Correio Braziliense
postado em 03/06/2020 22:33
Enquanto os números da COVID-19 disparam nas maiores cidades do Brasil, Florianópolis parece ter conseguido controlar a pandemia. A capital de Santa Catarina, cuja população é de 500 mil habitantes, tem taxa de transmissão (R0) considerada baixa, soma 814 casos e não registra mortes em decorrência da doença há um mês. Segundo os dados oficiais, o último dos sete óbitos foi confirmado em 4 de maio. Mas como o município evitou um avanço desenfreado do coronavírus?
Há algumas medidas apontadas pela administração municipal como fundamentais para conter a pandemia. A primeira delas é o estabelecimento precoce de normas para manter as pessoas em casa. “Já no dia 13 de março, tivemos o primeiro decreto para o isolamento social, um dos primeiros entre as capitais do Brasil. Tivemos praticamente uma quarentena estabelecida na nossa cidade”, conta o prefeito Gean Loureiro (DEM), em entrevista ao Estado de Minas.
No aeroporto internacional da cidade, foram instaladas barreiras sanitárias. Nos desembarques, os passageiros são submetidos a um protocolo que inclui um teste de coronavírus e recebem orientações para permanecerem em casa por pelo menos sete dias - prazo dobrado em caso de pessoas com sintomas da doença.
Já nos primeiros dias de combate ao vírus, o entendimento da secretaria de saúde local era o de seguir os rumos de países que conseguiram bons resultados no enfrentamento à pandemia. Por isso, a cidade ampliou a testagem da população, estratégia que conseguiu ser implementada em função da compra antecipada de exames. “Isso permite que a gente, além de identificar a doença de maneira precoce, tratando para não chegar em estado grave, consiga testar todos os contatos dos últimos sete dias (de quem testou positivo)”, diz Loureiro.
A estratégia de enfrentamento à pandemia na cidade também passa por multar quem descumprir as normas sanitárias, monitorar o deslocamento das pessoas para medir o nível de isolamento social, identificar as redes de contato de quem testou positivo e criar um serviço de telemedicina que atendeu cerca de 60 mil pessoas (12% da população da cidade). “Estamos falando de pelo menos 10 mil idosos que iriam a unidades de saúde com o risco de contaminarem ou serem contaminados”, diz Loureiro.
A tecnologia também foi usada para conscientizar a população. Pessoas que vivem em casas localizadas a até 200 metros de pacientes diagnosticados com COVID-19 recebem notificações. “Foram disparados mais de 20 mil SMS (mensagens de texto) informando que existiam casos próximos. Isso começou a dar uma demonstração de que a doença estava mais próxima da pessoa do que ela imaginava”, afirma.
Reabertura
Em meio ao cenário tecnicamente positivo, Florianópolis começou a reabrir o comércio já em 20 de abril. O entendimento das autoridades públicas locais é que a cidade está em fase de “risco moderado” no enfrentamento à pandemia. Portanto, as lojas devem seguir algumas regras, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, o limite de um cliente por atendente e o espaço de quatro metros quadrados entre as pessoas.
“Nas nossas medidas, levamos em conta um artigo que foi publicado na Universidade de Stanford, que é o The Hammer and the Dance (O Martelo e a Dança), que explica o combate nas cidades que tiveram sucesso. Você dá a martelada, que é praticamente uma quarentena geral. Nosso R0, que é o fator de transmissão, estava em 3,7 e caiu para 1,2. Mantivemos o isolamento. Hoje, é 0,89, com oscilação de 0,2 para cima ou para baixo. Isso significa que uma pessoa transmite para menos de uma pessoa. E a gente controla essa dança (reabertura da cidade)”, diz Loureiro.
Nos primeiros dias de reabertura do comércio, o Centro de Florianópolis teve grande movimentação de pessoas. Apesar disso, a capital catarinense não apresentou crescimento exponencial no número de casos da doença. O entendimento é que as medidas de precaução têm sido cumpridas pela população. O processo de retomada das atividades avançará na próximo dia 17, quando o transporte coletivo municipal voltará a funcionar após quase três meses parado. Contudo, as linhas intermunicipal, interestadual e internacional, além de fretados, continuarão suspensas.
As regras para o retorno dos ônibus, que não funcionarão nos fins de semana, já estão alinhadas pelas autoridades sanitárias. As normas incluem testagem e treinamento de todos os trabalhadores, ampliação da frota, lotação máxima de 40% dos assentos disponíveis, obrigatoriedade de uso de máscara, proibição de pagamento em dinheiro (para evitar contato entre as pessoas), disponibilização de álcool em gel e monitoramento do cumprimento das medidas por meio de câmeras.
Para evitar aglomerações nos ônibus e nos terminais, outra medida foi dividir a atividade econômica da capital em oito grupos e definir períodos específicos de funcionamento para cada um deles. O objetivo é evitar os ‘horários de pico’ e manter os índices de lotação dos ônibus entre 20% e 30%.
Saiba Mais
Apesar do avanço na reabertura da cidade, Loureiro relatou que há pressão, especialmente do setor empresarial, para acelerar o processo. “Imagine todo o comércio abrir no estado e só não abrir em Florianópolis. Como foi a pressão em cima de mim? Imagine todo o transporte coletivo funcionando e o nosso só abrindo no dia 17, com o comerciante dizendo que não tem cliente para comprar porque não tem ônibus para levar até o centro da cidade. É natural que se tenha uma pressão. A pressão é até legítima. Meu papel é avaliar essa pressão dentro de um quadro técnico”, finalizou.
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