Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 06:00
É difícil imaginar que um inimigo invisível teria a capacidade de esvaziar ruas e encher milhões de cabeças de dúvidas e receio. De unir diferentes classes e setores em prol do bem-estar geral e, ao mesmo tempo, servir de argumento para suscitar ideologias políticas e dividir opiniões. Sem vacina ou tratamento, o novo coronavírus provoca uma onda de reações, agravadas pela capacidade de matar. Quase 18 mil brasileiros perderam as vidas em decorrência da doença, que não tem prazo para ir embora. O lockdown, medida de bloqueio total, já acontece em cidades do Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Amapá, Roraima e Paraná. A tendência, segundo estudiosos, é que vivamos um “efeito sanfona”, precisando equacionar a liberação e restrição de atividades pelos próximos anos.
No Rio, estado que confirmou 227 mortes pela doença no período de 24 horas, um recorde, a previsão é de adotar um lockdown intermitente durante dois anos. Em uma análise técnica-científica levantada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os pesquisadores afirmam que é necessário endurecer o isolamento social para reduzir o ritmo de crescimento de infectados pela covid-19 e capacitar o sistema de saúde para dar conta da demanda. A não adoção de medidas imediatas pode levar a um período prolongado de escassez de leitos e insumos, “com sofrimento e morte para milhares de cidadãos e famílias do estado do Rio de Janeiro”, diz o documento.
Em São Paulo, epicentro da doença no Brasil, o Ministério Público estadual trabalha junto ao governo para avaliar a possibilidade de adoção do bloqueio total. Apesar de endurecer as medidas de isolamento e prorrogar os prazos de reabertura de serviços não essenciais, a medida não está prevista no horizonte próximo.
Novo mundo
A técnica de lockdown intermitente leva em conta a incidência de casos, a capacidade do sistema de saúde em receber novos pacientes e a aderência da população às regras de higienização e distanciamento. O objetivo é controlar a disseminação, permitindo equilibrar o crescimento e conseguir assistir aos doentes, evitando mortes desnecessárias. Nesse sentido, as variações de cada região contam, mas a manutenção de intermitência é considerada a estratégia para os demais estados. “Teremos que nos preparar para várias reaberturas e talvez alguns retornos ao isolamento de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas”, estima a presidente executiva do grupo Sabin, Lídia Abdalla.
Bioquímica de formação, Lídia, que lidera um dos principais players de medicina diagnóstica do país, reconhece o desafio contemporâneo e as mudanças irreversíveis que a pandemia encabeçou no campo das relações, dos negócios, da saúde, de vida. “Acredito que quando sairmos da pandemia, encontraremos um novo mundo.”
A técnica de lockdown intermitente leva em conta a incidência de casos, a capacidade do sistema de saúde em receber novos pacientes e a aderência da população às regras de higienização e distanciamento. O objetivo é controlar a disseminação, permitindo equilibrar o crescimento e conseguir assistir aos doentes, evitando mortes desnecessárias. Nesse sentido, as variações de cada região contam, mas a manutenção de intermitência é considerada a estratégia para os demais estados. “Teremos que nos preparar para várias reaberturas e talvez alguns retornos ao isolamento de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas”, estima a presidente executiva do grupo Sabin, Lídia Abdalla.
Bioquímica de formação, Lídia, que lidera um dos principais players de medicina diagnóstica do país, reconhece o desafio contemporâneo e as mudanças irreversíveis que a pandemia encabeçou no campo das relações, dos negócios, da saúde, de vida. “Acredito que quando sairmos da pandemia, encontraremos um novo mundo.”
Nunca na história contemporânea se parou o mundo como atualmente, em decorrência da covid-19. Quando as atividades começarem a se normalizar, quais serão as principais mudanças?
Este é um momento de muitas mudanças para todos nós. Também é um momento que traz muita reflexão e muitos desafios. Temos apostado na colaboração como uma forma de enfrentar a crise e penso que o sentimento de coletividade irá perdurar após o coronavírus. Iremos nos fortalecer dentro das empresas com gestões mais colaborativas e com uma preocupação maior com o cliente e o com os colaboradores.
