Brasil

Cidade turística de Minas Gerais sofre com falta de visitantes

Distrito, que tem 1 mil habitantes e cuja população dobra nos fins de semana, vê sua principal fonte de renda secar com a ausência de visitantes

Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 09:19
Distrito, que tem 1 mil habitantes e cuja população dobra nos fins de semana, vê sua principal fonte de renda secar com a ausência de visitantesUm dos destinos mais charmosos e procurados de Ouro Preto, na Região Central de Minas, amarga os efeitos do coronavírus e preocupa a comunidade local. Conhecido pelo aconchego das montanhas, ainda mais no outono e no inverno, hospitalidade bem mineira e tranquilidade, o distrito de Lavras Novas, localizado a 20 quilômetros da sede do município, “está há dois fins de semana sem visitantes”, lamenta o presidente da associação dos moradores, Aguinaldo da Cruz. 

“Aqui em Lavras Novas, 95% dos moradores vivem do turismo: são os proprietários de pousadas, restaurantes e bares e os funcionários de estabelecimentos. Sem os visitantes, não há renda”, afirma Aguinaldo. Para ele, é preciso esperar passar a pandemia do novo coronavírus para avaliar os prejuízos e a situação, embora garantindo que a vocação do distrito é mesmo o turismo.

Com cerca de 1 mil habitantes, Lavras Novas alcança o dobro da população nos fins de semana, atraindo gente de todo canto. “Agora, com as tardes mais frias, já era para ter movimento, mas nada acontece.” Para enfrentar a situação que pode se agravar, dependendo do pico da contaminação pela COVID-19 no país, foi criado um comitê de crise em Lavras Novas “que não registra casos suspeitos de coronavírus”, segundo a coordenadora da Unidade Básica de Saúde, a enfermeira Fernanda de Souza Truocchio. A unidade atende ainda aos distritos de Chapada e Santo Antônio do Salto.

Integrante do comitê de crise, Aguinaldo explica que o objetivo é tentar reduzir os impactos econômicos e sociais na comunidade, a partir de medidas de proteção. “Queremos falar a mesma língua, neste momento de avanço da doença”, observa. O distrito não dispõe de estrutura hospitalar, mas tem muitos idosos e enfermos com baixa imunidade ao vírus, segundo nota do comitê.

Mudanças


Quem te viu, quem te vê. Caminhar agora pelo distrito de Lavras Novas é ver as portas das lojas fechadas, as igrejas sem fiéis, as pousadas vazias e o silêncio comandando todos os espaços. Numa das casas, há um cartaz: “Deus Santo, Deus forte, Deus imortal, tenha piedade de mim, da minha família e do mundo inteiro”.
 
Para evitar a circulação de pessoas, o comitê, se antecipando aos decretos estadual e municipal, enviou ofícios aos comerciantes (bares, restaurantes, pousadas, chalés e lojas) solicitando o fechamento dos estabelecimentos por 15 dias ou durante o desenvolvimento da pandemia na região. Cerca de 100 estabelecimentos aderiram à medida voluntariamente. “A situação é incomparável”, avalia o dono da pousada Vila São Francisco, Francisco de Assis Amaral, à frente do empreendimento há quatro anos e atuando como corretor de imóveis há 30. Para reduzir os impactos no distrito e pensando no coletivo, Francisco antecipou para estes dias a manutenção periódica da pousada e contratou duas pessoas para o serviço. “Estou comprando tinta e outros materiais. É uma forma de sair do imobilismo. Tenho certeza de que, quando passar a pandemia, a pousada estará linda à espera dos hóspedes.”
 
Para uma dona de pousada que preferiu não se identificar, o futuro do distrito pós-pandemia precisará ser redesenhado: “As pessoas daqui passaram a viver apenas do turismo, não plantaram nada além de restaurantes, chalés e bares. Deixaram de lado a horta, uma criação. Tomara que a colheita não seja muito dura”.

Volta ao começo 


A proximidade da semana santa, com as cerimônias na capela Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira de Lavras Novas, angustia Maria das Graças Fernandes Marins, funcionária de uma padaria. “Participo da semana santa, e é a primeira vez que não teremos. Se acabar o turismo, Lavras Novas voltará ao que era antes. A gente buscava lenha no mato para fazer a comida, catava cascalho para vender. Mas nem isso tem mais”, afirma.
 

Saiba Mais

 
 
Descendente de escravos, Sueli dos Santos, de 60 anos, vê agora Lavras Novas apenas da janela. “O povo aqui vive solto, as crianças correndo pela rua. Tem 15 dias que não vejo meus netos, pois moram longe. Minha mãe está com 96, vou lá, levo o mingau e volto logo”, conta Sueli, certa de que a perda maior será para o turismo de toda a região.

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