Brasil

Bolsonaro anuncia que general vai liberar hoje o protocolo da cloroquina

Bolsonaro diz que ministro interino assinará, hoje, o protocolo para prescrição do medicamento já nos primeiros sintomas da covid-19 e quem não quiser, ''toma Tubaína''. Coordenadora do Conselho Nacional da Saúde alerta para o perigo à vida com uso do remédio

Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 06:00

homem gesticulandoO presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, vai assinar, hoje, o novo protocolo para uso da cloroquina, que deve recomendar a prescrição do medicamento assim que pacientes apresentarem os primeiros sintomas da covid-19, e não apenas nos quadros graves da doença. O novo texto também vai definir as dosagens apropriadas para cada tipo de pessoa infectada.

 

Em live com o jornalista Magno Martins ontem à noite, Bolsonaro disse que Pazuello seguirá à frente do ministério “por enquanto”. “Deixa o Pazuello lá, tá indo muito bem. É uma pessoa inteligente, um gestor de primeira linha. Ele é de intendência, um tremendo de um gestor”, elogiou. Durante a entrevista, o presidente enalteceu o antecessor da pasta, Nelson Teich, a quem chamou de amigo. Segundo ele, o oncologista tem mantido contato com Pazuello para dar algumas dicas, ao contrário do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que foi criticado pelo chefe do Palácio do Planalto por ter reclamado da atuação do governo federal nas últimas semanas.

 

Tanto Mandetta quanto Teich, ambos médicos, deixaram o governo por não aceitarem as pressões de Bolsonaro para autorizar a flexibilização do isolamento social no país e a aplicação em larga escala da cloroquina. A vontade do chefe do Executivo sobre o medicamento não encontrou resistência em Pazuello, que não é médico e, sim, militar. Ao protelar a nomeação de um ministro titular, o comandante do Planalto evita um eventual novo desgaste na Saúde, em caso de mais divergência de pensamentos em relação ao combate ao coronavírus.

 

Efeitos colaterais

 

A coordenadora da Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (Cictaf) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Débora Melecchi, afirmou que a pressão do presidente Jair Bolsonaro pelo uso da cloroquina no tratamento da covid-19, mesmo sem comprovação da eficácia contra a doença, “está colocando em risco a vida de centenas de milhares de pessoas”. Ela também criticou o fato de o Conselho, a maior instância de deliberação do Sistema Único de Saúde (SUS), não estar sendo consultado sobre o assunto.

 

“Hoje, já existem vários estudos em andamento, dezenas de artigos publicados e com resultados mais negativos do que positivos, e o que de fato vem sendo demonstrado são os efeitos indesejáveis (da cloroquina), incluindo problemas cardíacos”, disse ao Correio. “O governo impor isso, ele está tratando com um olhar político, desrespeitando a ciência e colocando em risco as vidas de centenas de milhares de pessoas. Isso é muito grave”, destacou.

 

A representante do CNS também considerou que, por trás da pressão de Bolsonaro para o uso da cloroquina nos casos leves da covid-19, pode estar o desejo de dar destinação ao grande estoque do medicamento no Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEx). O aumento da produção da cloroquina foi determinada pelo presidente — nas últimas três semanas, o laboratório produziu 1.250.000 comprimidos, que estão sendo enviados aos estados. Segundo ela, o LQFEx) costumava produzir 125 mil unidades em um ano inteiro, principalmente para consumo interno contra malária, lúpus e artrite reumatoide.

 

“Se o ritmo de produção vier a ser mantido, pelo menos mais um milhão de comprimidos poderão ser produzidos nos próximos 30 dias. Então, a gente tem de começar a debater sobre quais são os interesses do presidente nisso”, afirmou. “É por que já está com o estoque elevado devido à alta produção pelo Exército? E os recursos públicos que estão sendo direcionados para isso, sem sabermos se há algo positivo? Nós já passamos por um desfinanciamento enorme, aí, pegam um montante para uma produção de um medicamento que é capaz de estar matando milhares de pessoas.”

 

Ela também criticou o fato de Bolsonaro ter anunciado, sem consulta ao CNS, mudanças no protocolo do Ministério da Saúde. Segundo ela, o presidente desrespeita a Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dá ao Conselho, composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, as seguintes atribuições: atuar na “formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive, nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo”. 

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