Brasil

Declaração infeliz faz Wizard desistir

Correio Braziliense
postado em 08/06/2020 04:12

"Além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”
Trecho da nota do Conass em resposta à insinuação do empresário de que governos e municípios manipulavam o número de vítimas da covid-19





O empresário Carlos Wizard Martins nem entrou no Ministério da Saúde e está fora. A razão foi a declaração que deu, na última sexta-feira, de que a pasta revisaria os dados de contaminados e mortos pelo novo coronavírus, com base em uma suspeita de que os estados estariam “inflando” os números. A observação que fez gerou várias reações negativas ao longo de todo o fim de semana, dentro e fora do governo. Ontem, ele decidiu que não mais assumiria a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.

Em nota, agradeceu ao ministro interino Eduardo Pazuello e admitiu que errou no comentário. “Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”. Wizard fez a observação no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro reconheceu que mandara atrasar a divulgação dos dados, do Ministério da Saúde, sobre os mortos e contaminados pelo novo coronavírus, para atrapalhar o noticiário noturno das TVs abertas — “acabou matéria no Jornal Nacional”, comemorou junto aos apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada.

Wizard estava informalmente na equipe de Pazuello, a quem conheceu na Operação Acolhida, em Roraima, de recebimento de refugiados venezuelanos, em 2018. Rumores também davam conta, ainda, de que o empresário seria “preparado” para assumir o lugar de Abrahan Weintraub no Ministério da Educação.

A desastrosa declaração de Wizard não apenas colocou em dúvida os números de mortos e contaminados pela covid-19, como deu a entender que havia uma pressão dos governadores contra o Palácio do Planalto pela obtenção de recursos contra o estrangulamento econômico provocado pela pandemia. Segundo o empresário, “tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid”, disse, de acordo com o blog da jornalista Bela Megale, de O Globo.

A reação mais forte ao comentário foi do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, que reúne os gestores dos 26 estados e do Distrito Federal. No sábado, o órgão divulgou nota repudiando as afirmações de Wizard. Assinada pelo presidente do órgão, Alberto Beltrame, classificou a declaração de leviana e disse que empresário “além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”. Beltrame ainda tachou a acusação de “grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito”.

Conversão
Wizard é um recém-convertido ao bolsonarismo. Até quase dois meses atrás, tecia elogios a João Doria, inimigo figadal do presidente Jair Bolsonaro. Em 11 de abril, mostrou alinhamento ao compartilhar um tuíte do governador de São Paulo: “Não é hora de amadorismo. Não será um mês de isolamento a comprometer a economia, mas uma série de medidas anteriores e posteriores. Precisamos ser conscientes e responsáveis com a vida dos brasileiros. Viva o Brasil!”,  escreveu, em clara crítica ao governo federal.

Sobre a crise sanitária, tuitou em 13 de abril. “O Brasil precisa de um gestor como o governador de São Paulo, João Doria”. Mais: “Ora, se você tem uma questão jurídica, você procura um advogado. Se você tem uma questão médica, você procura um médico e não uma série de achismo. É hora da ciência! O Brasil precisa de um gestor”, criticou, aludindo a Bolsonaro, que pressionava Luiz Henrique Mandetta a aceitar as determinações do Palácio do Planalto. O então ministro da Saúde demitiu-se três dias depois do tuíte de Wizard.






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