Na saúde, a telemedicina também será uma importante aliada, mas o cuidado e a atenção ao paciente continuarão sendo importantes diferenciais. Entretanto o olho no olho entre paciente e médico não será substituído. Como a saúde se mostrou nosso maior bem durante a pandemia, acreditamos que pós-Covid a sociedade vai estar mais preocupada com o bem-estar e com a saúde física e mental. Com isso a medicina preventiva e preditiva estarão mais forte no acompanhamento médico.
Em geral, as empresas, após a crise gerada pela necessidade de isolamento social para conter a proliferação do vírus, terão que rever as suas prioridades e importâncias. A pandemia antecipou mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, uso de videoconferência e ferramentas de trabalho colaborativo, a educação a distância, novas parcerias para a sustentabilidade e a exigência, por parte da sociedade, para que as empresas se preocupem com a responsabilidade social. A solidariedade também acentuada neste momento irá seguir. As corporações que não vinham trabalhando essas mudanças antes correrão sérios riscos de sobrevivência no mundo pós-Covid.
Há uma grande expectativa de que tenhamos que conviver por um tempo em uma espécie de efeito sanfona, em que se libera e depois recua. Acredita que isso realmente vai acontecer?
Tudo nesta pandemia é muito novo para todos nós. Enquanto não temos vacinas ou medicamentos comprovadamente eficaz para tratar a doença, a melhor forma de prevenir é com o distanciamento social. Nosso país é muito grande e com diferenças sociais e demográficas relevantes. Cada região está em uma fase diferente da pandemia o que vai exigir ações e medidas regionais. Não temos como prever como será a reabertura. Teremos que nos preparar para várias reaberturas e talvez alguns retornos ao isolamento de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas.
Aprendemos com o novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas. Temos um plano de contingenciamento de crise que está em execução e estamos trabalhando na transformação.
Como as empresas, sociedade e gestores públicos devem se portar diante desse cenário de “abre e fecha” para diminuir impactos negativos e conseguir sobreviver?
A resiliência, união e a inovação serão as chaves para ultrapassarmos todas as dificuldades que a pandemia irá trazer.
Dentro das empresas, o papel dos colaboradores é essencial. Desde a liderança até quem está atuando diretamente com o cliente no dia a dia. As empresas precisam estar atentas à saúde física e mental do colaborador.
Reorganizamos nossa a estrutura física e adotar novas escalas de trabalho na sede, implantar o agendamento nas unidades especializadas para reduzir aglomerações de pessoas. Elaboramos o “Guia de Orientação” para que os profissionais em home office possam manter a produtividade e cuidados com a saúde, evitar a ansiedade e o estresse provocados pelo isolamento. Produzimos também um “Guia de Isolamento Domiciliar”, com informações voltadas para a proteção do colaborador e de seus familiares, em caso de contaminação. Além de adotar protocolos especiais para acolher e cuidar daqueles que fazem parte do grupo de risco como colaboradores acima de 60 anos, com doenças crônicos e gestantes. Este é o momento dos líderes passarem para as equipes empatia, segurança e humildade por este ser um momento em que não temos nenhuma certeza mas que estamos juntos nesse desafio.
É essencial também ter um excelente canal de comunicação com todos os stakeholders da empresa para mostrar transparência durante esse período de crise e para que todos possam pensar em soluções juntos.
Dentro da sociedade será necessário colocar o bem coletivo antes do bem individual. O autocuidado como forma de proteger o outro, não só a si mesmo. Todos estamos passando por diferentes dificuldades nesse momento. Acho que a colaboração é essencial. Só vamos conseguir nos reerguer se estivermos juntos.
Como olhar focado na saúde pode facilitar o retorno das atividades econômicas o mais rapidamente possível?
A saúde é o maior bem de uma pessoa. A pandemia se difere das últimas crises enfrentadas pela humanidade porque é uma crise de saúde que está trazendo profundas consequências econômicas. É preciso ter muita serenidade para tomar decisões que promovam a saúde física, emocional e financeira da população.
Como é uma situação muito nova para todos nós, acreditamos que as decisões precisam ser tomadas a curto prazo. O cenário ainda está em construção. A situação muda a cada momento. Como temos um adversário invisível e contagioso, o isolamento social evita que o sistema de saúde entre em colapso e vidas sejam preservadas. Ao mesmo tempo precisamos ter uma plano estratégico para a retomada da economia preservando empregos e as empresas.
Países como Alemanha que investiram no isolamento, resguardaram a saúde da população e já estão retomando suas atividades econômicas.
