Correio Braziliense
postado em 10/04/2020 06:00
Em 2009, a obra do hospital regional foi interrompida após irregularidades observadas pelo governo federal. Até então, a competência pela execução da obra era da prefeitura da cidade. Em 2013, passou para o governo estadual. Ainda assim, a construção veio se arrastando e não foi entregue pela antiga gestão estadual, dos ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton, apesar de já ter tido até uma das etapas inauguradas. Em 2018, foi novamente paralisada.
No ano passado, o governador Ronaldo Caiado assinou uma ordem de serviço com o prefeito Hildo do Candango, na qual garantia previsão de entrega do hospital no primeiro semestre deste ano. E estimou que seriam necessários mais R$ 25 milhões para a conclusão – mais que o dobro do valor a ser investido no hospital de campanha, R$ 10 milhões. Há quatro meses, a obra parou novamente.
O secretário de Saúde da cidade, Eduardo Rangel, afirma que a empresa contratada não estava conseguindo executar a obra, e que, por isso, foi necessário romper o contrato e buscar outra empresa. De acordo com ele, o processo licitatório está em curso. O hospital já está 80% concluído e Rangel garante ser possível terminar a obra em 120 dias.
Escolha
Já o hospital de campanha deve começar a funcionar em um mês, sendo 15 dias para as obras e mais 15 para equipar e deixar pronto para receber pacientes com diagnóstico confirmado ou suspeito de Covid-19. As obras tiveram início na terça (7).
Vale destacar que a unidade não será “porta aberta”, ou seja, receberá somente aqueles pacientes regulados de outras unidades de Saúde. A prefeitura fornecerá três ambulâncias e garantirá exames laboratoriais e de imagem. Também como contrapartida, a prefeitura concedeu o lote e realizou as obras de terraplanagem.
Águas Lindas possui apenas um caso confirmado da doença, dois suspeitos e cinco monitorados. O ministro da Saúde, Henrique Mandetta, disse que a cidade foi escolhida para receber o hospital após pedido de Caiado. Já o secretário de Saúde da cidade, Eduardo Rangel, afirma que a escolha se deu pelo fato de a região não ter cobertura para leito de UTI.
Moradores são contra
Parte da população de Águas Lindas tem questionado a construção do hospital de campanha na cidade. Isso porque eles avaliam que o hospital regional, que nunca foi concluído, após 15 anos de obra, poderia ter a sua estrutura utilizada. Assim, segundo os moradores, com o fim da pandemia, o município teria, finalmente, a unidade concluída.
A diarista Soraia Avelino Maciel, de 42 anos, questiona o gasto de R$ 10 milhões em um hospital temporário, enquanto a unidade de saúde regional tem 80% das obras finalizadas. “Esse dinheiro deveria ser investido lá”, reclama. O secretário de Saúde da cidade, Eduardo Rangel, afirmou que, por questões de saneamento básico, não foi possível usar a estrutura do hospital regional para receber, de forma emergencial, os pacientes com Covid-19.
O bairro onde o hospital regional está localizado, segundo ele, já possui rede de esgoto, mas ainda não foi ligada. Por outro lado, no local onde está sendo levantado o hospital de campanha, há rede de esgoto e água encanada, destacou. Rangel afirma que, mesmo que a unidade existente pudesse receber pacientes, ainda assim, o ideal seria construir um hospital de campanha para atender, exclusivamente, a pessoas com o novo coronavírus.
A comerciante Andreia de Souza Marques Araújo, 44 anos, diz que se os governos tivessem se preocupado com a estrutura antes de a pandemia começar, o Entorno do DF teria uma unidade de alta complexidade pronta. “Eu sou favorável a esse hospital de campanha, porque a gente não tem unidade que consiga atender. Mas se desse para ser algo definitivo, seria melhor”.
Vizinhança
Moradores também dizem temer o grande fluxo de pessoas contaminadas pelo coronavírus na cidade. A vendedora Ana Paula Nogueira, de 25 anos, afirma que todos estão preocupados. Ela também questiona a falta de utilização do hospital regional. “Poderiam pegar esses R$ 10 milhões para investir lá. Aí, ia ser definitivo”.
Eliane Cortes, 34, mora a apenas a alguns metros do futuro hospital de campanha e afirma que tanto ela quanto os vizinhos estão assustados, com medo de serem contaminados pela doença, devido à proximidade entre as casas e a unidade de saúde emergencial.
O secretário de Saúde do município, Eduardo Rangel, garante, no entanto, que a estrutura é segura, e que não há risco de contaminação da população local.
A reportagem questionou à SES-GO sobre a situação atual do hospital regional, quando será concluído e o motivo pelo qual a unidade não poderia ser utilizada para receber, de forma emergencial, pacientes com coronavírus, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
O Ministério da Saúde também foi questionado sobre valores destinados ao hospital inacabado e sobre o motivo de a unidade não poder ser usada emergencialmente, mas o órgão informou que a resposta será enviada somente na segunda-feira (13/4).
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