A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus continua avançando rapidamente no país. Ontem o número de casos confirmados chegou a 514.849 em todo o território nacional. De acordo com o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, foram 16.409 novas infecções registradas nas últimas 24 horas. No mesmo período, 480 novos óbitos por covid-19 foram confirmados. Com a atualização de ontem, o Brasil contabiliza 29.314 mortes, ocupando o quarto lugar de óbitos no ranking mundial. A quantidade de mortes anunciada no domingo está abaixo dos 952 registros de sábado. No entanto, isso não significa que a disseminação do vírus esteja perdendo força. Os números caem nos fins de semana, em razão de uma defasagem dos dados repassados pelas secretarias de saúde dos estados.
Em números absolutos, o Brasil é o segundo país no mundo com o maior número de infecções por covid-19. Está atrás dos Estados Unidos, que têm 1,7 milhão, e à frente da terceira colocada, a Rússia, que registra 405,8 mil casos, de acordo com dados compilados diariamente pela Universidade Johns Hopkins. “Mas é preciso ter em mente que esse número é uma subestimação, pois o país tem uma baixa taxa de teste", afirmou Marco Aurélio Safadi, infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. No sábado, o Brasil teve recorde de infecções em um dia. Foram 33.274 novos casos registrados de sexta para sábado. Além disso, o país superou a França em número de mortalidades, chegando à quarta colocação no mundo. Está atrás de Estados Unidos (104.232), Reino Unido (38.571) e Itália (33.415).
Para o especialista da Santa Casa de São Paulo, ainda não é possível dizer se o Brasil atingiu ou não o pico da epidemia. Mas, segundo ele, é certo de que o país se encontra em um impasse que se arrasta há tempos por falta de medidas mais assertivas de testagem e distanciamento social. Os próprios políticos, diz ele, se veem fragilizados ao utilizar a retórica de lockdown (bloqueio total) por falta de apoio popular. “O desgaste político é tão grande que não há mais clima para solicitar o lockdown, porque ninguém mais suporta. Eles percebem que não é uma medida popular e acabam se acanhando em fazer aquilo que deveria ter sido feito lá atrás. Nossa população não é como a da Europa. Temos uma população carente muito grande que, em momentos como esse, sofre muito mais. Nossas desigualdades se escancaram em momentos assim”, avalia Safadi.
Ele relembra que, do ponto de vista sanitário, não é recomendável permitir qualquer medida de relaxamente em relação à pandemia. “Uma das condições inequívocas para que se faça o relaxamento é que haja um cenário consistente de redução de casos e de mortes. E quando eu falo 'consistente', não são dois ou três dias, que podem ser fruto do feriado ou fim de semana. São, pelo menos, de 10 a 15 dias de queda de casos. E os números não estão mostrando isso”, observa o infectologista. Em meio à expansão da doença e nenhuma perspectiva de abrandamento, o Brasil continua sem um titular efetivo no comando do Ministério da Saúde.
Estados
O estado de São Paulo continua liderando a lista de casos e óbitos. Na região, 109 mil pessoas já testaram positivo para a doença e 7.615 morreram. Em segundo lugar aparece o Rio de Janeiro, com 53.388 infecções e 5.344 mortes. A pandemia também avança com força no Ceará, com 48.489 infectados e 3.010 mortes, seguido do Amazonas, com 41.378 contaminados e 2.052 mortes.
O Distrito Federal tem 9.780 infectados, encostando nos 10 mil casos confirmados. O DF chegou a 170 mortes.
O estado do Rio de Janeiro vai prorrogar as medidas preventivas à pandemia por mais uma semana, com o auxílio das equipes de segurança pública. Em comunicado oficial, o Palácio Guanabara informou que a extensão da quarentena vai ser publicada no Diário Oficial de hoje. Nesta segunda-feira, o governo estadual se reúne para avaliar a reabertura gradual da economia. No encontro, serão discutidos o cronograma de flexibilização das medidas restritivas e as regras técnicas que devem ser cumpridas por cada segmento econômica.
Nicolau morre com suspeita
O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto morreu, ontem, aos 91 anos, com suspeita de covid-19. Há alguns dias ele foi hospitalizado em São Paulo, com quadro de pneumonia. O ex-juiz ficou conhecido pela condenação em três processos relacionados a desvios de R$ 170 milhões (mais de R$ 1 bilhão em valores atualizados) das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo na Barra Funda. À época, o magistrado era presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
O ex-juiz foi preso em caráter preventivo em 2000. Em 2006, Nicolau foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) sob acusação de lavagem de dinheiro, corrupção e fraude no processo de concorrência do fórum. Em dezembro de 2013, o TRT-2 cassou a aposentadoria do ex-magistrado.
Concedido em 2012 pela ex-presidente Dilma Rousseff, o indulto a Nicolau dos Santos só foi executado em 2014 devido à transferência do processo da Justiça Federal para a Justiça Estadual. Nicolau cumpriu a maior parte da pena em regime domiciliar, mas foi transferido para a Penitenciária 2 (P2) de Tremembé em março de 2013. O indulto livrou o réu, conhecido como “Lalau”, de processos penais que tramitaram contra ele.
Durante o escândalo do TRT paulista, o Ministério Público Federal constatou que Nicolau dos Santos amealhou patrimônio incompatível com os rendimentos, inclusive uma casa luxuosa no Guarujá, um apartamento em Miami (EUA) e US$ 4 milhões na Suíça. Todos esses bens foram confiscados pela Justiça. Parte do montante depositado na Suíça teria sido repassada para a conta de Nicolau pelo então senador Luiz Estevão, também condenado criminalmente no mesmo processo. A Justiça entendeu que Estevão cometeu os crimes de corrupção ativa, estelionato e peculato. A sentença determinou 26 anos de reclusão ao ex-parlamentar.
EUA enviam cloroquina ao Brasil
Os Estados Unidos enviaram dois milhões de doses de hidroxicloroquina ao Brasil, anunciou ontem a Casa Branca. “Os povos americano e brasileiro estão em solidariedade na luta contra o coronavírus. Hoje, como prova dessa solidariedade, anunciamos que o governo dos EUA enviou dois milhões de doses de hidroxicloroquina ao povo do Brasil”, informou a presidência dos EUA em comunicado.
A hidroxicloroquina “será usada como profilática para proteger enfermeiros, médicos e profissionais de saúde no Brasil do vírus. Também terá um uso terapêutico para tratar brasileiros infectados”, acrescentou. O presidente dos EUA, Donald Trump, que expressou sua proximidade com seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, intensificou a controvérsia em torno da hidroxicloroquina quando anunciou dias atrás que começou a tomá-la diariamente, como medida preventiva, apesar das recomendações contrárias das autoridades sanitárias americanas.
Bolsonaro, por sua vez, está convencido dos efeitos da hidroxicloroquina. Na semana passada, o Ministério da Saúde do Brasil recomendou o uso para todos os pacientes de covid-19, inclusive casos leves.
A hidroxicloroquina é utilizada há muito tempo contra a malária, mas sua eficácia eventual contra o novo coronavírus até agora não foi demonstrada por nenhum estudo rigoroso. Vários ensaios clínicos foram suspensos em todo o mundo e alguns países, incluindo a França, proibiram o uso da medicação no tratamento da covid-19.
A Casa Branca também indicou que os Estados Unidos enviarão, em breve, 1.000 respiradores para o Brasil como parte da luta contra a covid-19.
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