Brasil

De volta para casa, casal brasileiro relembra apuros na África do Sul

Advogados desembarcaram em Confins nesta terça-feira depois de dificuldades para voltar ao Brasil

Aliviada, mas ainda tensa, por tudo que passou. Assim a advogada Marina Machado, de 27 anos, que foi repatriada junto com seu noivo, Israel Gatezani, de 29, também advogado, da África do Sul, na segunda-feira. O casal desembarcou no Aeroporto de Confins, na manhã desta terça-feira, depois de passarem a noite acordado, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

“O martírio não acabou”, conta Marina, sobre a chegada ao Brasil. “Olha, ainda na Cidade do Cabo, foram 10 horas de espera para ter a certeza de que viajaríamos de volta ao Brasil. A ida para o consulado, para o estádio, passar por exame de temperatura para certificar que não estávamos infectados, a espera dentro do ônibus. Somente quando entramos na fila do embarque é que tivemos a certeza de que iríamos voar".

No voo, ainda momentos de tensão, por causa da fome, segundo ela. “Olha, tomamos café da manhã, saímos do hotel, fizemos apenas um lanche, em que nos deram um sanduichinho e uma fruta. No aeroporto da Cidade do Cabo, não comemos nada. Estava tudo fechado. Depois de levantar voo, anunciaram um lanche. Teríamos que optar, carne de boi ou frango ou um prato vegetariano. Essas eram as opções.”

A fome, segundo Marina, era grande. “Estava varada de fome. Ficamos na metade do avião e quando foram nos servir, disseram que não tinha mais carne de boi e nem de frango. Só o vegetariano. O Israel comeu, mas eu não. Aquilo não iria me sustentar. Precisava de proteína.”

Marina esperou as luzes se apagarem. Decidiu arriscar. Levantou-se e foi até uma aeromoça contanto que não comia desde cedo e que precisava de proteína. “Acho que ela ficou com dó de mim e não é que me deu um prato com frango. Nossa, que alívio.”

Na chegada a São Paulo, foram direto para o guichê da Latam, para providenciar o voo para Belo Horizonte. Seus pais haviam comprado duas passagens. O voo, às 7h. E já era 1 da madrugada de ontem.

“Pensamos e ir para um hotel, mas o que olhamos, custaria R$ 160 e com banheiro no corredor. Aí, resolvemos ficar no aeroporto mesmo. Haviam muitas pessoas que regressaram da África do Sul, no mesmo voo que a gente. Eram passageiros para BH e Porto Alegre. Ficamos ali conversando, até chegar a hora do embarque. Também, o check-in estava marcado para as 5h. Então, não daria para arriscar ir para um hotel”, diz.

E às 7h, o avião levantou voo. Chegaram a BH antes das 9h, tomaram um táxi e foram para um apartamento, emprestado por um tio dela, no Bairro Bandeirantes. Vão fazer quarentena.
 
Israel disse estar aliviado. “Eu tomo remédio controlado e só daria até a próxima sexta-feira. Fiquei muito preocupado. Mas agora estou em casa e já falei com o médico. Tudo resolvido.”

E Marina já voltou à sua rotina. “Cheguei e avisei meu chefe. Ele já me passou dois processos que precisavam se analisados ainda hoje. Olha, cheguei cansada, mas não tem importância, pois sei que estou empregada. Numa época como essa, é muito importante ter essa situação”, conta ela, depois de ter dormido a manhã toda e parte da tarde.

Lembranças


Mas Marina acordou pensando na África do Sul. “Acho que nunca mais vou esquecer. Quando fomos pra lá, a intenção, além de estudar inglês, era também de passear, conhecer lugares, parques, praias. Mas nada disso aconteceu. Nem mesmo o curso foi até o final.”

Saiba Mais

E vieram os momentos de tensão. “Ao invés de aproveitarmos, vivemos dúvidas, incerteza, medo. Primeiro não sabíamos como sair de lá. Depois, ficamos desamparados e tivemos que bancar as despesas de hospedagem e alimentação, o que não estava previsto na saída do Brasil. E ainda teve o problema do Seguro de Saúde, que tivemos de renovar de lá. Não tínhamos a certeza de que conseguiríamos. Pessoas que estavam com a gente diziam que não conseguiam fazer a renovação. Mas no último dia, conseguimos. Foi o primeiro grande alívio. Já pensou ficar doente lá, sem um seguro? Esse o medo maior. Não era nem ficar preso lá”, conta Marina.

“Mas o bom foi ter voltado para casa. A vontade de voltar era por poder ter a família perto, o conforto de casa, os amigos. Mesmo que a gente não vá encontrar, mas a gente se fala e sabe que estão próximos. Isso é o que vale”, diz Marina aliviada.