Brasil

Covid-19: OMS pede transparência ao governo na divulgação de dados

O recado foi dado pelo diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da instituição, Michael Ryan, como contrapartida para que o Brasil continue recebendo apoio internacional

A divulgação de dados coerentes e transparente por parte do governo brasileiro é uma premissa necessária para o enfrentamento ao novo coronavírus no Brasil, que ainda está em fase de crescimento da curva. A cobrança foi feita pelo diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. 

“Continuaremos apoiando brasileiro na luta contra a covid-19. Ao mesmo tempo é muito importante (a transmissão de) mensagens transparentes, a partir de informações coerentes, para que possamos confiar no nossos parceiros”, pediu o diretor durante coletiva da organização nesta segunda-feira (8/6). 

A fala vem após um fim de semana conturbado, quando o Ministério da Saúde retirou do ar todos os acumulados de casos e mortes pelo novo coronavírus, passando a divulgar apenas o relatório com os novos números. A ordem foi dada pelo presidente Jair Bolsonaro que, na sexta-feira (5/6), confirmou a mudança. "É para pegar o dado mais consolidado e tem que divulgar os mortos no dia. Por exemplo, ontem, praticamente dois terços dos mortos eram de dias anteriores, dos mais variados possíveis. Tem que divulgar o do dia. O resto consolida para trás”, disse. 

Como estratégia para supostamente atrapalhar a rotina dos noticiários, a determinação de passar a divulgar os dados após as 22h já havia sido incorporada dias antes. Ao ser questionado sobre suposta tática, o presidente disse: "Acabou matéria do Jornal Nacional.”

Além de provocar uma instabilidade em relação às informações divulgadas, o presidente Bolsonaro ainda ameaçou romper o relacionamento com a Organização Mundial de Saúde (OMS). “A OMS é o seguinte, o Trump cortou a grana deles, voltaram atrás em tudo.  Um cara que nem é médico. Eu adianto aqui. Os Estados Unidos saiu. A gente estuda, no futuro: ou a OMS trabalha sem ideologia ou nós vamos estar fora também. Não precisamos de gente lá de fora dar palpite na saúde aqui dentro”, apontou o chefe do Executivo.

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As relações com a OMS, no entanto, parecem estar estáveis. “O nosso entendimento é que o governo continuará a relatar os números diários”, disse, em voto de confiança, Michael Ryan. Não só como contrapartida para permitir que a OMS continue auxiliando o Brasil no enfrentamento à pandemia, o diretor afirmou que esta prestação de informações é essencial para o cidadão. 

“É preciso entender o que acontece, com a situação do vírus, como lidar com esses riscos. Confiamos que qualquer confusão atual possa ser resolvida e que o governo brasileiro e os estados possam continuar proporcionando dados de forma coerente, transparente para seus próprios cidadãos para que essa pandemia possa chegar ao fim o antes possível”, pediu Ryan.