O número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil superou o registrado na China. Mesmo com densidade demográfica quase seis vezes menor e ainda caminhando para pico de infecção, país registrou 5.017 óbitos, contra 4.643 chineses. Ontem, enquanto o país epicentro da doença no mundo não registrou novas mortes, o Brasil bateu recorde, confirmando mais 474 fatalidades. Diante do cenário, o presidente Jair Bolsonaro desvalorizou os números e ironizou: "Eu sou Messias, mas não faço milagre". Já o ministro da Saúde, Nelson Teich, convocou uma coletiva às pressas para responder questionamentos e avaliou a situação como uma "tendência" encabeçada pelos locais mais críticos.
Em uma declaração de apenas 16 minutos à imprensa, o ministro citou as cidades de Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo como os locais que mais preocupam. Ele repetiu que o Brasil tem diferentes quadros da doença, que merecem tratamentos específicos. Ao mesmo tempo em que Teich falava por videoconferência no Ministério da Saúde, nem meia hora antes de ocorrer, Bolsonaro repetia a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, que deseja o fim das quarentenas no Brasil. Disse que tem conversado com associações da indústria sobre o tema, mas afirmou que quem decide sobre assuntos de saúde é o ministro.
Ao ser perguntado sobre as 5 mil mortes no país, Bolsonaro respondeu: “E daí? Lamento. Quer que que eu faça o quê?. O presidente voltou a afirmar que esta é a “realidade”, já que "o vírus vai atingir 70% da população".
Já o ministro da Saúde, que dizia acreditar que o aumento de mortes representava apenas um esforço para zerar a fila de amostras acumuladas, concluiu, ontem, que o crescimento é uma tendência. “É um número que vem crescendo”. Na sexta passada, foram 357 novas mortes; no sábado, 346; no domingo, 189; e na segunda, 338 novos óbitos.
“Há alguns dias eu coloquei que (o número de mortos e contaminações) poderia ser um acúmulo de casos de dias anteriores que foi simplesmente resgatado, mas como temos manutenção desses números elevados e crescentes, temos que abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação", disse Teich. E continuou: "Isso continuou restrito aos lugares onde a gente sabe que estão tendo as maiores dificuldades, como Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo”.
Casos críticos
O chefe da pasta ressaltou que as regiões do Brasil devem ser tratadas de forma diferente. "Hoje, a gente vê nesses lugares, onde a crise é maior, quadro de piora. E vamos continuar acompanhando para confirmar isso e ver como será a evolução", disse. Sete estados já ultrapassaram a barreira das 100 mortes. São Paulo continua liderando com maior número de casos e óbitos. O estado soma 2.049 óbitos e 24.041 casos confirmados da doença. Em seguida, observando o número de mortes, estão Rio de Janeiro (738) Pernambuco (508), Ceará (403), Amazonas (351), Maranhão (145) e Pará (129).
Questionado sobre a atuação do Ministério da Saúde na assistência aos estados e municípios, o general Eduardo Pazuello, secretário-executivo da pasta, afirmou que as principais demandas são por testes, respiradores e equipamentos de proteção individual e que a pasta se movimenta diariamente para atender aos pedidos. De acordo com Pazuello, mais 185 respiradores começam a ser distribuídos para os estados e municípios mais críticos a partir de hoje. “O ministério tem se preparado e adquirido esse material. Continuamos com a distribuição focada exatamente onde está pior, não apenas uma distribuição linear como se iniciou nos planejamentos”, disse.
O aumento diário do número de infectados no Brasil também cresceu: 5.385 casos confirmados foram adicionados ao balanço. Com isso, o país tem 71.886 casos da doença. O Ministério da Saúde também divulgou que 34.325 pessoas com teste positivo continuam em acompanhamento, enquanto 32.544 se recuperaram, o que representa 45% do total de diagnosticados.
Plasma contra Covid-19
O Brasil avança nos estudos para verificar a eficácia de tratamentos por meio de doação de anticorpos. A metodologia que usa plasma sanguíneo de pacientes curados naqueles que estão com os sintomas mais graves da doença vem sendo aplicada por hospitais de referência e monitorada pelo Ministério da Saúde. A intenção é ampliar a prática com potencial de desenvolver evidências científicas já que, até o momento, não há tratamentos comprovadamente eficientes no combate ao novo coronavírus.
O Hospital Albert Einstein começou o estudo há 20 dias, com 17 pacientes. Nessa terapia, a intenção é que os anticorpos presentes no plasma forneçam imunidade às pessoas, como foi comprovado em outras doenças, como H1N1 e outros tipos de coronavírus. Apesar de já haver resultados positivos neste grupo, não é possível afirmar que a melhora se deu pela infusão do plasma, já que outros medicamentos foram aplicados durante o tratamento.
“O objetivo do estudo é saber se há efeitos desfavoráveis com essa prática, se o uso do plasma é seguro em um convalescente de risco grave da Covid”, explicou o médico hematologista do Albert Einstein e coordenador da pesquisa, José Mauro Kutner. A avaliação dos resultados será feita por análise estatística e pode demorar cerca de três meses.
(BL e MEC)
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