Brasil

Dois meses de pandemia

Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 04:04
Infectados por covid-19 são tratados em hospital de campanha de Santo André, no ABC paulista

Há dois meses, a Organização Mundial da Saúde declarou que o mundo vivia uma pandemia, período em que o Brasil teve chance de observar as experiências de outros países e estudar melhores formas de impedir que a covid-19 ganhasse força em território nacional. O que se observa, no entanto, é um país que luta para conseguir se equipar e receber doentes, enquanto o número de mortos e casos têm potencial de dobrar a cada semana. Com a maior taxa de transmissão entre os países mais afetados pela doença, a previsão é de que a curva ainda mantenha o potencial de crescimento, levando especialistas a questionarem se o Brasil soube aproveitar o momento de preparação.


Ontem, dia em que a pandemia do novo coronavírus completou dois meses, o Brasil confirmou mais 5.632 casos e 396 mortes pela covid-19. Os números foram adicionados no balanço do Ministério da Saúde e, com isso, o país soma 168.331 casos e 11.519 mortes. De acordo com o balanço divulgado, ontem, pelo Ministério da Saúde, cinco estados já ultrapassaram a marca de mil mortes. São Paulo vem em primeiro, com 3.743 fatalidades, seguido por Rio de Janeiro (1.770), Ceará (1.189), Pernambuco (1.087) e Amazonas (1.035).

Falta testagem
Na avaliação do coordenador do curso de especialização em administração hospitalar e de serviços e sistemas de saúde da FGV, Walter Cintra, o país não foi capaz de aplicar as medidas necessárias de maneira eficaz. “Estamos tendo dificuldades com o isolamento social, ficando cada vez mais clara a necessidade de implantar o lockdown. Não conseguimos, até agora, fazer a testagem laboratorial em quantidade suficiente para fornecer dados que ajudariam ao processo de tomadas de decisão.”

Além disso, Walter considera que a proteção das populações mais vulneráveis é um ponto fraco. “Em um país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, o Estado precisa agir rapidamente para fornecer condições mínimas para as comunidades, desde o fornecimento de água até acesso igual aos serviços de saúde. O Estado está muito lerdo na liberação de recursos financeiros para a população. Lerdo, burocrático e atabalhoado, quando vemos pessoas se aglomerando em filas para receber o benefício”, considera.

Sem a adesão necessárias às medidas de isolamento, o volume de casos tem sido o que os especialistas anteciparam. A previsão do estudo epidemiológico do Imperial College, de Londres, era de que o Brasil chegaria no início desse mês a 10 mil óbitos. O que foi confirmado. O estudo considera que a capacidade de transmissão do vírus é considerada “muito alta”.O cálculo é de um brasileiro doente infectando quase outras três pessoas, já que o indicador de propagação ficou em 2,81. Comparando com outros 47 países, o Brasil é seguido pela Irlanda (2,24), México (1,95), Polônia (1,78) e Peru (1,55). Quanto maior esse número, mais rápido a doença se espalha entre a população.

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