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Covid é teste de resiliência, afirma presidente do Grupo Sabin

Nesses tempos difíceis, a capacidade de adaptação, com avanços e recuos, estará presente no cotidiano de governos, de empresas e até de indivíduos, aponta Lídia Abdalla

Correio Braziliense
postado em 18/06/2020 06:00

uma mulher em pé sorrindoA pandemia da covid-19 impõe um exercício diário de resiliência, acredita a bioquímica e empresária Lídia Abdalla, presidente do grupo Sabin. “Aprendemos com o novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas”, afirma Abdalla nesta entrevista ao Correio.


Nesses tempos difíceis, a capacidade de adaptação, com avanços e recuos, estará presente no cotidiano de governos, de empresas e até de indivíduos. “Teremos que nos preparar para várias reaberturas e, talvez, alguns retornos ao isolamento de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas”, estima Lídia. Ela acredita que, em um cenário pós-pandemia, a forma de se relacionar com as pessoas, com o trabalho e com o mundo nunca mais será a mesma. Entre as mudanças econômicas, ela prevê um aprofudamento do teletrabalho, do trabalho coletivo, da educação a distância e de uma nova visão de sustentabilidade.


Mas é nas relações interpessoais que Lídia Abdalla vê lições importantes da covid. “A crise do coronavírus vai deixar lições positivas para os brasileiros. A principal delas será que precisamos cuidar uns dos outros para sobreviver a cenários como este. O coletivo nunca foi tão importante”, afirma a executiva. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como será o mundo pós-covid na área da saúde?
Este é um momento de muitas mudanças, reflexão e desafios. Temos apostado na colaboração como uma forma de enfrentar a crise, e penso que o sentimento de coletividade irá perdurar após o coronavírus. Iremos nos fortalecer dentro das empresas com gestões mais colaborativas e com uma preocupação maior com o cliente e o com os colaboradores. Na saúde, a telemedicina também será uma importante aliada, mas o cuidado e a atenção ao paciente continuarão importantes diferenciais. O olho no olho não será substituído. Como a saúde se mostrou nosso maior bem durante a pandemia, acreditamos que, no pós-covid, a sociedade estará mais preocupada com o bem-estar e com a saúde física e mental. Com isso, a medicina preventiva e preditiva estarão mais forte no acompanhamento médico.

E nas empresas?
Após a crise gerada pela necessidade de isolamento social, as empresas terão de rever prioridades. A pandemia antecipou mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, uso de videoconferência e ferramentas de trabalho colaborativo, a educação a distância, novas parcerias para a sustentabilidade e a exigência, por parte da sociedade, para que as empresas se preocupem com a responsabilidade social. A solidariedade também acentuada neste momento irá seguir. As corporações que não vinham trabalhando essas mudanças antes correrão sérios riscos de sobrevivência no mundo pós-covid.

Cresce a expectativa de que viveremos uma espécie de efeito sanfona, com avanços e recuos em relação ao isolamento. Como avalia essa inconstância?

Tudo nesta pandemia é muito novo. Enquanto não temos vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes para tratar a doença, a melhor forma de prevenir é o distanciamento social. Nosso país é muito grande e com diferenças sociais e demográficas relevantes. Cada região está em uma fase diferente da pandemia, o que vai exigir ações e medidas regionais. Não temos como prever como será a reabertura. Teremos que nos preparar para várias reaberturas e, talvez, para alguns retornos ao isolamento, de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas. Aprendemos com o novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas.

Como as empresas, os gestores públicos e a sociedade devem se portar diante desse cenário de “abre e fecha”?
A resiliência, união e a inovação serão as chaves para ultrapassarmos todas as dificuldades que a pandemia irá trazer. Dentro das empresas, o papel dos colaboradores é essencial, da liderança a quem está atuando diretamente com o cliente no dia a dia. As empresas precisam estar atentas à saúde física e mental do colaborador. Este é o momento dos líderes passarem para as equipes empatia, segurança e humildade por este ser um momento em que não temos nenhuma certeza, mas que estamos juntos nesse desafio. É essencial, também, ter um excelente canal de comunicação com todos os stakeholders da empresa para mostrar transparência durante esse período de crise e para que todos possam pensar em soluções juntos. Dentro da sociedade será necessário colocar o bem coletivo antes do bem individual. O autocuidado como forma de proteger o outro, não só a si mesmo. Todos estamos passando por diferentes dificuldades nesse momento. Acho que a colaboração é essencial. Só vamos conseguir nos reerguer se estivermos juntos.

Como o enfoque na saúde pode facilitar o retorno das atividades econômicas?
A saúde é o maior bem de uma pessoa. A pandemia difere-se das últimas crises enfrentadas pela humanidade porque é uma crise de saúde que está trazendo profundas consequências econômicas. É preciso ter muita serenidade para tomar decisões que promovam a saúde física, emocional e financeira da população. Porque é uma situação muito nova para todos nós, acreditamos que as decisões precisam ser tomadas a curto prazo. O cenário ainda está em construção. A situação muda a cada momento. Ao mesmo tempo, precisamos ter um plano estratégico para a retomada da economia preservando empregos e as empresas. 

A ampliação de testes e diagnóstico influencia nessa abertura gradativa?
A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é testar a maior quantidade possível de pessoas. A testagem contribui para dois pilares: a saúde individual e a saúde coletiva para que possamos apoiar o diagnóstico da doença e seu adequado tratamento, bem como a adoção de medidas e políticas públicas para proteger e cuidar da saúde da população. Os dados que temos, hoje, da prevalência da doença acabam nos revelando mais sobre a capacidade de testagem do que da real disseminação do vírus.

É possível fazer uma testagem em massa?
Os insumos disponíveis não viabilizam os testes em toda a população. Por isso, os recursos devem ser racionalizados e utilizados de forma estratégica, priorizando os pacientes sintomáticos ou contactantes a partir de uma avaliação médica. Temos trabalhado incansavelmente no setor privado e no setor público para atender à demanda de exames. Atendemos, também, ao chamado de parceria da Secretaria de Saúde do Distrito Federal para processar os exames de RT-PCR para detecção do novo coronavírus para o GDF, ampliando a capacidade de testagem da doença. A previsão é a realização de 20 mil exames ao longo de 180 dias, contribuindo com o Laboratório Central (Lacen) no atendimento à demanda para suporte ao diagnóstico da doença na rede pública local.

O mundo sentiu a concentração chinesa na produção de insumos. Vê alguma mudança nesse cenário após a pandemia?
Acredito que haverá uma descentralização da produção de insumos em países específicos. Penso que muitos empreendedores em todo o mundo vão perceber essa situação como uma oportunidade para começar a produzir insumos que antes não eram desenvolvidos em seus próprios países. Pode ser que essa necessidade acabe estimulando a busca pela produção local de novos tipos de materiais, ferramentas e tecnologias, ou seja, novas cadeias produtivas que podem gerar, também, muitos empregos no país.

O Brasil pode tirar experiências positivas da covid?
A crise do coronavírus vai deixar lições positivas para os brasileiros. A principal delas será que precisamos cuidar uns dos outros para sobreviver a cenários como este. O coletivo nunca foi tão importante. Estamos entendendo que a saúde é um bem essencial para todos. Cada um deve fazer o seu papel buscando um olhar mais coletivo e menos individual. Cooperação e parceria são palavras-chaves.

Como lidar melhor com um inimigo invisível?
Aprendemos com o novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas.

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