Correio Braziliense
postado em 11/06/2020 07:00
Em curva ascendente de casos, a pandemia do coronavírus no país é preocupante e pode piorar. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria norte-americana Kearney no Brasil, a falta de leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) se agrava nas próximas semanas. Até o dia 30 de junho, de acordo com a análise, a demanda deve ficar entre 15 mil e 36 mil leitos. Os dados apontam, ainda, que o Brasil deverá ter entre 900 mil e 1,4 milhão de casos da covid-19 até o fim do mês. Para o fim do ano, no cenário mais pessimista, a estimativa é de até 19,5 milhões de casos.
“Para fazer as projeções, usamos números oficiais, com a ressalva de que há subnotificação, uma realidade que se repete em diversos países”, afirma Joaquim Cardoso, líder sênior de práticas de saúde da Kearney Brasil. Ele explica que, para o estudo, foi levado em conta, também, um cenário otimista, no qual todas as melhores práticas no combate utilizadas ao redor do mundo seriam adotadas no Brasil. “Infelizmente, essa não é a situação do Brasil. Estamos entre o cenário intermediário e pessimista”, informa.
Entre as preocupações apontadas no levantamento está a disparidade de vagas entre o SUS e o sistema privado de saúde. O Brasil possui cerca de 16 leitos para cada 100 mil habitantes, um número até animador, se comparado à média internacional, de 12 leitos. Ao todo, temos aproximadamente 51 mil leitos no Brasil, destes 34 mil são adequados ao tratamento adulto da covid-19. Do total, 18,6 mil são privados, restando 15,4 mil leitos do sistema público para atender a quem não pode arcar com despesas médicas ou com os custos de um plano de saúde. “Vai haver uma diferença na mortalidade da covid-19 entre as classes mais ricas e mais pobres”, observa Cardoso.
Ele destaca, ainda, que a construção de novos leitos, cerca de 7 mil ao todo no Brasil, está concentrada nos estados com maior poder aquisitivo, como São Paulo. “Não teremos o suficiente. Faltarão cerca de 19 mil leitos. Mesmo com esses novos, ainda são cerca de 12 mil leitos faltando”. Segundo o levantamento, seriam, em um cenário intermediário, quase 17 mil leitos faltantes no SUS, contra ausência de 1,9 mil leitos no setor privado. Caso o Brasil atinja o cenário pessimista, a falta de leitos ficaria em torno de 36,7 mil.
Para o especialista, o cenário é mais preocupante nas regiões Norte e Nordeste. “Infelizmente, serão a Itália brasileira, o sistema de saúde, lá, já está saturado e vai piorar bastante. Você tem duas realidades diferentes entre esses estados em relação ao Centro-Oeste, Sul e Sudeste”, destaca. De fato, Norte e Nordeste apresentam sinais de exaustão. O levantamento indica que Pernambuco, Maranhão e Amapá já atingiram quase 100% de ocupação. Os dados projetam também que Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte estão próximos à saturação.
DF mais tranquilo
Em uma melhor situação, o Distrito Federal apresenta a maior concentração de leitos por 100 mil habitantes, 36,18. Porém, ao analisar a diferença entre o setor público e o privado, são 20,16, no SUS, contra 89,54, no setor privado. Entre os hospitais da rede privada brasiliense está o HOME — Hospital Ortopédico e Medicina Especializada, que contava com 40 leitos de UTI. “Na semana passada houve um aumento de demanda. Devido a isso, fizemos um contingenciamento de leitos e agora estamos num momento mais calmo”, pontua o diretor técnico do hospital, Cícero Henrique Dantas, que se mostra otimista e descarta um colapso. “Aqui, estamos vivendo um cenário relativamente tranquilo.”
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