Correio Braziliense
postado em 16/05/2020 13:00
Pesquisa inédita nos seis distritos com maior incidência de covid-19 na cidade de São Paulo mostra que até o inÃcio desta semana 5,19% dos moradores dessas localidades desenvolveram anticorpos ao vÃrus, destaca o Estadão. O levantamento aponta também que 91,6% dos casos de infecção estão fora das estatÃsticas oficiais.
O estudo, comandado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio do Instituto Semeia e participação de profissionais do Laboratório Fleury e Ibope Inteligência, fez exames sorológicos em 520 pessoas com mais de 18 anos nesses seis distritos. E 27 apresentaram anticorpos. Estudos com testes sorológicos são importantes porque ajudam a avaliar se uma determinada população está próxima ou distante da chamada "imunidade de rebanho" - momento em que o vÃrus passa a ter poucas rotas de contágio, pois a maioria das pessoas apresenta anticorpos por já ter sido contaminada. Com isso, autoridades planejam com mais precisão estratégias de flexibilização das medidas restritivas.
Na quarta-feira, o governo do Rio Grande do Sul divulgou os resultados de estudo segundo o qual apenas 0,2% dos gaúchos já foram contaminados com o novo coronavÃrus. O levantamento, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas, também estimou alta subnotificação: haveria nove casos para cada um dos notificados até o momento pelo sistema de saúde. Também na quarta-feira, o governo da Espanha anunciou dados de uma pesquisa em que cerca de 61 mil pessoas foram testadas em todo o paÃs. O resultado decepcionou os que esperavam estar próximos da imunidade. Na média nacional, 5% dos espanhóis já foram contaminados pelo novo coronavÃrus - ou seja, 95% da população ainda é suscetÃvel. Outro estudo, feito pelo Instituto Pasteur, na França, chegou a resultado parecido: 4,4% de contaminados na média do paÃs.
Não se sabe com segurança qual é o porcentual de habitantes que precisam desenvolver anticorpos até que se atinja a imunidade de rebanho. No caso do novo coronavÃrus, há estimativas que variam de 70% a 90%. Segundo o infectologista Celso Granato, diretor clÃnico do Fleury e um dos responsáveis pelo projeto, o número inicial reforça a necessidade das medidas de isolamento. "A Espanha teve três meses de lockdown. Nós estamos em plena fase de subida da curva e já temos mais de 5%", disse ele. Os cientistas planejam refazer os exames pelo menos uma vez por mês. No primeiro teste foram escolhidos os três distritos com maior registro de contaminação (Morumbi, Bela Vista e Jardim Paulista) e os três com maior número de óbitos (Pari, Belém e Ãgua Rasa), segundo a Prefeitura.
Equipes formadas por técnicos do Fleury e pesquisadores do Ibope foram de casa em casa para coletar amostras de sangue venoso dos moradores escolhidos por critérios exclusivamente estatÃsticos, inclusive os que não apresentaram sintoma.
Próximo passo
O próximo levantamento, marcado para começar no dia 10 de junho, vai incluir toda a cidade. "São Paulo é o epicentro da pandemia no Brasil. Nós querÃamos o epicentro do epicentro. Agora vamos fazer em toda a cidade", disse o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estadão, responsável por aglutinar os diversos agentes envolvidos no levantamento. A partir dos números coletados na próxima pesquisa será possÃvel calcular a velocidade com que a doença está se espalhando na cidade. "Os dados divulgados hoje são o ponto zero. Na próxima etapa vamos saber qual a velocidade", disse a CEO do Ibope Inteligência, Marcia Nunes Cavallari.
A pesquisa ajuda a dimensionar o alto Ãndice de subnotificação. Segundo o levantamento, 91,6% dos casos estão fora dos números oficiais. O motivo é a falta de testes. Com poucos recursos, apenas os casos mais graves, de pessoas que chegam a ir aos hospitais, são testados e contabilizados. Os pacientes assintomáticos ou com sintomas leves dificilmente chegam a ser testados. Estima-se que, entre os infectados, 80% desenvolvam sinais leves da doença como cansaço, febre ou dor de garganta. Já a nova pesquisa fez exames sorológicos com precisão de até 99,5% em pessoas escolhidas de acordo com critérios estatÃsticos, desconsiderando se os examinados desenvolveram ou não sintomas da doença. "Até agora essas pessoas eram invisÃveis nas estatÃsticas oficiais", disse Reinach.
Outro número revelador é a taxa de letalidade de 0,95% do vÃrus, bem inferior à média nacional de 6,9% do Ministério da Saúde. O motivo da diferença, mais uma vez, são pessoas assintomáticas ou com sintomas leves. "O Ãndice de letalidade logicamente é mais alto entre as pessoas que tiveram sintomas graves, foram ao hospital ou morreram", disse o biólogo.
Em artigo publicado nesta sexta-feira, a revista cientÃfica britânica The Lancet destaca a importância dos testes sorológicos para detectar indivÃduos que desenvolveram anticorpos na formulação de polÃticas pós-pandemia. "A discussão atual, por exemplo, aborda a noção de que a ampliação do teste de anticorpos determinará quem é imune, fornecendo assim uma indicação da extensão da imunidade do rebanho e confirmando quem poderia entrar novamente na força de trabalho", diz o artigo. "Mas quanto tempo dura a imunidade? A melhor estimativa vem dos coronavÃrus intimamente relacionados e sugere que, em pessoas que tiveram uma resposta de anticorpos, a imunidade pode diminuir, mas é detectável além de um ano após a hospitalização. Obviamente, estudos longitudinais com duração de pouco mais de um ano são pouco tranquilizantes, dada a possibilidade de outra onda de casos de covid-19 em 3 ou 4 anos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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