Brasil

Vitaminas entram em falta com a corrida às farmácias de Minas Gerais

No dia em que o governo anuncia adiamento do reajuste dos remédios, drogarias veem escassez de diversos produtos, ante o temor de contaminação

Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 10:10
No dia em que o governo anuncia adiamento do reajuste dos remédios, drogarias veem escassez de diversos produtos, ante o temor de contaminaçãoEstá adiado o reajuste dos preços dos remédios, como anunciou nessa terça-feira o presidente Jair Bolsonaro, por meio do Facebook. Segundo Bolsonaro, foi feito acordo com a indústria farmacêutica para que a correção não seja aplicada nos próximos dois meses. “Em comum acordo com a indústria farmacêutica decidimos adiar, por 60 dias, o reajuste de todos os medicamentos no Brasil”, escreveu o presidente na rede social. O aumento entraria hoje em vigor. Enquanto isso, cresce a corrida aos balcões das farmácias de Belo Horizonte e interior de Minas, no ritmo do temor de contaminação pelo novo coronavírus e da divulgação desenfreada de informações e falsos 'milagres' sobre a pandemia.

O risco de uma crise de abastecimento não está afastado, na avaliação de comerciantes ouvidos pelo Estado de Minas. Pelo interior do estado não é diferente.  Além da falta de álcool em gel e de mascaras cirúrgicas, que desapareceram das prateleiras diante da grande procura dos consumidores e voltaram em alguns estabelecimentos com fartos reajustes, nos últimos dias, as drogarias viram aumentar a procura pelos antigripais, encarando também o início do desabastecimento desses medicamentos. Na companhia desses medicamentos, estão, ainda, as vitaminas.

A farmácia popular, que entrega medicamentos de uso contínuo e principalmente para pessoas com patologias de alto risco ao coronavírus, já registra algumas dificuldades em repor os estoques nas drogarias privadas. Medicamentos contra hipertensão e diabetes, por exemplo, apresentaram demanda acima do normal, depois que o governo federal estendeu por um ano o prazo de validade das receitas de medicamentos controlados. Elas valiam por seis meses e os remédios eram retirados mês a mês. O paciente pode agora comprar de uma só vez e estocar quantidade para três meses.

A farmacêutica Grace Coutinho, responsável técnica e filha do proprietário das Drograrias Coutinho, com unidades na região Nordeste da capital mineira, registrou aumento significativo das vendas. “As pessoas estão meio neuróticas. Acham que vão ficar sem medicamento.” Ela sentiu também dificuldades em receber alguns produtos. “Eram entregues de um dia para o outro, estão demorando agora uma semana”, afirma. Grace disse também que alguns distribuidores têm oferecido produtos “em falta” no mercado desde que associados a outros com menor saída.

Na expectativa do aumento médio de 5% dos preços dos produtos farmacêuticos a partir de hoje, mas que foi adiado por meio de acordo do governo com a indústria farmacêutica, muitos consumidores se anteciparam e compraram em maior quantidade para ganhar no preço. “Mas o que cresceu muito foi a venda de equipamentos e drogas que melhoram a imunidade. Das vitaminas C não tenho mais estoque e não tenho encontrado nas distribuidoras, é o caso também de outras vitaminas e própolis. O que acho mais grave é o desabastecimento de medicamentos para doenças autoimunes, deixando as pessoas que realmente precisam sem possibilidade de usá-los.”

Vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG) e proprietária de duas drogarias na região Leste de BH, associadas à rede Farma, Márcia Alfena também registrou aumento na demanda dos clientes, o que atribui ao maior prazo e autorização de compra em maior quantidade dos remédios do programa Farmácia Popular. A entrega dos produtos tem demorado um pouco mais, mas ela acredita que a logística da indústria e distribuidores tenham sofrido impactos com redução do número na mão de obra. “Alguns demoram mais de uma semana para entregar.”

Distanciamento 

As pequenas farmácias, que não dispõem de estoques como as redes do setor, foram bastante afetadas pela corrida do consumidor. Dono de uma farmácia localizada no Bairro São Judas, em Montes Claros, no Norte de Minas, Alex Lima, conta que, com o distanciamento social, passou a enfrentar situações distintas em seu estabelecimento. Ele verificou, ao mesmo tempo, o aumento da procura, escassez de alguns itens e redução das vendas no geral.

O comerciante disse que nos últimos dias, aumentaram as vendas de antigripais, como paracetemol e dipirona. Ele destaca que, neste período, do outono, costuma aumentar a ocorrência de gripes comuns, o que também pressiona as vendas dos medicamentos. Até ontem não havia nenhum registro da COVID-19 na cidade do Norte de Minas.

Desde o inicio da semana passada, decreto municipal determinou o fechamento do comércio em geral, à exceção de setores essenciais, entre eles o farmacêutico. De acordo com Alex Lima, as drogarias também tiveram as vendas. “No geral, minhas vendas caíram de 20% a 30%”, calcula.

