Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 18:57
“Recebi a notícia com muita tristeza, indignação e revolta. A empresa deixou claro outra vez que não dá valor à vida humana”. Assim, Cristiano Mauro Assis Gomes, de 47 anos, se posiciona diante da petição da Backer enviada à Justiça, informando que a cervejaria não vai mais custear o tratamento dele por não ter dinheiro para tal, diante dos bloqueios de bens determinados pela Justiça. O professor de psicologia da UFMG era o único entre as vítimas a receber recursos da empresa para pagamento de procedimentos de saúde.
Cristiano recebeu o dinheiro por dois meses e o usava para custear consultas médicas para realizar simulações elétricas na face, quase que completamente paralisada por conta do consumo do dietilenoglicol, a substância química encontrada em diversos lotes da Backer.
“Minha face ficou quase toda paralisada. Não conseguia movimentar minha boca nem minhas sobrancelhas. Isso é uma característica do envenenamento. Por isso, tenho realizado alguns procedimentos elétricos na face que começam a melhorar meus movimentos. Esse tratamento não é coberto por plano de saúde. Antes, era pago pela Backer. Olha a importância disso”, disse.
De acordo com o homem, que ficou 74 dias internado em um hospital localizado na Grande BH, a intoxicação causa, sobretudo, dois prejuízos no corpo humano: limitações no funcionamento dos rins e neurológicas. Nessa última, o tempo é tão importante quanto à execução dos tratamentos.
“Temos poucos estudos sobre a implicação neurológica do dietilenoglicol. Certo é que quanto mais tempo você demora para realizar o tratamento, menos chance você tem de se recuperar. Essa postergação da Backer é uma estratégia cruel e maldosa”, afirma.
De acordo com a Associação das Vítimas da Backer, a cervejaria "utiliza-se de má-fé, como uma possível retaliação às vítimas do envenenamento, dias após a Justiça ter acrescentado no processo todos os sócios nominalmente, com seus bens, e algumas empresas”.
A investigação da Polícia Civil, de acordo com a associação, elenca, atualmente, 42 vítimas, sendo nove delas mortas e 33 vivas, entre pessoas que já receberam alta e outras ainda internadas.
Outro lado
Em nota, a Backer informou que “não possui qualquer recurso financeiro para dar continuidade aos pagamentos do acordo firmado” com Cristiano Mauro Assis Gomes por causa dos bloqueios judiciais.
A empresa também esclareceu que seis vítimas "não apresentaram a comprovação médica suficiente, indicando a existência de enfermidades similares à síndrome nefroneural”, causada pela intoxicação por dietilenoglicol, a substância encontrada em lotes da empresa.
Saiba Mais
A Backer informa, ainda, que o juiz da causa precisa indicar fontes para custeio do auxílio das vítimas, por meio da venda dos bens bloqueados.
De acordo com a empresa, se o juiz indicar quais bens devem ser vendidos, e caso as vítimas apresentem os laudos médicos comprobatórios, os tratamentos serão custeados.
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