Correio Braziliense
postado em 29/05/2020 06:00
Somente um em cada três pacientes de covid-19 entubados em unidades de terapia intensivas no país sobrevive. Os dados são do projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e do Epimed. Mais de 30% dos pacientes internados com covid-19 pesquisados não resistiram. A estatística fica ainda mais preocupante se analisados os casos que precisaram do auxílio de ventilação mecânica para continuar respirando. Nessa situação, 66,2% dos pacientes morreram.
Especialistas ouvidos pelo Correio explicam que, entre os principais desafios no tratamento dos casos graves da doença, estão as complicações respiratórias e a rapidez da evolução do vírus.
Coordenador da emergência do Hospital Águas Claras, em Brasília, Rodrigo Biondi destaca que o primeiro grande desafio para tentar frear as estatísticas é a rapidez do agravamento da doença. “Diferentemente de outras patologias, os pacientes graves de covid-19 evoluem muito rapidamente para insuficiência respiratória, alguns, em horas. Além disso, não sabemos exatamente qual paciente vai evoluir para insuficiência respiratória e qual não vai”, explica o médico.
São justamente as complicações respiratórias que levam os pacientes às UTIs e à morte. “Lembrando que esses casos são exceção; é uma doença que é grave em uma pequena parcela dos pacientes”, ressalta Biondi. Das pessoas internadas, 7% precisam ser levadas para a emergência. Ainda assim, o crescimento exponencial da transmissão do vírus no país tem reflexos no alto número de mortes pela covid-19.
Tempo de internação
O levantamento da UTIs Brasileiras analisou 13.695 leitos — sendo 10.011, privados, e 3.684, públicos — de 1º de março a 15 de maio. Segundo o estudo, a internação hospitalar dos pacientes com coronavírus durou 12,7 dias, em média. Especificamente na UTI, o tempo médio de permanência nos hospitais públicos foi de 11 dias, nos particulares ficou entre 9 e 10 dias. Pneumologista e intensivista do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, Thiago Fuscaldi diz que a maior parte dos pacientes internados da unidade precisa ficar no ventilador por duas ou até três semanas, enquanto o habitual, antes da pandemia, era de três a cinco dias.
“Com esse tempo prolongado na UTI, o paciente tem mais risco de complicações relacionadas ao próprio tratamento. Por isso mesmo, faz toda a diferença na sobrevida a qualidade dos cuidados prestados na UTI”, destaca Fuscaldi.
Os doentes que precisam ser entubados são aqueles em que a pneumonia causada pela covid torna-se tão grave que, mesmo usando oxigênio por um cateter ou uma máscara, o paciente mantém-se com muita falta de ar e baixa oxigenação no sangue. “Nesses casos graves, sem o ventilador, o paciente iria morrer rapidamente sufocado”, completa o médico.
Segundo a pesquisa, a ventilação mecânica não-invasiva atendeu a 12,2% dos pacientes internados nos hospitais brasileiros avaliados pelo estudo. A ventilação por cateter, por outro lado, foi necessária em 39,6% dos casos.
Pasta da Saúde “acompanha”
O Ministério da Saúde disse acompanhar de perto a situação das unidades de terapia intensiva no país para dar aporte aos estados e municípios. “Já estão em andamento diversas medidas para ampliação do atendimento, como abertura de leitos de UTI de instalação rápida e transferência de pacientes com tratamento prolongado para hospitais de pequeno porte, para desafogar os hospitais de referência nos grandes centros”, afirmou a pasta, em nota. Até o momento, o governo federal habilitou 6.344 leitos de emergência em todo o país. Para isso, a pasta da Saúde divulgou ter investido mais de R$ 911,4 milhões, pagos em parcela única aos estados e municípios, para custeio dos novos leitos nos próximos 90 dias. Foram entregues, ainda, segundo o ministério, 1.437 respiradores pulmonares para 17 estados brasileiros.
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