Brasil

Fiocruz repudia ataque a cientistas

Correio Braziliense
postado em 18/04/2020 04:04


A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu nota, ontem, em apoio aos mais de 70 pesquisadores responsáveis pelo estudo CloroCovid-19, que se desenvolve em Manaus, e foram ameaçados de morte e atacados na reputação pelas redes sociais. A instituição “considera inaceitáveis os ataques que alguns de seus pesquisadores vêm sofrendo” e clama pela tranquilidade e segurança de seus acadêmicos, “requisitos essenciais para o desenvolvimento dos estudos”.

A Fiocruz ressaltou ainda que “estudos como esse são parte do esforço da ciência na busca por medicamentos e terapêuticas que possam contribuir para superar as incertezas da pandemia de Covid-19”. A pesquisa CloroCovid-19 permanece em andamento e foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Na capital do Amazonas, Marcus Lacerda, médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical, pesquisador da Fiocruz-AM e líder do estudo, sofreu ameaças de morte com outros pesquisadores que vêm desenvolvendo experiências com a cloroquina junto a pacientes com a Covid-19. Foram chamados de “irresponsáveis” e acusados de terem usado “cobaias humanas”. A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Civil investigam as ameaças.

Segundo Lacerda, os ataques ocorreram depois da publicação dos resultados preliminares do estudo CloroCovid-19, do qual 81 pacientes participaram. Os primeiros dados apontaram que uma alta dose de cloroquina é muito tóxica para os infectados pelo novo coronavírus que estão em estado grave –– o que gerou a suspensão da dosagem maior pelos estudiosos. Das pessoas que faziam parte da pesquisa, 11 morreram. Dessas, sete estavam em estado grave e receberam a dose mais poderosa da substância.

Uma publicação do ativista Michael Coudrey, que pôs em dúvida a veracidade das pesquisas realizadas no Amazonas, inflamou os ataques virtuais aos médicos e cientistas. “Todos os requisitos éticos e legais foram rigorosamente seguidos. Todos os registros estão disponíveis no centro, de acordo com as boas práticas clínicas, seguidas por toda a equipe de profissionais envolvidos no estudo”, garantiu Lacerda.

Ele ressaltou ainda que o estudo não tem posicionamento político ou ideológico, já que muitos dos ataques foram desse teor. A cloroquina e seu derivado menos agressivo, a hidroxicloroquina, têm sido apontados por Jair Bolsonaro como a principal aposta da ciência e da medicina para o tratamento da Covid-19.

“O debate não apenas está tendo forte viés ideológico, mas também prejudicando a reputação de pesquisadores com forte tradição no Brasil e no mundo, o que pode ser um efeito deletério grave em momentos como o que estamos vivendo. Os pesquisadores não possuem quaisquer vinculações ideológicas ou partidárias e o compromisso é apenas com a boa ciência”, esclareceu Lacerda, em texto nas redes sociais.


“O debate não apenas está tendo forte viés ideológico (..), o que pode ser um efeito deletério grave em momentos como o que estamos vivendo”
Marcos Lacerda, líder da pesquisa CloroCovid-19





Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags