Teich prometeu acelerar a troca de informações para propor soluções e retomar a confiança da população. “O que vai nortear a gente é a informação”, pontuou, frisando a importância de uma integração maior entre os ministérios.
Antes mesmo de se tornar ministro, ele já enfatizava a preocupação com a escassez de dados de qualidade sobre a Covid-19 em seus artigos. “A situação do gestor de saúde é muito difícil, porque ele precisa tomar decisões duras usando informações e projeções que apresentam grande incerteza”, escreveu em um deles, publicado em 24 de março.
Com detalhamentos em mãos, segundo Teich, o processo adotado será de “olhar o que está faltando e desenhar um programa”. “Quando você tem um número, sabe o que acontece; as soluções vêm quase naturalmente”.
Para que isso ocorra, conforme observou, há a necessidade de se trabalhar com os estados e municípios para que se tenha agilidade. “Com tanta incerteza, você não consegue planejar muito na frente. Tem que analisar todo dia o que está acontecendo, ver o que aconteceu ontem, fazer um diagnóstico, planejamento e executar”, orientou.
O ministro lembrou que, agora, o país entrará em um período –– outono e inverno –– em que outras doenças aparecem com força, como a Dengue e a iifluenza, e que isso tende a sobrecarregar o Sistema Único de Saúde (SUS). Teich ressaltou que é preciso acompanhar a evolução das doenças com informações de qualidade, bem detalhadas, e com a integração de equipes. “É uma coisa que eu pretendo trazer de forma mais intensa nessa transição de um ministro para outro”, afirmou.
Economia
Teich também ressaltou a importância de atenção às questões econômicas neste momento de crise. “Porque se a gente tiver mais desemprego, pessoas vão perder o plano de saúde e isso vai impactar no SUS”, avisou.
Como estratégia para diminuir o avanço da pandemia no atual cenário, e alinhar-se ao presidente, Teich chamou a atenção para outras preocupações de saúde. De acordo com o ministro, a Covid-19 é foco das preocupações, mas que é importante não deixar de lado as demais doenças, e que é preciso acompanhá-las com a mesma intensidade –– “mesmo que não se fale tanto nelas”.
“Se você tem menos disponibilidade de serviços de diagnóstico, será que você não vai prejudicar o diagnóstico de pessoas com câncer? O que isso vai representar lá atrás, quando você reduz a atividade? Não é (atividade) da economia, é (atividade) dos serviços. O que vai acontecer quando a pessoa fica em casa com medo de ir ao pronto-socorro, infarta e não chega a tempo no hospital?”, questionou.
"Cotoveladas" quebram o gelo
Foi um cumprimento de cotovelo, adotado para manter o distanciamento social em meio à pandemia do coronavírus, que quebrou a tensão durante a troca no comando no Ministério da Saúde. Após discursar por 15 minutos, o agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta se dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro com o braço flexionado para se saudarem. Bolsonaro sorriu pela primeira vez, após ter passado toda a fala do ex-auxiliar com o rosto fechado e sem olhar para Mandetta, mesmo quando mencionado por ele em gesto de agradecimento.A cerimônia contou com ministros, o procurador-geral Augusto Aras, e os filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e poucos convidados do novo ministro, Nelson Teich. A plateia foi acomodada em cadeiras afastadas umas das outras. Havia 50 no local, mas muitas pessoas ficaram em pé. Apesar do público reduzido, ao final, todos se aglomeraram para as saudações.
Após participar da cerimônia de posse, Mandetta, ainda no Palácio do Planalto, conversou com os jornalistas. No mesmo momento, Bolsonaro passou pelo corredor para subir ao seu gabinete e se posicionou de costas para o ex-ministro quando precisou esperar o elevador. Pouco antes, o vice-presidente Hamilton Mourão passou pelo mesmo local e, ao ser chamado pelos repórteres, respondeu: “Tudo sob controle. Não sabemos de quem”.
Mandetta negou que tenha, neste momento, pretensões eleitorais para 2022. Entretanto, quando questionado sobre seu futuro, deixou o caminho em aberto: “Política é destino”, respondeu, citando frase de Napoleão Bonaparte.
A exposição na crise do coronavírus catapultou Mandetta de 120 mil seguidores nas redes sociais, no início do ano, para 1,3 millhão no Twitter, Instagram e Facebook. No ambiente digital, onde se concentra a força do bolsonarismo, o ex-ministro também foi alvo de ataques. Questionado sobre como usará a popularidade, Mandetta afirmou que não será “para falar mal de ninguém” ou divulgar fake news.
“Qualquer análise política é precipitada. As coisas passam. Todo mundo tem um vídeo que consegue virar meme. Há um mundo virtual, e o mundo real. Eu trabalhei no mundo real, dos fatos. No mundo virtual, ele está lá. Interajo, mas tem que ter cuidado. Não tem filtro, as pessoas são muito ‘haters’, parece tóxica. Precisa compatibilizar bem. Acho que vou reler os diálogos platônicos que eu não entendi nada”, saiu-se.
Ao ser questionado sobre o que fará agora que deixou o governo, o ex-ministro apenas respondeu: “Agora eu vou cortar o cabelo”.
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