Correio Braziliense
postado em 10/06/2020 04:14
Precisou o Brasil virar notícia internacional e de uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governo recuasse na decisão de eliminar o acumulado de casos e mortes do novo coronavírus nas atualizações diárias. Ontem, apesar de não lançar a plataforma prometida, a página do Ministério da Saúde voltou a informar os números absolutos da doença no país, omitidos do boletim desde a última sexta. Brasil segue como líder mundial em casos e mortes nas últimas 24h, com mais 1.272 óbitos e 32.091 infectados, totalizando 38.406 vítimas e 739.503 diagnósticos.
Prova da pressão sofrida pelo governo brasileiro foi a conduta do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, convocado para dar explicações aos questionamentos de parlamentares na Câmara dos Deputados, ontem. “Vamos ter, agora, metade do mundo dizendo que nós queremos esconder o óbito. Pelo amor de Deus, é ‘inescondível’, desculpe o termo”, chegou a declarar, em comissão externa que acompanha as ações de combate ao coronavírus. “Só queria colocar que a intenção era 100% transparência, 100% dos dados para todo mundo e mais nada”, complementou.
O tom foi de cobrança na comissão. O deputado Enio Verri, líder do PT, acusou o governo de tentar “ocultar cadáveres”. “As mortes são resultado da falta de Estado. Nosso país não tem um presidente da República”, criticou. Na mesma linha, o deputado Alessandro Molon, líder do PSB, alegou que o recuo do Ministério da Saúde foi reflexo da repercussão negativa por parte de representantes da Saúde, da Justiça e da imprensa. “O governo já havia sido derrotado e decidiu recuar. O governo tentou esconder os dados, camuflar o número de mortos”, disse.
Pazuello explicou os motivos que levaram a pasta a alterar o sistema de contagem de óbitos e casos da covid-19 no Brasil. “Eu tinha que esperar todos os estados para fazer uma apresentação, eu estava somando contas que não eram somáveis, marcando um horário para apresentar uma informação que não dizia nada para os gestores do nosso país. As informações agora são plenas, transparentes e reais”, defendeu. Segundo o general, a contagem do Ministério da Saúde realizada até então refletia uma defasagem na soma de óbitos durante os fins de semana e feriados.
“Quero propor que pegue o registro e lance a data do óbito para que o gestor possa ver o que aconteceu. Porque ele pode avaliar que caíram os óbitos no fim de semana, enquanto é uma questão do registro. Se não olhar a data do óbito, o gestor não consegue entender o que está acontecendo na sua cidade e não consegue fazer medidas para lidar”, justificou o ministro. Atualmente, a pasta divulga os registros inseridos no sistema nas últimas 24 horas, independentemente de quando ocorreram. Segundo o Ministério da Saúde, a plataforma a ser lançada deverá apresentar, também, os óbitos em suas datas de ocorrência.
No âmbito interno da pasta, o retorno da divulgação dos dados acumulados também foi comemorado. Parte da equipe considerou “uma vitória com base nos esforços e no embasamento técnico e sistemático do ministério acima dos interesses políticos”, descreveu um servidor.
Inverno em janeiro
Após a reinclusão do Brasil no levantamento da Universidade Johns Hopkins, a comparação mostra que o país está cada vez mais perto de se tornar o segundo do mundo com mais mortes pelo novo coronavírus. Na frente, estão Estados Unidos, com 111.751 mortes, e o Reino Unido, com 40.968 vítimas.
De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, sete estados já ultrapassaram a marca de mil óbitos cada um. São Paulo encabeça a lista com 9.522 óbitos. Em seguida estão: Rio de Janeiro (6.928), Ceará (4.309), Pará (3.853), Pernambuco (3.453), Amazonas (2.315) e Maranhão (1.285). Juntos, os sete estados somam 31.665 mortes, ou seja, 82,4% de todos óbitos.
Apesar de o Norte e o Nordeste serem as regiões do país mais impactadas pela pandemia até o momento, Pazuello afirmou, ontem, aos deputados que ambas já passaram pelo pico. E sugeriu, em uma declaração surpreendente, que o inverno no Brasil ocorre em dezembro e janeiro. “Nesse momento, o maior impacto está nas regiões Norte e Nordeste porque, historicamente, o inverno nessas regiões é ligado ao inverno do Hemisfério Norte. O inverno do Norte e Nordeste acontece no fim e no começo do ano”, pontuou. Ainda assim, segundo dados oficiais, o Nordeste registrou 480 mortes nas últimas 24 horas; o Norte, 183.
A maior preocupação da pasta, agora, é o impacto da doença no Centro-Sul do país. De acordo com o ministro, o novo coronavírus deve acompanhar o período de maior incidência da influenza. No entanto, ele acredita que o impacto deve ser menor. “A preparação é maior, o conhecimento de como aconteceu no Centro-Norte serve como alerta para que o pessoal se prepare.”
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