Correio Braziliense
postado em 04/05/2020 15:18
O mundo como conhecemos parece ter acabado. A pandemia mudou a forma como vemos simples ações do nosso cotidiano. Entre as ações rotineiras que foram mudadas pela pandemia que vivemos, está está o trabalho. Apesar da curva crescente de casos de Covid-19, muitos governos estaduais começaram a sinalizar que flexibilizarão o isolamento social nas próximas semanas, permitindo uma abertura gradual dos comércios e empresas. Preparando-se para o retorno às atividades normais, empresas começam a pensar em soluções para permitir que seus colaboradores estejam seguros no ambiente de trabalho e possam exercer suas funções sem grandes preocupações.A gigante do varejo Lojas Renner S.A. iniciou na última semana um plano de reabertura gradual de alguns estabelecimentos. Entre as lojas que deverão ser abertas, estão Renner, Camicado, Youcom e Ashua. A decisão foi tomada após a realização de uma avaliação criteriosa de medidas de enfrentamento à Covid-19. Na reabertura, as lojas terão horário e equipe reduzidos. Entre as medidas anunciadas pela empresa, está a disponibilização de álcool em gel em diferentes pontos das lojas e a intensificação da limpeza e a higienização frequente dos equipamentos e mercadorias.
A montadora Moto Honda da Amazônia tinha como previsão o retorno nesta segunda, 04 de maio, foi prorrogada para 18 de maio. Em acordo coletivo, firmado com o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, com base na Medida Provisória 936/2020, foi estabelecido que a maior parte dos colaboradores terá o contrato de trabalho temporariamente suspenso por período máximo de 60 dias. Os termos do acordo deixam de ser válidos assim que os colaboradores retornarem ao trabalho.
Nesse período, por meio de ajuda compensatória, será assegurado de 75% a 100% da renda líquida atual do colaborador, o que vai além da exigência prevista na Medida Provisória. O desconto, que varia de 0% a 25%, será escalonado conforme faixas salariais, sendo maior para os níveis superiores.
A montadora Moto Honda da Amazônia retomará a produção nesta segunda-feira (4/5). Os colaboradores estavam em férias coletivas e tinham data de retorno prevista para o dia 20 de abril. A empresa informou que as horas não trabalhadas entre essa data e o dia 3 de maio serão acumuladas em um banco de horas e compensadas posteriormente. Parte dos colaboradores que desempenha atividades administrativas está em regime de home office. Aqueles que obrigatoriamente precisam estar presencialmente no local de trabalho, segundo a empresa, estão protegidos pelas medidas de prevenção recomendadas pelas autoridades de saúde.
A volta à rotina de trabalho terá regras a serem definidas de acordo com cada estado. Segundo Ronaldo Tolentino, sócio do Ferraz dos Passos Advocacia, a tendência é de que as medidas de prevenção à contaminação variem de acordo com o segmento da indústria. O Brasil ratificou as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que falam sobre ambientes de trabalho. Uma delas trata sobre a de contaminação pelo ar, como é o caso do coronavírus. "Como o país ratifica essa convenção, deve garantir que seja evitada a contaminação nesses locais. Outra convenção internacional, a 155, determina que os empregadores devem manter o ambiente de trabalho seguro contra contaminações. Cabe ao Brasil especificar que medidas devem ser adotadas por cada setor da indústria", explica
O advogado conta que ainda não existe nenhuma medida editada sobre o relaxamento da quarentena. Mas quando isso ocorrer, as empresas que não tiverem condições de fornecer um ambiente de trabalho seguro não deverão abrir. "Só poderão abrir as empresas que puderem oferecer condições seguras de trabalho. Os funcionários precisam ter conhecimento de que podem reclamar caso isso não seja seguido. Temos sindicatos, Ministério do Trabalho, vários órgãos podem ser acionados. Os estabelecimentos precisam ter condições de garantir a segurança", afirma.
Ronaldo diz ainda que as empresas não poderão exigir de seus funcionários que levem equipamentos de proteção próprios. "Essas medidas protetivas, com as EPIs e álcool, isso deve ser arcado pelo empregador. Não pode ser exigido que o empregado leve seu álcool, sua máscara. Caso aconteça, ou o funcionário seja impedido de utilizar equipamentos em seu local de trabalho, o funcionário tem que denunciar a medida da empresa."
Para Thiago Guimarães, sócio do Guimarães Parente Advogados, talvez não seja necessário criar uma legislação específica para a prevenção do contágio em locais de trabalho. "Entraria mais no bom senso dos empregadores. Eles querendo reativar seus negócios, teriam que providenciar equipamentos, distanciamento e medidas necessárias.