Dono de uma pequena farmácia também instalada em Montes Claros, o comerciante Danilo Evangelista disse que seu estabelecimento acabou sofrendo uma forte que das vendas porque está situado no centro comercial da cidade, onde, nos últimos dias, o movimento de pessoas foi muito reduzido.

“Minhas vendas caíram 70%, pois não tem quase ninguém transitando nas proximidades da farmácia”, lamenta Danilo. Estão escassos no estoque da farmácia, álcool em gel, máscaras cirúrgicas e antigripais. caso de máscaras, luvas e álcool em gel”.

Justificativa 

Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde da PBH informou que o atual índice de abastecimento de medicamentos das unidades de saúde de Belo Horizonte é de 94, 9%. “A dificuldade de aquisição de alguns medicamentos é justificada no mundo todo pois a aquisição de matéria-prima para produção de muitos medicamentos é em grande parte oriunda da China e da Índia. Como estratégia para garantir o abastecimento, a Secretaria Municipal de Saúde participa de mais de um processo de compras, juntamente com a superintendência de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde, e a Secretaria de Planejamento e Gestão do estado.

Sem medo da pandemia
 
Basta dar uma volta pelo Centro de Belo Horizonte para se espantar com a quantidade enorme de farmácias que existem na cidade. É que, com a determinação de fechamento dos estabelecimentos comerciais que não prestam serviços essenciais à população, boa parte das lojas que estão de portas abertas são drogarias. Comparado a uma terça-feira feira comum, dos bons tempos em que o novo coronavírus não ameaçava não só uma cidade, mas o mundo todo, o movimento pelas ruas da Região Central da capital era bem fraco ontem. O silêncio, a ausência da costumeira horda de pessoas caminhando nas calçadas e uma grande facilidade para atravessar as ruas davam o tom da nova cara de um Centro nada nervoso de BH.

Apesar da recomendação de que os idosos deveriam se proteger ainda mais, não foi difícil encontrar alguns senhores de cabeça. Com 68 anos de idade e diabético (o que o deixa ainda mais vulnerável em caso de contágio pela COVID-19), o aposentado Ilacir Dos Santos foi ao Centro da cidade para levar o celular ao conserto. Chateado por não encontrar lojas abertas para colocar o telefone em uso novamente, Ilacir afirma que não teme a doença, não está tomando cuidados especiais e que, se tiver que pegar a doença, vai pegar de qualquer jeito.

O aposentado Wilter Silveira, de 80, garante que vai sempre ao Centro e que achou tudo muito parado ao seu redor. Foi a filha quem levou Wilter de carro para ir ao banco. “A dengue mata mais”, compara. Outro senhor de 80 que caminhava pela Região Central de BH foi Saint Claire Rocha Cruz, que tem uma empresa de próteses dentárias no Edifício Mesbla, perto da Praça Rio Branco, e está acostumado com o movimento dali. Ele, que também foi ao Centro para ir ao banco, disse que a ameaça do coronavírus forçou a empresa a fechar temporariamente, mas ele não está gostando nada de ficar em casa.

A despeito do baixo contingente de famintos nas ruas, várias lanchonetes continuam a funcionar. Mas, já não é possível entrar e pedir o lanche no balcão. Na porta de várias lanchonetes, uma correntinha de plástico sugere que os clientes façam o pedido e paguem da calçada mesmo. Rodrigo da Silva Santos trabalha em um estabelecimento na Rua dos Tupinambás e garante que o movimento está tão baixo que nem precisa organizar fila em frente ao caixa, já que elas não chegam a se formar.
Funcionário de um açougue, José Ângelo Ferreira garante que o movimento caiu 80%. “Nessa loja aqui trabalhavam oito, hoje somos quatro. Por enquanto os outros estão de férias, mas, se continuar assim, acho que vai ter demissão”, avalia. A respeito da forma de atendimento, se a ameaça da doença exigiu algum cuidado especial, José garante que seu time é “democrático”, todos são bem-vindos e os clientes mesmo se organizam para não criar aglomeração, apesar de o movimento fraco não provocar essa situação. 
 

Saiba Mais

 

Milhares de cestas básicas 

Pais e responsáveis por alunos matriculados em escolas da rede municipal de ensino e creches parceiras na capital começaram a receber ontem cestas básicas (foto) distribuídas pela Prefeitura de Belo Horizonte. Por volta das 8h, já havia fila em uma das lojas da rede de supermercados que faz a entrega dos mantimentos às famílias. De acordo com a PBH, mais de 140 mil famílias receberão o auxílio no período em que as aulas do ensino municipal estiverem suspensas por causa do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. Ao todo, serão 12 itens alimentícios entregues para cada família, entre eles arroz, açúcar, feijão, fubá, macarrão e leite em pó. O Executivo municipal garantiu que o beneficio será mensal.

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