Brasil

MG tem 105 vezes mais casos suspeitos de Covid-19 do que confirmados

Por falta de testes, subnotificação do novo coronavírus pode tornar a restrição social menos eficaz no Brasil

Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 11:18
As igrejas mineiras, como as de Ouro Preto, estão vazias e são desinfectadas durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19)A Funerária Santa Casa Belo Horizonte informou ter enterrado 16 pessoas com suspeita do novo coronavírus nos últimos 10 dias. Até o fim da manhã desta quinta-feira (2/4), porém, Minas Gerais contabilizava seis mortes provocadas pela Covid-19. É que 53 óbitos estão em investigação para saber se a causa mortis teve relação com a doença.

Com 370 casos confirmados, o estado mineiro é o quinto com mais registros oficiais no Brasil. Em compensação, Minas conta com um número 105 vezes maior de casos suspeitos. Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, o estado tem 39.084 casos suspeitos do novo coronavírus.

A discrepância entre a quantidade de pacientes confirmados e suspeitos podem dar uma mostra das subnotificações em relação à real situação do país na pandemia. O mesmo ocorre com as mortes em investigação, que, segundo o governo mineiro, "são óbitos suspeitos de Covid-19 que aguardam a realização de exames laboratoriais e levantamento de informações clínicas e epidemiológicas”. 

Anselmo Nunes de Lima, coordenador administrativo da Funerária Santa Casa Belo Horizonte, esclarece que os 16 corpos que chegaram recentemente na funerária com “síndrome respiratória aguda grave” na declaração de óbito também podem ter morrido por pneumonia, tuberculose ou outros motivos. 

"Até o momento, foram notificados 79 óbitos suspeitos, sendo 20 descartados para a Covid-19", informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, nesta quinta-feira. Por todo o país, porém, os relatos de especialistas sobre o aumento de pacientes com sintom.

O Governo de Minas Gerais ampliou a rede de testes para o novo coronavírus. Único laboratório público no estado, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) habilitou ontem 19 laboratórios a realizarem o diagnóstico para identificação da Covid-19. A previsão é que 1.800 amostras passarão a ser processadas por dia.

“Com uma maior celeridade no diagnóstico dos exames, é possível, por exemplo, tomar decisões em tempo oportuno, que venham contribuir para mitigar os efeitos da pandemia em nosso estado”, disse o vice-presidente da Funed, Rodrigo Leite.as da Covid-19 se multiplicam, mas os números de casos oficiais não sobem no mesmo ritmo. 
 
 

Autoridades brasileiras reconhecem subnotificação da Covid-19


“Há uma testagem represada, e esses números vão crescer muito até o fim de semana que vem. Está muito menor que os números que estão circulando na sociedade. Eu não tenho como estimar. O que aumenta em muito a necessidade de a gente ter muito mais cuidado para segurar (o isolamento social)”, reconheceu o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em coletiva de imprensa dada na quarta-feira (1/4). 

De acordo com balanço as Secretarias de Saúde, atualizado às 7h40 desta quinta-feira, o Brasil soma 6,9 mil casos confirmados do novo coronavírus. Mas um levantamento do G1 mostrou que, ao menos, 23 mil testes da doença esperam por resultado em 11 estados brasileiros, que responderam à reportagem (Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo).

Para tentar ter uma dimensão mais realista do estágio da pandemia no Brasil, o Ministério da Saúde terá 5 milhões de testes rápidos, adquiridos pelo órgão e por doação da Vale. O primeiro lote, com 500 mil testes, começou a ser distribuído no país na quarta-feira (1/2).

Com isso, o Ministério da Saúde prevê um aumento considerável no número de pessoas confirmadas com a Covid-19 no Brasil. No primeiro momento, a aplicação dos testes será feita em profissionais de saúde e de segurança que estejam com sintomas da doença. Outra parte servirá para verificação dos casos graves e mortes.  


 

Metade das pessoas com novo coronavírus é assintomática


Um estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (London School of Hygiene and Tropical Medicine), na Inglaterra, publicado em 22 de março (quando o Brasil contabilizava 77 casos confirmados), apontou que o maior país sul-americano detectava, em média, 11% dos casos sintomáticos de Covid-19. O que significa dizer que apenas uma em cada dez pessoas com o vírus no Brasil entrava nas estatísticas oficiais do governo há 11 dias.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem recomendado aos países fazerem testes em massa para detectar os contaminados e isolá-los mais rápido. Nessa linha, uma pesquisa realizada na Islândia fez exames em massa na população, incluindo pessoas que não apresentavam qualquer sintoma da doença e não tiveram contato com quem testou positivo.

O resultado do estudo da empresa de pesquisa médica DeCode Genetics, em parceria com o governo islandês, foi que metade das pessoas que contraem o novo coronavírus é assintomática. Se por um lado, os indícios do estudo apontam que o grau de letalidade da Covid-19 é mais baixo do que o contabilizado atualmente; por outro, alerta para uma taxa de contaminação ainda mais alta.

Apesar de preliminar, o estudo islandês aponta resultados que vão ao encontro de outro feito pela Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, de Nova York, nos Estados Unidos. A pesquisa norte-americana mostra que o motor da pandemia é justamente as pessoas contaminadas que não apresentam sintomas.

"Apesar dos pacientes que desenvolvem a doença serem duas vezes mais contagiosos, os assintomáticos chegam a ser seis vezes mais numerosos mesmo com propensão menor a infectar outros", explicou Jeffrey Shaman, médico que coordenou o grupo de cientistas nos Estados Unidos. 

O estudo foi baseado em análises dos casos da Covid-19 registrados em Wuhan, epicentro da epidemia na China, antes do toque de recolher, em 23 de janeiro.

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