Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 16:03
Os especialistas são unânimes: não há evidência científica que embase o uso da cloroquina como tratamento para covid-19; nem nos casos graves e, muito menos, nos estágios iniciais da doença. A lançadas nesta quarta-feira (20/5), pelo Ministério da Saúde, no entanto, devem exercer pressão sobre os médicos para a prescrição.
"Acho que deve gerar uma grande pressão sobre os médicos, não só pela recomendação em si, do governo, mas, sobretudo, pela pressão do público leigo, pacientes e familiares, pela prescrição da droga", avalia o especialista em terapia intensiva Jorge Salluh, do programa de pós-graduação em clínica médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O especialista lembra que, como se trata de uma doença grave e ainda relativamente desconhecida, já há uma pressão natural para se testar diferentes medicações, mesmo sem eficácia comprovada. A recomendação do governo dá mais peso a isso. "Mas esse não é um cenário favorável às melhores escolhas", diz. "No passado, em todas as situações em que isso foi feito, os resultados não foram bons."
Para Salluh, no entanto, deve haver também um outro tipo de pressão, voltada para o futuro. "Qualquer um que prescrever essa droga hoje, no futuro, pode ser processado por má prática, no meu entender", afirmou. "Porque prescreveu uma droga sobre a qual não há benefícios comprovados e existe um potencial de risco ligado à dosagem."
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunologia, a escolha da terapia com cloroquina ou hidroxicloroquina, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica da pandemia.
"Este posicionamento não apenas carece de evidência científica, além de ser perigoso, pois tomou um aspecto político inesperado", informou em comunicado assinado por 22 especialistas. "Nenhum cientista é contra qualquer tipo de tratamento, somos todos a favor de encontrar o melhor tratamento possível, mas sempre com bases em evidências científicas sólidas "
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"Ou seja, não há evidências para uma recomendação de uso, salvo no contexto de estudos clínicos", concluiu o infectologista Fernando Bozza, da Fiocruz.
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