Correio Braziliense
postado em 03/05/2020 04:07
Apesar do que afirma a Funai, a vigilância não parece tão eficaz. É o que afirma Kleber Karipuna, liderança da etnia karipuna e integrante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). “Aumentaram bastante as invasões nas terras indígenas. Enquanto os povos estavam se isolando e tomando precauções, madeireiros, garimpeiros, grileiros, continuaram as invasões. Todo o trabalho de proteção e vigilância dos territórios, que foi paralisada, abriu as portas para esse aumento de invasões. Temos muitos relatos. Com certeza, a ida desses invasores aos territórios indígenas, sem nenhum cuidado, causa a proliferação do vírus”, denuncia.
As invasões que se intensificaram não são novas. Antes da crise da pandemia, o território Yanomami, destaca Kléber, já contava com mais de 20 mil garimpeiros. “O modo de vida desses povos em território, proximidade, convívio familiar muito próximo, além de sistema imunológico fragilizado, facilita a disseminação de um contágio em massa, que pode chegar a dizimar comunidades inteiras, como vimos em um passado não muito distante, quando uma gripe levada por missionários dizimou grande parte do povo Zoés”, explica.
“O atual governo não se preocupa nem um pouco com a saúde e proteção dos povos indígenas. Para a gente, está claro que não somos prioridade, mas, sim, os territórios. Prioridade para invasão, abertura do agronegócio, garimpo e mineração. O que a gente entende é que a chegada de um vírus desse em uma comunidade (indígena) vai ser como uma vitória para o governo, dentro de um contexto de exploração e retrocesso de direitos que o governo já vem fazendo contra a população indígena desde que assumiu em janeiro de 2019”, desabafa.
O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, concorda com o manifesto e com o posicionamento de Kleber Karipuna. Segundo ele, sem ajuda do governo, foram os próprios povos que decidiram se isolar. “Os povos indígenas, no início da chegada do coronavírus, tomaram a iniciativa de fechar os territórios. Não houve iniciativa dos órgãos públicos federais, principalmente da Funai, de tomar esse procedimento. Madeireiros, garimpeiros e grileiros não fazem quarentena”, ressalta.
De acordo com o indigenista, existem relatos de invasões nos territórios dos Aripuanã em Mato Grosso; Yanomami, em Roraima; Pataxó, no sul da Bahia; Guarani, no Mato Grosso do Sul; e Guajajara, no Maranhão. “Essas invasões aconteceram no período de pandemia. Essa situação é mais visível no Amazonas, onde já existem 11 mortos (por coronavírus). Com certeza, o vírus está sendo levado por não indígenas, e isso tem colocado uma preocupação especial sobre aquele estado, pois as condições de saúde lá são precárias, e o acesso às comunidades é difícil. Se não forem tomadas providências imediatas, vai ser uma tragédia com relação às comunidades indígenas, pois sobre o povo do Amazonas, a tragédia já está instalada”, avisa. (LC)
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