Com cada vez mais casos registrados nos estados brasileiros, as apostas são de prolongar as medidas de distanciamento social. Entre os políticos que encabeçam a defesa da medida contra a Covid-19 está o governador de São Paulo, João Doria. Ontem, em coletiva de imprensa, o governador reiterou a eficácia das medidas adotadas no estado e renovou o decreto que determina o isolamento por mais 15 dias, mantendo as medidas até 22 de abril.
No pronunciamento, Doria deixou claro que a preservação da vida é a prioridade de sua gestão. E explicou como foram embasadas as decisões tomadas até o momento por seu governo. “Quero dizer que não pauto as minhas ações por populismo. Pauto as minhas ações pela verdade e pela ciência. Desde o início desta crise, todas as iniciativas do Governo do Estado de São Paulo, assim como todas as iniciativas da prefeitura da capital de São Paulo são amparadas na ciência, na opinião médica, naqueles que conhecem e daqueles que têm conhecimentos. Nós não fazemos achismos e nem fazemos medidas que não estejam amparadas na verdade e na informação científica”, disse em tom defensivo.
Doria chegou a alfinetar o presidente Jair Messias Bolsonaro, com quem vem se desentendendo desde o início da crise causada pelo vírus. “Será que um único presidente da República no mundo é o certo? É quem detém o poder, a capacidade, a ciência e o conhecimento para discordar do mundo? Do mundo que quer proteger vidas? Do mundo que quer salvar pessoas?”, questionou o governador. O governador chegou ainda a citar o papa Francisco: “Lucros podem esperar, a vida vem antes do lucro, dinheiro tem que servir, não governar”.
Durante mais de uma hora, especialistas na área médica destacaram a importância de manter o isolamento. E caso essa medida não fosse adotada, o número de mortes no estado poderia chegar a 5 mil até o dia 13 deste mês. Com o isolamento, segundo o governo do estado, a estimativa de número de óbitos deve cair para 1,3 mil pessoas.
“Estamos no momento de observar os resultados benéficos, tanto em dados provenientes do estado de São Paulo, do município de São Paulo e mais especificamente de locais onde cada um de nós trabalha”, ponderou o professor doutor de infectologia do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Fernando Aranha. Os especialistas destacaram, ainda, que a situação não está sob controle e as medidas de isolamento devem ser mantidas para evitar o crescimento na curva de contágio.
Doria não descartou a possibilidade de aumentar o rigor das medidas e exaltou os esforços lançados para achatar a curva de contágio. Até agora, o coronavírus atingiu 100 cidades e 400 municípios do estado.
Brasil afora
Único estado sem registro de morte até então, o Acre confirmou o primeiro óbito ontem. Devido à crise que se alastra pelo país, outros governadores também renovaram as medidas de isolamento. No Rio de Janeiro, primeiro estado a tomar as medidas de distanciamento, a Secretaria de Saúde informou que, além dos 548 recém-inaugurados e dos 3.484 com os quais a rede estadual já contava (sendo 904 de UTI), outros 1.900 leitos em hospitais de campanha para combater a Covid-19 serão entregues até o fim de abril. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria, a recomendação é manter o distanciamento social, pois as próximas duas semanas serão chaves para definir as próximas medidas. O decreto foi prorrogado até 15 de abril pelo governador Wilson Witzel (PSC).
No Rio, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros atuam em vias urbanas, praias, parques e outros locais de atratividade coletiva, para apoiar os demais órgãos públicos e garantir o cumprimento do decreto governamental. Segundo a assessoria de imprensa do governo do estado, nos próximos dias, será possível avaliar a curva de contaminação e estabelecer quais medidas deverão ser adotadas.
No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha prorrogou as medidas decretadas que, em sua avaliação, deixaram a situação do DF controlada até agora. Sobre as aglomerações pela capital, a assessoria de imprensa do GDF afirmou que o governador não decretou toque de recolher e que a orientação é para que as pessoas fiquem em casa, ressaltando, no entanto, que não há proibição para andar nas ruas.