Em casos de descumprimento, o governo vai ter que achar uma solução para multar ou fechar estabelecimentos para proteger funcionários e o público. Acredito que o governo acabará abrindo canais de comunicação para receber denúncias desse tipo, como existe hoje com a dengue", opina.
O advogado acredita que as relações de trabalho sofrerão alterações bruscas após a pandemia, como a adoção de modelos de home office para cortar custos. "Na esfera trabalhista, inicialmente terão essa preocupação com o contágio. Acho que com essa crise, as empresas que podem utilizar home office, vão utilizar. Por motivos de saúde, estamos tendo que aprender e nos acostumar com isso. Essa é uma prática que tem tendência a ficar. Aqueles que não conseguirem fazer home office, vão ter que tomar cuidados."
Para Thiago, a lição que fica é a importância do desenvolvimento de hábitos em locais de trabalho que protejam os trabalhadores de contágios. "As pessoas precisam entender a importância de se cuidar. Precisam ter uma consciência de que isso é uma necessidade. No Japão, quando tem uma pessoa gripada, com doença contagiosa, eles automaticamente usam máscara. Hoje, nós temos que nos espelhar nessas culturas que têm esse tipo de hábito nos ambientes de trabalho, para garantir a segurança de todos", conta.
Saúde mental
O home office passou a ser uma solução viável para muitos setores. Por outro lado, algumas empresas encontram dificuldades para manter o modelo. Uma grande preocupação das empresas por causa da pandemia é a saúde mental de funcionários que estão isolados e voltarão ao trabalho sem uma perspectiva de melhora da crise do coronavírus. Para driblar isso, empresas apostam em soluções não convencionais e apoiadas nas novas tecnologias para promover união entre os colaboradores e a manutenção de sua saúde.
A Amarq Benefícios, consultoria especializada em saúde, firmou uma parceria com o aplicativo norte-americano Sharcare, que ajuda a melhorar a qualidade do sono, reduzir peso e diminuir os níveis de estresse. Mariana Marques, CEO da empresa, explica que o aplicativo já existia e funciona com uma inteligência artificial. O aplicativo auxilia os usuários na melhoria da qualidade do sono, redução de peso e diminuição dos níveis de estresse. “O momento serviu como uma oportunidade para a divulgação. O produto de saúde mental é um trabalho médico, em alguns casos podendo ter um atendimento a domicílio”, conta Mariana.
O produto, segundo a CEO, ainda garante benefícios financeiros e permite que os colaboradores se mantenham bem em um período de incertezas. “O interessante é que por ser um produto de saúde preventiva, ele impacta na redução de custos como um todo, no período de reajuste, nos valores da sinistralidade, então, é super válida a contratação no período de pandemia e após. Tem muita gente que não está conseguindo administrar. Nesse momento o que mais precisamos é calma e os empresários precisam dos colaboradores bem”, diz.
Além do Sharecare, a Amarq disponibilizou para todos os funcionários e clientes acesso gratuito ao aplicativo Workout. A plataforma permite que o usuário faça atividades físicas em curtos períodos de tempo. “O aplicativo tem vários treinos, que se adaptam ao tempo que você tem e ao que quer fazer. Ele personaliza as atividades para cada usuário. Liberamos o aplicativo assim que o isolamento começou. O feedback tem sido muito interessante”, relata Mariana.
Durante o isolamento, existem empresas que apostam em soluções de integração de equipes e incentivo de manutenção de hábitos saudáveis. Denys Monteiro, CEO da empresa de Executive Search, ZRG Brasil, conta que os cuidados constantes, tanto com a saúde física quanto mental têm se tornado uma tendência cada vez mais forte. “As grandes companhias com boas práticas de recursos humanos têm uma preocupação com a saúde física e mental. Nós vemos como fundamental a capacidade de entender as dificuldades do outro e a empatia é muito importante nesse momento” pontua o CEO.
Outra prática adotada pela empresa é o de monitoramento de comportamentos promoção de momentos de descontração "Na ZRG sempre tivemos uma preocupação com as necessidades de cada um individualmente. Atento é a palavra, é importante monitorar o tempo inteiro.” Sobre como colocar isso em prática, ele exemplifica: “Eu acho que quando a gente percebe que existe alguém que está mais quieto, a gente já estabelece um formato que estimule essa pessoa e busca entender o que está acontecendo”.
Saiba Mais
Sobre o retorno às atividades presenciais, o CEO conta que a empresa está trabalhando em soluções para tornar o ambiente mais seguro e evitar possíveis contaminações pelo coronavírus. "Estamos começando a discutir esse retorno. Se vai ter testagem dos funcionários, teste de temperatura na entrada, protocolo de limpeza, se teremos um rodízio de pessoas...", exemplifica.
*Estagiários sob a supervisão de Fernando Jordão
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