Brasil

Isolamento perde força

Com aumento da circulação de pessoas nas ruas e abertura de comércios, capitais têm registrado afrouxamento da quarentena. Em São Paulo, onde índice caiu de 54% para 49%, o governador João Doria ameaçou aplicar multas e prender quem desobedecer

Correio Braziliense
postado em 10/04/2020 04:03
Trânsito intenso e aglomerações nas praias: Rio de Janeiro teme colapso do sistema de saúde. Governo pretende estender o isolamento até 28 de abril



Quase um mês e meio após o Brasil registrar o primeiro caso de coronavírus, a quarentena começa a fracassar em diversos estados. A situação mais preocupante, no momento, é em São Paulo, onde 51% das pessoas não estão confinadas em casa. No maior estado do país, com 40 milhões de habitantes, de acordo com o governo, pelo menos 70% da população deveria estar em casa para que as medidas sejam efetivas. O Rio de Janeiro pretende estender o isolamento até 28 de abril. Atualmente, 2,2% dos profissionais de saúde estão afastados em razão da epidemia e o temor é que essa taxa chegue a 20%, o que pode significar o colapso do sistema.

Registrando 2 milhões de automóveis nas vias, o governador de São Paulo, João Doria, avalia iniciar um rodízio para impedir o aumento súbito da circulação de pessoas. Vale destacar que o governo paulista fez uma parceria com operadoras de celular, na qual a localização dos aparelhos permite entender qual a parcela da população está, de fato, em isolamento.

Há algumas semanas, o número de pessoas que permaneciam em casa chegou a 54%, ainda abaixo do recomendado. “Ontem, 8 de abril, tivemos 49% de isolamento, nossa meta é 70%, então estivemos muito abaixo do necessário”, disse Doria, em coletiva. Ele informou que se o isolamento social não atingir 60% da população até a próxima segunda-feira (13), adotará medidas mais severas, como aplicação de multa e até mesmo a prisão de quem circular pelas ruas sem necessidade.

Em entrevista à emissora GloboNews, o governador fez um apelo para que as pessoas fiquem em suas residências até que se reduza a curva de avanço da doença. “Se não elevarmos o isolamento social para até 70%, teremos milhares de pessoas mortas dentro de duas ou três semanas. Eu não quero ser dramático, aliás, esse não é o meu perfil. Mas tenho a obrigação, como governador, de alertar de que este é o risco real. Por favor, respeitem a vida, a sua vida e de seus familiares, das pessoas que você quer bem”, pediu.

O secretário da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, afirmou que, apesar da queda no isolamento, é a quarentena que tem contido o aumento exacerbado de casos. “Se nós não tivéssemos feito o isolamento social, teríamos 10 vezes mais pacientes portadores da virose do que temos hoje”, disse.

Ceará preocupa
No resto do país, a situação não é diferente. Em Belém, os shoppings fecharam e apenas serviços essenciais funcionam. Mesmo assim, as pessoas seguem nas ruas, onde realizam atividades físicas em grupo e lotam supermercados. O Ministério da Saúde reforçou, ontem, o alerta sobre a necessidade de isolamento social nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus e Brasília. As capitais registram os maiores índices de contaminação e quadro vulnerável para expansão acelerada de casos e mortes nas próximas semanas.

No Nordeste, a situação seria mais tranquila se não fosse pelo Ceará. O estado registra 1.425 casos confirmados e 73 mortes, sendo a terceira unidade da federação com maior número absoluto de pessoas infectadas, ficando atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em Fortaleza, são mais de 1.200 casos confirmados e 37 óbitos.

Um estudo conduzido pelo Grupo de Sistemas Complexos, do Departamento de Física, da Universidade Federal do Ceará (UFC), aponta, porém, que o distanciamento social, intensificado no estado desde a segunda quinzena de março, está desacelerando a doença. O levantamento mostra que, se o governo local não tivesse decretado o isolamento no dia 19 de março, o número de quase 1,5 mil infectados no estado teria sido alcançado antes do dia 25 do mesmo mês.


70%

da população deveriam estar em casa, recomenda o governo de São Paulo

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