Brasil

Mortes dentro de casa crescem 152% nos últimos dois meses no Amazonas

O aumento de mortes em casa nos dois primeiros meses da pandemia de covid-19 no Brasil pode apontar sub-notificação dos óbitos pela doença

Correio Braziliense
postado em 08/05/2020 06:00

caixões em uma valaOs reflexos da escalada da pandemia do novo coronavírus no Brasil não se limitam à falta de leitos de UTIs nos hospitais. Segundo as informações divulgadas no Portal de Transparência do Registro Civil, o número de pessoas que morreram em casa no país aumentou em mais de 3,7 mil casos, um crescimento médio de 15%. Primeiro estado a colapsar o sistema de saúde, o Amazonas é a unidade federativa que registrou o maior aumento do número de mortes em casa. 

 

O salto no estado do Norte mais atingido pela covid-19 foi de 152% em relação ao mesmo período de 2019. Na sequência, vem o Rio de Janeiro, com crescimento de 43%; e Distrito Federal, 31,1%. A análise refere-se ao período de 16 de março, data da primeira morte pelo novo coronavírus no Brasil, até 30 de abril.

 

“Com a experiência que temos observado em outros países, principalmente os europeus, como Itália, Espanha e Reino Unido, vem se verificando um crescimento substancial nos óbitos ocorridos em âmbito não hospitalar”, destaca Gustavo Renato Fiscarelli, vice-presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais de São Paulo (Arpen).

 

Nas mortes domiciliares, a doença provocada pelo novo coronavírus matou 221 pessoas nos dois primeiros meses da pandemia no Brasil, segundo registros dos cartórios do país. Em compensação, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocou uma quantidade 11 vezes maior de óbitos neste ano se comparada à de 2019: de 10 para 110. 

 

Já as mortes por causa indeterminada quase dobraram, passando de 391 para 604, o que pode apontar para uma subnotificação da covid-19, provocada por todas as dificuldades de atendimento nas unidades de saúde e da testagem insuficiente da população. 

 

Ricardo Kreitchmann Filho, pneumologista pediátrico, explica que uma das características da covid-19 é a rápida evolução do quadro. “Muitas vezes, o paciente já está com a oxigenação do sangue diminuindo e a falta de ar ainda não apareceu, o paciente só está com a febre e a tosse. Em uma unidade de saúde, essa saturação é verificada e conseguimos ter uma noção se  pode evoluir para um quadro grave.”

 

O médico explica que o ideal seria analisar cada caso individualmente, mas destaca que entre os fatores que contribuem para o aumento de mortes em domicílio estão os casos de pacientes que procuram por atendimento no início dos sintomas, são liberadas para voltar à casa, mas o quadro evolui rapidamente.

 

O aumento do número de pessoas que falecem em casa de um ano para outro se deve, entre outros fatores, às doenças respiratórias, mas não só à covid-19 e à Síndrome Respiratória Aguda Grave. Entre março e abril deste ano, elas foram responsáveis por 396 óbitos a mais do que em 2019, quando causaram 4.074 óbitos em domicílio.

 

“Apesar de outros vírus também poderem causar complicações a ponto de levar o paciente à internação na UTI ou mesmo a terem uma letalidade considerada alta, como o H1N1, esses agravamentos não eram tão frequentes quanto os vistos na pandemia de covid-19”, pontua o pneumologista Kreitchmann. "Antes da pandemia, apesar de serem quadros gravíssimos, eram mais raros de acontecer e a evolução não costumava ser tão rápida.”

 

Pessoas que morreram dentro de casa no Brasil entre 16 de março e 30 de abril

Mortes em casa (total) 

Em 2019: 24.071 

Em 2020: 27.691

Aumento de 15,4%


Mortes em casa por doenças respiratórias 

Em 2019: 4.074 (sendo 10 por SRAG)

Em 2020: 4.470 (sendo 221 por covid-19 e 110 por SRAG)

Aumento de 9,8%


Mortes em casa por causa indeterminada:

Em 2019: 391 

Em 2020: 604

Aumento de 54,5%

 

Estados com maior aumento de mortes em casa no Brasil (de 16 de março a 30 de abril)

Amazonas 152,8%

Rio de Janeiro 43%

Distrito Federal 31,1%

Pernambuco 26,2%

Paraná 23,9% 

São Paulo 19,9% 


Indíos venezuelanos infectados com covid

Quarenta indígenas venezuelanos refugiados foram confirmados com diagnóstico de covid-19, em João Pessoa. Os indígenas são da etnia warao e fizeram os testes na segunda-feira, mas a situação só foi divulgada ontem pela rede de proteção social do Ministério Público da Paraíba, que atua no combate à pandemia do coronavírus. Os testes foram realizados no grupo depois que uma indígena grávida, de 31 anos, foi internada e intubada em uma maternidade de João Pessoa. Ela testou positivo para a covid-19. A mulher estava alojada no mesmo local que os demais. A Secretaria de Saúde esteve no local e testou 48 pessoas, das quais 40 deram positivo.

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