Praças cercadas
No Amazonas, o governo usa carros de som para reforçar a importância do isolamento. No estado, as medidas estão previstas até 15 de abril. Em Minas Gerais, a Praça Juscelino Kubitschek, no bairro Sion, e a Praça da Liberdade, no bairro Funcionários, ambas localizadas na região Centro-Sul da capital mineira, foram cercadas para evitar aglomerações. Minas decretou estado de calamidade pública no dia 20 de março.
No Ceará, o governador Camilo Santana decidiu prorrogar o decreto até o dia 20 deste mês. No último sábado, o estado já acumulava mais de 740 casos e 23 mortes decorrentes da doença.
Médico David Uip faz depoimento emocionado
De volta ao trabalho, David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 do estado de São Paulo, agradeceu a Deus por estar vivo e deu um relato emocionado sobre sua experiência com o coronavírus. "Há dois domingos eu me senti muito mal, pessoal da televisão quis me entrevistar, eu não consegui falar. Eu estava extenuado. De domingo para segunda, eu passei muito mal e na segunda de manhã fui fazer o exame e a tomografia. O exame deu positivo e a tomografia, normal. Na semana que se seguiu, foi de extremo sofrimento. E na segunda seguinte, eu voltei a fazer o exame e a tomografia. Apareceu a pneumonia. Este sentimento de você se ver, como médico infectologista, com pneumonia, sabendo que, muito provavelmente, entre 7 e 10 dias, você ia complicar. Quero dizer que foi um sentimento muito angustiante. Você ir dormir, não sabendo como ia acordar. Felizmente, Deus me ajudou e venci a quarentena.”
Transição para isolamento mais brando
O Ministério da Saúde sugeriu, ontem, no boletim epidemiológico, que a partir do dia 13, parte dos estados e municípios comecem a migrar para o distanciamento social seletivo, conhecido como isolamento vertical. A sugestão é válida para lugares em que os casos confirmados do novo coronavírus “não tenham impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia”. O número de mortes e casos confirmados do novo coronavírus registrados nas últimas 24 horas voltou a crescer.
“A partir de 13 de abril, os municípios, Distrito Federal e estados que implementaram medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento Social Seletivo (DSS)”, diz o documento divulgado pela pasta.
O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, explicou, no entanto, que a mudança precisa ser feita com cuidado. “Fazer transição dos isolamentos depende de condicionantes de saúde, como EPIs (equipamentos de proteção individual), respiradores mecânicos, testes laboratoriais e leitos em quantitativo suficiente”, pontuou.
Em pronunciamento, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, voltou a defender que a população siga a orientação dos governos estaduais. “Enquanto não tivermos estoque de EPIs, estoque de respiradores e possibilidade de mudarmos as recomendações, nós reforçamos que devem ser seguidas as orientações dos senhores governadores dos estados”.
No Brasil, Distrito Federal, Amazonas, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro possuem coeficiente de incidência superior à taxa nacional, de 5,7 por 100 mil habitantes. O coeficiente de incidência do DF é a maior do país: 15,5 por 100 mil habitantes. Oliveira acredita que Brasília está atenta à realidade local e tem um bom plano de preparação, pois reforçou as medidas de contenção social. “Sou cidadão do Distrito Federal, moro aqui e tenho visto que as pessoas têm saído mais aqui. Esperamos que as pessoas compreendam a necessidade do afastamento social. Isso é temporário e o governo do DF é o responsável pelas instruções a sociedade local. As pessoas devem seguir as orientações das autoridades de saúde competentes do seu estado e do seu município”, destacou.
Casos
De ontem para hoje, 926 novos casos foram confirmados e 67 mortes. (Veja arte). Com isso, o Brasil tem, atualmente, 12.056 casos confirmados e 553 óbitos pela Covid-19. A taxa de letalidade continua a subir e é de 4,6%. O Brasil é o oitavo país com a taxa de letalidade mais alta no mundo, perdendo somente para Espanha, Itália, França, Irã, Reino Unido, Bélgica e Holanda.
O Sudeste segue sendo a região com maior número de casos confirmados, 7.046. Em seguida, estão o Nordeste, com 2.167 casos; o Sul, com 1.318; o Norte, com 791; e o Centro-Oeste, com 734.
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