Brasil registra 1.349 mortes por coronavírus e bate novo recorde diário, totalizando 32.548 óbitos. Em apenas 24 horas, foram contabilizados mais 28.633 casos de covid-19, chegando a 584.016 confirmações. Sem capacidade para controlar a disseminação do novo coronavírus, que, desenfreado, avança no processo de interiorização, o país se agarra a uma nova oportunidade: ser o primeiro país “de fora” a testar a vacina contra a doença desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Os estudos começam este mês e, para isso, dois mil voluntários soronegativos para a covid-19 serão selecionados, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Das mais de 70 vacinas em desenvolvimento em todo o mundo, é a que se encontra em estágio mais avançado.
Para realizar os testes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisou publicar uma autorização. Em São Paulo, o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conduzirá as avaliações, que contarão com o apoio do Ministério da Saúde. Segundo Dra. Lily Yin Weckx, investigadora principal do estudo e coordenadora do CRIE-Unifesp, “o mais importante é realizar essa etapa do estudo agora, quando a curva epidemiológica ainda é ascendente e os resultados poderão ser mais assertivos.”
O país foi escolhido justamente pela grande quantidade de casos e a baixa capacidade de mapear as áreas centrais de infecção para restringir a disseminação da covid-19. Isso porque o objetivo é conseguir avaliar a resposta da vacina quando se pressupõe que a população já está exposta ao vírus.
O prazo para observar os resultados de uma vacina normalmente variam entre um ano e um ano e meio. Neste caso, o tempo estipulado foi de dois meses, por se tratar de uma situação emergencial. Para isso, a Unifesp busca mil voluntários que estejam na linha de frente do combate à covid-19. Esses voluntários não podem, no entanto, ter contraído a doença anteriormente. Outras mil pessoas farão parte do teste no Rio de Janeiro.
Apesar de todos receberem uma vacina, apenas em metade conterá a imunização contra o novo coronavírus. A técnica que separa os participantes em grupo controle e grupo teste é chamado de estudo randomizado, usado para validar experimentos científicos. O esperado é que, antes de ser exposto à covid-19, quem recebeu a vacina já tenha produzido anticorpos e seja capaz de combater a doença.
De acordo com os cientistas de Oxford, a glicoproteína “de pico” do novo coronavírus foi adicionada ao material genético de uma versão enfraquecida do vírus de resfriado retirado do chimpanzé. A vacina foi testada primeiramente em um grupo de macacos. Após 28 dias, todos haviam desenvolvido anticorpos e, ao serem expostos a altas doses do vírus, os estudiosos observaram a capacidade de não provocar danos aos pulmões e maior dificuldade do vírus de criar cópias de si mesmo.
Dentre os mais de 70 imunizantes em desenvolvimento atualmente em todo o mundo, este é considerado o mais avançado e está entre os mais promissores. Parte disso porque a vacina desenvolvida por Oxford já era objeto de estudo para imunização contra Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), também causadas por coronavírus.
Fase 3
Na Inglaterra, os testes já foram feitos em humanos para avaliar a segurança da vacina e os resultados mostraram que o perfil de segurança do medicamento foi aceitável. A nova etapa de testes, chamada de fase três, pretende determinar a segurança, a eficácia e a imunogenicidade da vacina. “A gente chama estudo de fase três porque é a fase final, é um confirmatório, último conduzido antes da aprovação de um registro para que uma vacina possa ser disponibilizada no mercado”, explica o gerente geral de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gustavo Mendes.
Outros países buscam a autorização para testar a vacina, mas a participação ainda está em análise. No Brasil, o estudo contará com a ajuda da Fundação Lemann para o custeio da infraestrutura médica e dos equipamentos necessários para a realização dos testes. Os resultados dessa fase são essenciais para o registro da vacina no Reino Unido.
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