Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 12:30
O novo coronavÃrus já estava circulando havia pelo menos 20 dias no Brasil quando multidões tomaram as ruas de grandes cidades para celebrar o carnaval, revela um estudo divulgado nesta segunda-feira, 11, pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
O trabalho mostra que o Sars-CoV-2 começou a se espalhar no PaÃs ainda na primeira semana de fevereiro, ou seja, mais de 20 dias antes de o primeiro caso ser diagnosticado oficialmente em um viajante que retornou da Itália para São Paulo. O caso foi detectado em 26 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas, quase 40 dias antes das primeiras confirmações oficiais de transmissão comunitária, em 13 de março, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
Observa-se ainda que, quando os primeiros blocos foram para as ruas, já havia transmissão comunitária da doença. Essa provavelmente foi muito acelerada pelas aglomerações. Os primeiros casos seriam do fim de janeiro. O estudo foi feito com uma metodologia estatÃstica de inferência, a partir dos registros de óbitos, e publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz de forma prévia, ainda sem revisão de pares.
O trabalho também revelou que o vÃrus começou a circular muito antes do registrado oficialmente na Europa e nos Estados Unidos. Os autores destacam que, em todos os paÃses analisados, a circulação da covid-19 começou muito antes que fossem implementadas medidas de controle, como restrição de viagens aéreas e distanciamento social. Na Europa, a circulação da doença começou aproximadamente em meados de janeiro na Itália e entre fim de janeiro e inÃcio de fevereiro na Bélgica, França, Alemanha, Holanda, Espanha e Reino Unido. O começo de fevereiro também foi o perÃodo de inÃcio da disseminação na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
A pesquisa é a primeira a apontar o perÃodo de inÃcio da transmissão comunitária no Brasil e reforça evidências preliminares de pesquisas conduzidas na Europa com análises genéticas. Corrobora ainda achados de estudos realizados nos Estados Unidos, que indicaram começo da propagação viral na cidade de Nova York entre 29 de janeiro e 26 de fevereiro.
Apesar de vários paÃses terem o inÃcio da transmissão comunitária em momentos muito próximos, a expansão da epidemia em cada localidade parece ter seguido uma dinâmica própria. "Muito provavelmente, a dinâmica de expansão da epidemia foi definida por fatores locais, como caracterÃsticas ambientais de temperatura, precipitação e poluição do ar, densidade e demografia da população", acrescenta o pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia), Tiago Graf.
Os autores destacam ainda que os resultados obtidos reforçam a importância da implementação de ações permanentes de vigilância molecular, uma vez que o novo coronavÃrus pode voltar a circular e causar surtos ao longo dos próximos anos. "A intensa vigilância virológica é essencial para detectar precocemente a possÃvel reemergência do vÃrus", diz Gonzalo Bello, pesquisador do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, coordenador da pesquisa.
Técnica
Para estimar o perÃodo de inÃcio da transmissão viral comunitária do novo coronavÃrus, os pesquisadores desenvolveram um novo método, partindo do crescimento exponencial do número de mortes nas primeiras semanas de surto.
Já que a carência de testes de diagnóstico e o grande porcentual de infecções assintomáticas dificultam a contagem de casos da doença, os registros de óbito são considerados a informação mais confiável sobre o progresso da epidemia. Podem ser usados como um rastreador "atrasado", que permite observar o curso da doença de forma retrospectiva. Considerando que o tempo médio entre a infecção e o óbito por covid-19 é de cerca de três semanas e a taxa de mortalidade da doença é de aproximadamente 1%, os cientistas aplicaram um método estatÃstico para inferir o momento de inÃcio da epidemia a partir do número acumulado de mortes nas primeiras semanas de surto em cada paÃs.
"Observando os dois paÃses onde já existe grande número de genomas sequenciados - China e Estados Unidos -, constatamos que a estimativa obtida a partir do número de mortes foi semelhante à obtida a partir da análise genética, validando a nova abordagem", afirma a pesquisadora da Udelar Daiana Mir.
No Brasil, outras evidências apoiam a estimativa de que a transmissão local começou no inÃcio de fevereiro, coincidindo com a expansão da epidemia na América do Norte e Europa. De acordo com o InfoGripe, sistema da Fundação Oswaldo Cruz que monitora as hospitalizações de pacientes com sintomas respiratórios agudos graves (SRAG), o número de internações encontra-se acima do observado em 2019 desde meados de fevereiro de 2020.
Além disso, análises moleculares retrospectivas de amostras de SRAG detectaram um caso de infecção por Sars-CoV-2 no Brasil na quarta semana epidemiológica, entre 19 e 25 de janeiro. O aumento sustentado de infecções foi observado a partir da sexta semana epidemiológica, entre 2 e 8 de fevereiro, conforme o MonitoraCovid-19, da Fiocruz. "Esses dados epidemiológicos confirmam a introdução do Sars-CoV-2 no Brasil desde o fim de janeiro e claramente sustentam nossos resultados, que apontam que o vÃrus estava circulando na população brasileira desde o inÃcio de fevereiro", pontua Gonzalo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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