não sendo, assim, totalmente conhecida. O médico afirma que se tem observado, no mundo, casos graves envolvendo pessoas jovens e sem doenças crônicas. “Qualquer um pode desenvolver sintoma grave. É um fator que preocupa, porque, antes, a gente falava que só (desenvolvia um quadro grave) quem era idoso ou tinha comorbidade. Agora, estão ocorrendo cada vez mais casos graves na população mais jovem”. Ribeiro reforçou o alerta de que todos os dias se descobre algo novo sobre o vírus e disse que é preciso paciência para observar como ele se comportará.

Por outro lado, de acordo com o infectologista e professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Bellissimo Rodrigues, a questão tem muito mais a ver com fatores de exposição. Para ele, ainda não há evidência de que o vírus tenha mudado o comportamento. “O jovem está se arriscando, indo à praia, está tendo que ir ao trabalho. O idoso está quietinho. Então, eles estão se expondo mais, mas não são mais suscetíveis”, apontou.

Segundo o infectologista, portanto, o entendimento de que o vírus representa mais risco para idosos e pessoas com comorbidades se mantém.

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