Correio Braziliense
postado em 24/04/2020 04:03
Enquanto alguns estados brasileiros engrossam o isolamento social para contenção do novo coronavírus, outros flexibilizam a quarentena e anunciam a retomada das atividades com intuito de aquecer a economia. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, reuniu-se, ontem, com os secretários de Saúde, Edmar Santos, e de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, Lucas Tristão, para discutir um plano de reabertura progressiva da economia no estado. No entanto, no dia em que o país registrou o recorde de mortes pela Covid-19, o mandatário fluminense afirmou que a atividade econômica só vai ser retomada após a inauguração dos hospitais de campanha e os índices da Saúde melhorarem. Já no Distrito Federal, alguns setores já funcionam e outros estão com data marcada para retornarem em maio, segundo o governador Ibaneis Rocha.
Segundo o governo do Rio, o Plano Estadual de Reabertura Planejada da economia será baseado em três eixos: definição prévia do ritmo de abertura; orientações de comportamento; e protocolos de operação para administradores, empresários e trabalhadores. Será feito um mapeamento de risco das atividades e das regiões do estado. “No estado do Rio de Janeiro, a curva de contaminação ainda é alta, apesar de estar sob controle. E é exatamente por estar sob controle que nós estamos muito preocupados com qualquer reabertura da atividade econômica”, comentou o governador.
Santa Catarina é um dos estados que retoma as atividades comerciais. Clientes voltaram a frequentar o shopping center Neumarkt, em Blumenau, que após mais de um mês fechado por causa dos decretos de isolamento, provocou aglomeração de pessoas na reabertura esta semana. A Justiça do estado estabeleceu, ontem, multa de R$ 500 mil por dia caso a administração do centro de compras não siga as normas de distanciamento social estabelecidas em portaria do Governo do estado para reabertura do setor. A decisão foi resultado de uma ação civil pública movida pela Defensoria Pública de Santa Catarina, após a ampla divulgação de vídeos que mostra aglomeração de pessoas na abertura do centro comercial, assim como apresentação de show musical.
Segundo o despacho do juiz Frederico Andrade Siegel, a abertura do shopping está condicionada à comprovação de distância de 1,5 metro entre as pessoas, de que a lotação do local não esteja acima de 50% da capacidade e da proibição de shows. O estabelecimento alegou cumprir “rigorosamente todas as orientações”.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirmou que a retomada das atividades empresariais em território mineiro, que vem sendo planejada por seu governo, levará em consideração questões como a geração de renda e a intensidade de uso de mão de obra ou de circulação de pessoas nas instalações. Ele evitou dar um prazo para a esperada completa retomada das atividades no estado, mas sinalizou que as atividades que empregam a maioria das pessoas e que geram a maior parte da riqueza do estado devem ser retomadas mais rapidamente.
Efeitos negativos
Para Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, os efeitos na economia, mesmo com a retomada, serão negativos nos próximos meses. “Isso terá um efeito não só na oferta como na demanda, em médio e curto prazo. No caso da demanda, ela pode ser menor, o que trará um efeito negativo na parte financeira da empresa”, destacou.
Com a conectividade gerada neste tempo de pandemia, delivery e home office devem permanecer na rotina das pessoas, o que pode afetar outros setores que antes eram habituais. “Tudo isso pode afetar a economia e a forma como as pessoas circulam. Por exemplo, reuniões em diferentes locais que precisam pegar um avião, tendem a optar, daqui em diante, pela tecnologia. Isso pode causar um impacto no setor aéreo”, observou o coordenador.
Economista da PUC Rio, Luiz Roberto Cunha disse que, apesar de a quarentena ser uma medida “dramática”, do ponto de vista econômico, ela só poderia ser flexibilizada se o país tivesse capacidade para realizar testes em massa para identificar os infectados assintomáticos. “Eu acho que o Brasil não tem estrutura e nem condições para fazer uma saída (do isolamento social) organizada. Então, a saída vai ser desorganizada mesmo”, pontuou.
O empresário e presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi), Eduardo Aroeira, destaca que a reabertura do comércio vai impulsionar as vendas no segmento da construção civil, de escritórios imobiliários e de arquitetura. “Os desafios, porém, serão os que temos desde março. Temos que ter um cuidado muito grande com a saúde dos funcionários e dos clientes.”
Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro
Brasil entre os que menos acreditam
Em uma lista de 15 países pesquisados, o Brasil é o segundo que menos acredita na eficácia do isolamento social para reduzir as mortes por coronavírus. É o que mostra pesquisa divulgada ontem pelo instituto de pesquisas Ipsos. De acordo com o levantamento, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, 54% dos brasileiros entrevistados responderam que medidas como o isolamento social e restrição de viagens não são capazes de impedir a disseminação da Covid-19. No ranking, o Brasil ficou empatado com a Alemanha. O índice só é menor que o observado na Índia, onde 56% dos entrevistados disseram não acreditar que estratégias desse tipo funcionem. No estudo, foram ouvidas 28 mil pessoas em vários países via um formulário on-line. Os espanhóis são os que mais acreditam no isolamento: só 34% disseram que ele não funciona. Em seguida aparecem a Austrália (35%), Canadá, Itália e China (36%).
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