Brasil

Em meio à interiorização da covid, saúde dos povos indígenas se torna alvo

Para impedir que o vírus desime etnias inteiras, o governo trabalha com barreiras e reforça monitoramento e atendimento nas áreas.

Correio Braziliense
postado em 09/06/2020 19:24
Para impedir que o vírus desime etnias inteiras, o governo trabalha com barreiras e reforça monitoramento e atendimento nas áreas.A vulnerabilidade dos povos indígenas diante da pandemia do novo coronavírus preocupa as autoridades. Enquanto dados da Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib) dão conta de mais de 230 índios mortos pelo vírus, os dados do Ministério da Saúde são quase três vezes menores. Isso porque, o atendimento especializado para a área fica restrito às aldeias. Para impedir que o vírus desime etnias inteiras, o governo trabalha com barreiras e reforça monitoramento e atendimento nas áreas. 

Segundo a Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib), os números que não contabilizam os indígenas que não vivem em aldeias podem ajudar a mascarar a realidade vivida pela comunidade. A Apib contabiliza casos e mortes de indígenas aldeados e de outros que vivem em cidades. Até a última sexta (5/6), 236 indígenas foram vítimas da doença, enquanto 2.390 indígenas já foram infectados. Ao todo, 93 povos indígenas já foram atingidos pela covid-19.

Dentro do radar da Secretaria Especial de Atenção Indígena do Ministério da Saúde, que atende 5.852 aldeias, 82 indígenas morreram em decorrência da covid-19. Dos 751.819 assistidos, 2.085 tiveram confirmação da doença, que, até o momento, só chegou em 8,5% das aldeias. Segundo o secretário responsável, Robson Santos, não há subnotificação por parte da pasta, mas uma limitação legal de atuação, que restringe o atendimento somente no âmbito dos aldeados. 

"Temos inúmeras ações que mesmo aquela aldeia não estando homologado, no sistema, nós temos atendido. O Ministério Público vem auxiliando nisso, mas está fora do arcabouço da secretaria. Hoje não há problema de recurso, o que há é um problema estrutural. Chegamos agora e a saúde indígena já estava aí há um tempo relativo. Nesse um ano e meio estamos tentando consertar algumas coisas", atribuiu Robson. 

Apesar disso, ele reconheceu a vulnerabilidade desta população e detalhou o que a pasta tem de ações especializadas para a área. "Tivemos que avançar na média complexidade. Com postos avançados já com uso de oxigênio, oxímetro, e outros aparelhos que não compõem a normalidade da nossa área de atuação. Isso porque nós percebemos que a oxigenação mais rápida, essa assistência mais intensa na ponta, recupera muitas pessoas que não estão se sentindo bem. Então a gente já avançou nesse atendimento", exemplificou. 

No entanto, a construção de um hospital de campanha para essas populações foi descartada “Como você vai colocar um hospital de campanha no meio da Amazônia? Não é só barraca, você tem que ter energia para fazer com que os aparelhos funcionem, plano de logística, plano sanitário para o descarte material e assim sucessivamente", explicou o secretário. A opção adotada foi criar alas específicas para atendimento de indígenas em hospitais da região para ampliar a capacidade de atendimento dessas unidades de referência. 

Saiba Mais

Além de equipar o sistema de saúde nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, o governo federal montou mais de 200 barreiras ao redor das aldeias com o objetivo de impedir a entrada de pessoas estranhas às comunidades e que possam trazer a doença. O secretário também elencou a organização dentro das aldeias como elemento colaborativo para uma menor gravidade de doenças nessas comunidades. 

“Os primeiros casos na população indígena aconteceram bastante tempo depois (do restante da população), porque eles são organizados, parceiros e entenderam e fizeram isolamento social com muita propriedade, disse Robson, alertando, por outro lado, que, com os mais jovens devem se preocupar com os idosos, público mais vulnerável. Isso porque, enquanto a média de confirmados dentro das tribos ficou em 41 anos, a maior parte das fatalidades é entre a faixa etária de 60 a 79 anos. 

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