Brasil

Coronavírus põe o Rio de Janeiro à beira do colapso

Lotação de leitos de UTI para pacientes com a Covid-19 está quase esgotada no estado. Na capital fluminense, falta mão de obra para hospitais de campanha

Correio Braziliense
postado em 27/04/2020 08:10
Lotação de leitos de UTI para pacientes com a Covid-19 está quase esgotada no estado. Na capital fluminense, falta mão de obra para hospitais de campanhaSegundo estado brasileiro com o maior número de mortes e casos relacionados à pandemia de coronavírus, o Rio de Janeiro luta agora para não ser também a segunda unidade da Federação – depois do Amazonas – a entrar em colapso por causa da doença. No estado, praticamente todos os leitos de UTI destinados ao tratamento de pessoas diagnosticadas com a doença estão ocupados; o mesmo ocorre com a rede da capital fluminense. Enquanto isso, hospitais de campanha construídos na cidade do Rio justamente para ampliar o número de vagas não estão em operação. O motivo? Faltam mão de obra e equipamentos.

Nesta reportagem, o Estado de Minas explica como está a situação do estado, onde casos trazidos do exterior causaram rapidamente um boom de diagnósticos positivos. O vírus não poupou nem mesmo o governador Wilson Witzel (PSC) e a primeira-dama Helena Witzel.

O primeiro caso de Covid-19 foi registrado no estado foi em 5 de março: uma mulher de 27 anos, moradora da cidade de Barra Mansa, que apresentou os sintomas ao voltar da Lombardia, região da Itália mais afetada pelo coronavírus. Até então, o vírus ainda estava a 130 quilômetros da capital fluminense. No entanto, menos de 24 horas depois, a cidade do Rio já tinha quatro casos confirmados e, 14 dias mais tarde, registrava sua primeira morte pela doença.

Desde então, o crescimento de casos e mortes foi exponencial e as notícias deixaram de ser apenas números para se transformar em nomes e rostos de pessoas conhecidas. Para se ter uma ideia, em 26 de março, 421 pessoas já estavam diagnosticadas com a doença no estado e nove tinham morrido; ontem, um mês depois, esses números chegam a 7.111 e 645, respectivamente. Em comparação, na mesma data, Minas tinha 153 casos confirmados e nenhum óbito; ontem eram 1.548 diagnósticos positivos e 61 mortes.

O mesmo “boom” foi registrado na capital fluminense, onde em 1º de abril havia 697 casos e 24 mortes; hoje já são 4.498 e 382, respectivamente.

Hoje, a cidade do Rio de Janeiro representa 63% do número de casos e 59% das mortes em todo o estado. Do total de casos, 246 estão na Barra da Tijuca e 230 em Copacabana, bairros que abrigam moradores de boa condição financeira. Em relação ao número de mortes, Copacabana também está em destaque, com 22 óbitos. No entanto, em segundo lugar, está o Bairro Campo Grande, com 20 mortes e, em terceiro e quarto, a Tijuca e o Realengo, com 16 e 14 óbitos, respectivamente. Essas regiões têm valor de metro quadrado baixo em comparação com os bairros da Zona Sul do Rio.

Lotação 


A alta taxa de contágio na capital fez com que os hospitais do estado e, principalmente da cidade do Rio, ficassem lotados rapidamente. Conforme informado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), na última sexta-feira, todos os leitos destinados a pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19 estavam ocupados. O único hospital que ainda tinha vagas na rede estadual era o Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, a 137 quilômetros do Cristo Redentor – até sexta, as taxas de ocupação da unidade de saúde eram de 56% na enfermaria e 51% na UTI.

A SES-RJ ainda informou ao Estado de Minas que a taxa de ocupação em enfermarias da rede estadual na sexta era de 66% e de 80% em leitos de UTI – há duas semanas, as taxas eram de 41% e 63%, respectivamente. Ao todo, 2.037 pacientes estão internados na rede estadual; desses, 220 suspeitos ou confirmados de coronavírus aguardavam transferência para UTIs, que podem ser reguladas para as diferentes redes, seja ela municipal, estadual ou federal.

Saiba Mais

O grande volume de pacientes extrapolou as previsões da administração pública estadual, que criou 521 novos leitos exclusivos para o tratamento de pacientes suspeitos ou confirmados da Covid-19 e destinou outros 137 já existentes para esse grupo. No entanto, só na capital, 773 pacientes estavam internados na sexta-feira em unidades municipais, estaduais e federais, por suspeita ou confirmação de coronavírus, sendo 261 em UTIs. Conforme frisado pelas secretarias municipais e estaduais de Saúde, esses números variam diariamente, devido às altas e óbitos de pacientes.

Na quarta-feira, a Justiça acatou o pedido do Estado do Rio de Janeiro e deu até 48 horas para que hospitais federais liberassem leitos livres para pacientes de outras unidades de saúde. A magistrada à frente do caso chegou a estipular multa de R$ 1 mil por dia para aqueles diretores que não disponibilizarem os leitos. Por outro lado, os hospitais vêm ressaltando que não têm condições de receber outros pacientes.

Apesar de ser uma unidade de saúde federal, o hospital não está envolvido na ação judicial , já que está ligado ao Ministério da Educação e não ao da Saúde.

Lotação de leitos de UTI para pacientes com a Covid-19 está quase esgotada no estado. Na capital fluminense, falta mão de obra para hospitais de campanha

Novas estruturas fora de serviço


Para evitar o colapso do sistema de saúde em meio à pandemia, o estado e a cidade do Rio de Janeiro construíram hospitais de campanha direcionados a pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19. No entanto, essas unidades ainda não estão em funcionamento, já que faltam aparelhos e profissionais de saúde para atender os pacientes.

Ainda em março, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) anunciou um hospital de campanha no Riocentro – espaço de convenção, na capital. No entanto, mais de um mês depois, o espaço, que já foi inaugurado, segue sem funcionar. Isso porque a administração municipal está aguardando a chegada de 200 respiradores e 40 monitores da China. Ao todo, o hospital conta com 100 leitos de UTI e mais de 400 de clínica médica. A expectativa é de que o espaço comece a receber pacientes em 1º de maio.
 
Já em relação a médicos e enfermeiros, Crivella diz que está fazendo contatos com prefeitos de cidades e governadores de estados menos impactados pela doença para que ajudem a suprir a escassez de profissionais de saúde. Na quarta-feira, a prefeitura abriu edital para contratar 3.922 profissionais que atuarão na linha de frente do combate ao coronavírus.

Além do Riocentro, foi inaugurado, no sábado, um hospital de campanha no Bairro Leblon. A unidade é custeada pela iniciativa privada e conta com 200 leitos, sendo 100 de UTI. Outros 400 leitos serão destinados ao Maracanã, que tem previsão de abertura nos primeiros dias de maio.

Por fim, a Secretaria de Estado informou que vai disponibilizar outros 1,8 mil leitos em 8 hospitais de campanha e um modular, que serão inaugurados de forma gradativa no mês de maio em várias regiões do estado, de acordo com a evolução da pandemia. Enquanto os hospitais não ficam prontos ou os aparelhos e médicos não chegam, a população fluminense tem que torcer para não ser infectada pelo vírus.

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