A ampliação de testes e diagnóstico influencia nessa abertura gradativa?
A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é testar a maior quantidade possível de pessoas. A testagem contribui para dois pilares a saúde individual e a saúde coletiva para que possamos apoiar o diagnóstico da doença e seu adequado tratamento, bem como a adoção de medidas e políticas públicas para proteger e cuidar da saúde da população.
Os dados que temos hoje da prevalência da doença acabam nos revelando mais sobre a capacidade de testagem do que da real disseminação do vírus.
Os insumos disponíveis não viabiliza os testes em toda a população. Por isso os recursos devem ser racionalizados e utilizados de forma estratégica, priorizando os pacientes sintomáticos ou contactantes a partir de uma avaliação médica. Temos trabalhado incansavelmente no setor privado e no setor público para atender a demanda de exames. Atendemos também ao chamado de parceria da Secretaria de Saúde do Distrito Federal para processar os exames de RT-PCR para detecção do novo coronavírus para o GDF, ampliando a capacidade de testagem da doença. A previsão é a realização de 20 mil exames ao longo de 180 dias, contribuindo com o Laboratório Central (Lacen) no atendimento à demanda para suporte ao diagnóstico da doença na rede pública local.
Infelizmente todos os países atuam com uma capacidade total exames e os insumos estão com alta demanda em todo o mundo, nossa gestão e parceria com fornecedores têm sido chave . O Sabin foi uma das raras empresas que conseguiu manter a realização de exames de forma ininterrupta no país. Instalamos um comitê de crise multidisciplinar para análise e implantação das ações de enfrentamento ao COVID-19 na empresa. Além de acompanhar todos os reports da Organização Mundial da Saúde, acerca da pandemia, bem como estatísticas de todo Brasil, o grupo também é responsável pela análise de impactos e riscos, bem como ações de contingência e adaptação de nossos processos, estruturas internas e externas e, principalmente, gestão de equipes diante da pandemia e também pela implantação das ações estratégicas de transformação pós-crise.
O Brasil e o mundo sentiram as desvantagens de concentrar produções de insumos e tecnologias em locais específicos. O que isso traz de reflexão para que haja uma reformulação quanto a essa dinâmica em um mundo pós-pandemia?
Acredito que haverá uma descentralização da produção de insumos em países específicos. Atuamos em mais de 50 cidades brasileiras em 13 estados da federação e tivemos que buscar fornecedores em diferentes países para superar as dificuldades logísticas e assegurar insumos para realização de exames em todo o país, de forma ininterrupta.
Penso que muitos empreendedores em todo o mundo vão perceber essa situação como uma oportunidade para começar a produzir insumos que antes não eram desenvolvidos em seus próprios países. Pode ser que essa necessidade acabe estimulando a busca pela produção local de novos tipos de materiais, ferramentas e tecnologias, ou seja, novas cadeias produtivas que podem gerar também muitos empregos no país.
O Brasil, de forma geral, pode tirar experiências positivas disso tudo?
A crise do coronavírus vai deixar algumas lições positivas para os brasileiros. A principal delas será que precisamos uns dos outros para sobreviver a cenários como este. O coletivo nunca foi tão importante. Precisamos cuidar uns dos outros.
Estamos entendendo que a saúde é um bem essencial para todos. A medicina diagnóstica não é commodities, ela envolve profissionais super especializados, uma cadeia produtiva e logística complexas. Os cuidados integrados do corpo e da nossa mente se tornam mais relevante nesse contexto.
A crise traz muitas lições aprendidas. Além da nossa prioridade de manter nosso atendimento à população, cuidando da saúde, também estamos dedicados à novas formas de contribuir com as empresas na gestão da saúde de seus colaboradores, pois esse é um ponto de sustentabilidade fundamental para que a economia reaja e que os empregos sejam preservados.
Cada um deve fazer o seu papel buscando um olhar mais coletivo e menos individual. Cooperação e parceria são palavras chaves.
Sentimos a vulnerabilidade diante de um inimigo invisível. Quais atitudes devemos aderir para que, diante de um novo vírus, possamos lidar melhor com a situação?
Aprendemos com o novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas. Temos um plano de contingenciamento de crise que está em execução e estamos trabalhando na transformação da empresa pós-crise.
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