Os propulsores da ideia foram os empresários Daniel Lopes, dono da 3D Lopes, uma empresa de impressão 3D e Carlos Ribeiro, fundador do Faz Makerspace, espaço desses em que protótipos e ideias se materializam em impressão tridimensional e máquinas de corte a laser. Daniel conta como tudo começou: "Encontramos um projeto, disponibilizado gratuitamente na internet por designers da República Tcheca, e imprimimos as primeiras 30 peças para doar para o Hospital das Clínicas".
A partir daí, houve aumento da demanda e os dois decidiram acionar a rede de makers e fablabs de Minas Gerais, a Trem Maker, criada a princípio para divulgar a cultura desses espaços, ligados a universidades ou geeks entusiastas, onde brotam criação, inovação e tecnologia.
Duas semanas depois, a produção havia saltado de 30 para 300 escudos protetores ao dia - a capacidade atual da rede é de 500 unidades diárias, e o processo também é lento pois é preciso haver adequações técnicas de padrão para a produção. O movimento hoje conta com 100 voluntários cadastrados.
"Como a impressão 3D é ainda um processo lento, entendemos que acionar a rede seria a maneira de ganhar escala. Em produção, aproximadamente 80 impressoras estão em atividade, para criar as peças que chegam aqui todos os dias, onde fazemos a montagem e a triagem", conta Carlos Ribeiro.
A médica Adriana Franca Araújo Cunha, especializada em infectologia e controle de infecção hospitalar, atuou como consultora para as máscaras made in Minas, desde o princípio. "A construção tem a regra da ABNT, parâmetros da Anvisa e fizemos avaliação da produção, para ver se estava dentro dos critérios. O escudo de rosto tem maior durabilidade e não é material crítico, não tem contato direto com vias respiratórias ou sangue, não precisa portanto ser esterilizado, mas sim higienizado com água e sabão e álcool 70%. E ele não pode ser poroso, tem que resistir ao álcool", detalha a médica.
Por dentro do makerspace
Máscaras embaladas com rótulos de diversos hospitais da capital mineira estavam sobre a mesa na manhã em que nossa reportagem visitou a Faz Makerspace, espaço que funciona em um sobrado na Avenida Afonso Pena, no Bairro Funcionários, Região Centro Sul de Belo Horizonte. Dali, seguiriam para a entrega na parte da tarde.
No segundo andar do espaço, impressoras 3D seguiam a todo o vapor, na feitura, como que por mágica, dos suportes do escudo. A alça que se ajusta na cabeça do profissional de saúde e também a base do equipamento, que garante a curvatura do acetato, são impressas em 3D. Em vez de tinta, a impressora usa um polímero, no caso o PETG, recomendado para uso em setores como saúde e alimentação. A partir do projeto tridimensional no computador, o bico da impressora vai depositando, em uma plaquinha, o material. Em aproximadamente quatro horas, a alça está pronta.
Enquanto isso, na oficina, o técnico Rafael Braga da Costa trabalhava na máquina de corte a laser, preparando os acetatos para o encaixe - aquela parte transparente do escudo. A partir de projeto no computador, a máquina gera o corte com as bordas arredondadas do material que vai proteger o rosto de médicos e enfermeiros. O bico fumegante da máquina faz também os furinhos na placa, para propiciar o encaixe das alças impressas em 3D.
"Em meio a tanto pânico que está rolando, a gente consegue fazer uma coisa diferente, consegue mudar a situação um pouco, para ajudar. Então, em vez de ficar só em casa, parado, a gente contribuir com uma solução para o problema é muito gratificante nessa situação", orgulha-se Rafael.
Quem cuidava da montagem, na manhã em que visitamos o espaço, era a dentista Luísa Nascimento Bicalho. Com a habilidade manual de seu ofício, somava esforços ao trabalho voluntário, polindo as peças e unindo as duas coisas: a parte impressa tridimensionalmente em polímero e o acetato cortado a laser: "Quando a gente entende que tem uma demanda mundial para esse tipo de equipamento de proteção, não pode ficar em casa parado só assimilando tragédia e pensando no que vai ser do mundo. Precisamos colocar a mão na massa".
Ampliação da rede
Agora, a fase é a de convocação a novos voluntários que têm máquinas de impressora 3D em casa e desejo de contribuir. O processo de adequação também leva um tempo, já que cada produtor é avaliado e recebe orientações de higienização para se adequar. A mesma plataforma que recebe cadastro de voluntários concentra também os pedidos das instituições de saúde. E, como se pode imaginar, o crescimento tem sido vertiginoso.
Saiba Mais
A rede de colaboração inclui instituições e empresas como a Trem Maker, a 3D Lopes, o Faz Makerspace, a Hotmart (que dispôs fundo de R$ 1 milhão para projetos como este), a Newton, o Laboratório Aberto, a UFMG, a Fiocruz, o Uni-BH, o Apubh (Sindicato dos professores de universidades federais) e o Sindifes (Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais e de Ensino).