Correio Braziliense
postado em 08/06/2020 04:12
O Ministério da Saúde deu, ontem, nova demonstração de desorientação ao confundir a divugação dos números sobre mortos e casos do novo coronavírus no país. No primeiro balanço da pasta, a covid-19 tirara a vida de mais 1.382 pessoas, em 24 horas, elevando o número de óbitos para 37.312. Já o de casos informados eram 12.581, o que elevou o número global para 685.427 infectados. Mas, aproximadamente uma hora depois, a pasta apresentou novos números na página oficial reduzindo drasticamente o de vítimas para 525. Em relação aos atingidos pela doença, houve um salto para cima: no segundo balanço, apontava para 18.912 casos. Por esses novos resultados –– que não estão somados no site da pasta —, o Brasil tem 36.455 mortos e 691.758 registros de infecção.
Tamanha confusão deu mais força para as críticas à tentativa do governo federal de atrasar e maquiar os dados relativos à covid-19. Pressionado pelo Ministério Público Federal (MPF) a manter a transparência na divulgação das informações, que mostra o avanço do vírus e pode ajudar os brasileiros a escaparem dessa triste estatística, o ministério prometeu voltar a divulgar os dados diários e também o acumulado de casos e de mortes decorrentes da pandemia do novo coronavírus ainda nesta semana.
“O Ministério da Saúde está finalizando a adequação da divulgação e ferramentas de informação sobre casos e óbitos de covid-19. (...) O objetivo é que, nos próximos dias, estejam disponíveis em uma página interativa que possa trazer os resultados desejados pelo usuário. Assim, será possível acompanhar com maior precisão a dinâmica da doença no país e ajustar as ações do poder público diante a cada momento da resposta brasileira à doença”, justificou a nota.
Ainda assim, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, terá que explicar à Justiça por que essa divulgação não foi feita com tanta transparência assim nos últimos dias. Na semana passada, o governo deixou de apresentar os números acumulados e a evolução da pandemia no país, atrasou a divulgação do boletim diário do coronavírus e chegou até a tirar temporariamente do ar o painel de acompanhamento da covid-19. Essa barreira criada em torno dos dados gerou críticas em todos os lados, tanto que a Câmara de Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral do Ministério Público Federal (1CCR/MPF) instaurou um procedimento extrajudicial para apurar os motivos que levaram o Ministério a ocultar informações da população, e para cobrar transparência do governo.
A ação aberta no sábado pelo MPF estabeleceu prazo de 72 horas para Pazuello esclarecer a questão. E ainda há outras correndo na Justiça com o intuito de pressionar o governo a garantir a divulgação precisa dos dados. A Defensoria Pública da União (DPU), por exemplo, entrou com um pedido de liminar na Justiça Federal de São Paulo cobrando que o boletim diário do coronavírus seja apresentado integralmente até as 19h. E a expectativa do defensor João Paulo Dorini é de que a Justiça Federal decida sobre o assunto ainda nesta semana.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) também deve se debruçar sobre a questão, pois a oposição apresentou uma ação à Corte, ontem, acusando o governo de violar “preceitos fundamentais da Constituição Federal, sobretudo ao direito à vida e saúde do povo, bem como do dever de transparência da administração pública e do interesse público”.
Balanço
Apesar de ter prometido reverter a sensação de desinformação que vem promovendo, desde a semana passada, o Ministério não fez nenhum comentário sobre as ações judiciais. A pasta, embora tenha voltado a apresentar o consolidado dos casos e das mortes provocadas pela covid-19, também não divulgou esse balanço no horário que era de costume até a semana passada. O boletim diário só foi liberado quase às 21h, mesmo assim, com uma retificação aproximadamente uma hora depois. Ou seja, em um horário que ainda atende à orientação do presidente Jair Bolsonaro de deixar esses números de fora dos principais jornais da TV.
Seja qual for o número total correto de mortes –– 37.312 ou 36.455 ––, o Brasil ficou ainda mais perto do Reino Unido, que, atualmente, tem o segundo maior número de óbitos decorrentes da covid-19 no mundo: 40.625.
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