Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 17:32
O medicamento secreto alardeado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), nesta semana, como milagroso no combate ao novo coronavírus, já foi testado por cientistas chineses. O princípio ativo nitazoxanida se mostrou pouco efetivo e mais tóxico do que outras drogas, segundo artigos publicados na China. Para especialistas brasileiros, é preciso fazer estudos clínicos para comprovar o efeito do remédio contra o novo coronavírus.
Depois de anunciado pelo ministro Marcos Pontes, de forma alarmista e irresponsável, segundo a comunidade científica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma norma proibindo a venda de medicamento à base de nitazoxanida sem receita médica especial. A droga é comercializada em forma de vermífugo com o nome de Annita.
O médico infectologista Julival Ribeiro, que está lendo todos os artigos publicados sobre a nitazoxanida, ressaltou que a pesquisa é inicial. “Mas já mostrou que deu problema de maior toxidade”, afirmou. “Até agora, não tem nada dizendo que a droga deve ser usada para tratar coronavírus”, ressaltou. O especialista disse que vai aguardar os estudos clínicos, randomizados e duplo cego (quando não se sabe em quem foi administrada a droga ou o placebo). “Há processos ético e científico a serem respeitados”, assinalou.
A médica infectologista Eliana Bicudo, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), disse que existe um estudo em fase inicial, já em curso, para pacientes não graves. “Essa conversa de 94% de eficácia in vitro não é nada científica. A gente não pode divulgar essa eficácia”, alertou. Segundo ela, é apenas mais uma droga em estudo, porque tem ação antiviral. “É indicada para diarréia provocada por rotavírus”, explicou.
Saiba Mais
O tempo de tratamento com a nitazoxanida é curto, apenas para avaliar a resposta viral. “No paciente que chega com carga viral elevada, é usada de três a cinco dias para ver se a carga cai, ou seja, se conseguiu clarear o vírus. Porém, a melhora clínica vem bem depois, porque já inflamou o pulmão”, detalhou.
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