Brasil

200 mil profissionais de saúde afastados

No dia em que o Brasil registra mais de 31 mil médicos e enfermeiros infectados com covid-19, relatório do CFM aponta denúncia de quase 17 mil irregularidades. Falta de pessoal está entre as reclamações mais frequentes. Região Sudeste concentra as queixas

Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 04:13




Do álcool em gel a membros de equipe. Falta de tudo. Sem condições necessárias para garantir a segurança de quem atua na linha de frente do combate ao novo coronavírus, quase 200 mil profissionais da saúde foram afastados com suspeita de covid-19 no Brasil. Milhares de médicos denunciam deficiências nas unidades de saúde, que vêm dificultando o trabalho e favorecendo o adoecimento. É justamente nas cidades onde há mais relatos de carências em que é encontrado o maior índice de brasileiros infectados e, consequentemente, de perdas. Em todo o país, dados do último balanço do Ministério da Saúde dão conta de quase 14 mil mortos em decorrência da pandemia, além de 200 mil casos confirmados.

Foram registradas 16.879 inconformidades nas quase 2,2 mil denúncias feitas pelos profissionais da saúde ao Conselho Federal de Medicina (CFM). “Os resultados permitem inferir uma associação estatística entre a quantidade de denúncias apresentadas pelos médicos e o número de óbitos e de novos casos de covid-19 notificados em cada um dos estados. Isto significa que, quanto maior o número de denúncias, maior a probabilidade de casos existentes e óbitos”, aponta o presidente do CFM, Mauro Ribeiro.

As duas capitais com mais mortes pela doença também são as que concentraram mais reclamações. Só em São Paulo e Rio de Janeiro foram relatadas 187 e 161 denúncias, respectivamente. O Sudeste reúne o maior número de relatos dos médicos, com 947 (44%) no total. Proporcionalmente, é a região onde também foi notificado o maior número de casos e de mortes — 74.727 (42%) e 5.830 (51%), respectivamente. O Nordeste aparece em segundo, com 28% das denúncias, seguido pelo Sul, com 12%; Centro-Oeste, 8%; e Norte, 7%.

Um dos destaques do relatório refere-se à escassez de profissionais atuando na linha de frente, principalmente de enfermeiros. Das queixas, 974 formulários destacaram o problema, que representa 42,1% das carências no quesito recursos humanos. É justamente esse grupo que representa a maioria dos profissionais afastados com suspeita de covid. Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem representam 51% dos afastados (101.983). Outros 26,5 mil médicos também foram afetados.

Dos 199.768 profissionais da saúde removidos com suspeita da doença, 31.790 tiveram resultado positivo para a infecção (16%). O diagnóstico de 114.301, ou seja, 57% desse montante, está sob investigação. Outros 53.677 deram negativo para o vírus e puderam voltar para os hospitais. O ministério não divulgou o número de profissionais mortos em razão da doença.

O secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, destacou que o número de afastamentos preocupa o Ministério da Saúde. “Independente de confirmados ou não os casos, todo profissional de saúde que apresenta sintomas precisa ser afastado do trabalho naquele período para se observar e prevenir a transmissão intra-hospitalar”.

Cobrança
A principal queixa do relatório diz respeito à falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade de referência no atendimento à Covid no Distrito Federal, servidores reclamam. “O fornecimento (de EPIs) é limitado e não atende aos padrões devidos e necessários. Alguns setores estão sendo privilegiados e têm acesso a mais equipamentos. Mas, por exemplo, o setor do banco de sangue, que assiste a todos os locais, não recebe todos os materiais”, disse um servidor, sob condição de anonimato. A Secretaria de Saúde do DF sustenta que, desde o início da pandemia, “a distribuição dos EPIs foi modificada, garantindo o uso racional, e evitando, assim, que haja desperdício neste momento”.

Para o conselheiro responsável pelo Departamento de Fiscalização, junto ao CFM, Emmanuel Fortes, os dados revelados são um retrato da realidade brasileira e servem como uma forma de cobrança às autoridades. “A saúde nunca foi prioridade efetivamente. Atenção básica, por mais capilaridade que tenha, não atende a todas as demandas. Ela está demonstrando toda sua habilidade agora, mas, mesmo assim, é maltratada com relação à infraestrutura e referenciamento, porque quando recebe, não tem para onde mandar”, problematiza Fortes. Segundo ele, partir da compilação das denúncias, o CFM espera intensificar a fiscalização e sensibilizar ministérios públicos para atuar nesse processo de monitoramento e cobrança por investimento.

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