Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 18:00
A falta de equipamentos de proteção individual, insumos hospitalares e recursos humanos no combate ao novo coronavírus foram alvo de denúncias de médicos de todas as unidades federativas do Brasil e refletem o número de casos e mortes pela doença. São justamente nas cidades onde há mais relatos das carências que também são encontrados os maiores índices de infectados e, consequentemente, de perdas. A análise faz parte do primeiro relatório do Conselho Federal de Medicina (CFM) para aferir a situação das unidades de saúde em meio à pandemia. Foram registradas 16.879 inconformidades nas quase 2,2 mil denúncias feitas pelos profissionais. “Os resultados permitem inferir uma associação estatística entre a quantidade de denúncias apresentadas pelos médicos e o número de óbitos e de novos casos de covid-19 notificados em cada um dos estados. Isto significa que, quanto maior o número de denúncias, maior a probabilidade de casos existentes e óbitos”, aponta o presidente do CFM, Mauro Ribeiro.
As duas capitais com mais mortes também foram os que concentraram mais reclamações. Só em São Paulo e Rio de Janeiro foram relatados 187 e 161 denúncias, respectivamente. O Sudeste concentra o maior número de relatos dos médicos, com 947 (44%) no total. Proporcionalmente, é a região onde também foram notificados o maior número de casos – 74.727 (42%) – e de óbitos pelo novo coronavírus – 5.830 (51%).
Em seguida, o Nordeste concentra 28% das denúncias, o Sul, 12%, o Centro-Oeste 8% e o Norte, 7%. Apesar do Norte ter tido um menor percentual de registros de irregularidades, quase todos se concentraram em Manaus, somando 23 das 28 denúncias do estado amazonense.
A maioria dos denunciantes relataram problemas em hospitais (930), serviços de Atenção Primária (650) ou pronto atendimento (393). Segundo os médicos, 85% das carências são relacionadas aos serviços prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS), 10% eram privados, 3,4% eram filantrópicos e 1,7% não foi identificada a natureza do serviço.
A principal queixa é referente a falta de equipamentos de proteção individual (EPI). Pelo menos 1.585 formulários denunciaram falta de máscara N95 ou equipamento equivalente, além de falha na oferta de aventais (1.417 relatos), óculos ou protetor facial (1.215), máscara cirúrgica (1.038), gorro (697) e luvas (496).
Também houve um número acentuado de escassez de profissionais atuando na linha de frente, principalmente de enfermeiros. 974 formulários destacaram o problema, que representa 42,1% das carências no quesito recursos humanos. Outros 590 notificaram carência de médicos, 349 indicavam fragilidade em equipes de apoio – limpeza e cozinha, e 310 denunciaram falta de fisioterapeutas, entre outros.
Quanto aos insumos, a insuficiência de testes de diagnóstico também esteve entre as reclamações em 974 formulários. Falta de medicamentos, curativos e materiais para uso em UTI também entraram no rol de denúncias. Para o conselheiro responsável pelo Departamento de Fiscalização, junto ao CFM, Emmanuel Fortes, os dados revelados são um retrato da realidade brasileira e servem como uma forma de cobrança às autoridades.
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