Brasil

O segundo domingo mais fatal da covid-19

Boletim mais recente do Ministério da Saúde confirma novas 641 mortes pela doença, que só fica atrás de 24 maio. Vale destacar que passou de mil a média diária de óbitos durante a semana. Pasta destaca, ainda, que o número de infectados no Brasil chegou a 1.085.038.

Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 04:03
Os exames realizados confirmaram mais 17.459 casos desde sábado: especialistas criticam a falta de uma política nacional de combate à doença

Depois de ultrapassar a marca de 50 mil mortes causadas pelo novo coronavírus, o Brasil reforçou ainda mais sua posição de recordista nos números da pandemia na América Latina, região considerada o novo epicentro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As infecções por covid-19 no país chegaram, ontem, a 1.085.038, sendo 17.459 contabilizadas nas 24 horas anteriores, segundo o Ministério da Saúde. Nesse mesmo período, houve o registro de 641 novos casos fatais da doença — o segundo maior registrado em um domingo (653 foram registrados em 24 de maio) —, o que elevou o total de mortos a 50.617, conforme a pasta. Aos domingos, há uma diminuição no número de confirmações de mortes e casos por causa da redução das equipes nos hospitais e laboratórios no fim de semana.

O ministério informa, também, que o estado de São Paulo continua sendo a unidade da Federação com o maior número de casos e de mortes, 219.185 e 12.588, respectivamente. O estado teve, na semana passada, um recorde de 1.913 casos fatais de covid-19, o que obrigou o governo paulista a recuar a flexibilização da quarentena em algumas regiões do interior.

A taxa de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) na Grande São Paulo está em 69,3% e, em todo o estado, 65,9%. O número de pacientes internados é de 14.274, sendo 8.508 em enfermaria e 5.766 em unidades de terapia intensiva. Dos 645 municípios, já houve registro de infectados em 601. Mortes por causa do novo coronavírus ocorreram em 333 cidades paulistas. Desde o início da pandemia, 37,9 mil pessoas diagnosticadas com covid-19 em SP que precisaram ser internadas já receberam alta hospitalar.

O Rio de Janeiro mantém-se na segunda posição em relação aos números da pandemia, com 96.133 infectados e 8.875 óbitos. O estado chama a atenção pelo grande número de pessoas que desafiam as regras de isolamento social e se aglomeram em locais públicos. Ontem, apesar da proibição, as praias da capital estavam lotadas de banhistas.

Em terceiro lugar em casos e mortes por covid-19 é o Ceará, com 92.866 e 5.523, respectivamente. Da mesma forma que no Rio de Janeiro, grande parte da população cearense tem desrespeitado a quarentena. De 20 de março até ontem, segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia atendeu a 24.412 ocorrências de descumprimento do isolamento social.

Repercussão

Para Eliseu Alves Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), o motivo principal da expansão da pandemia no Brasil é a falta de um consenso nacional sobre as medidas necessárias para enfrentar o novo coronavírus. Ele também citou o retorno desordenado das atividades econômicas, em vários estados, como outro fator importante nesse contexto.

“O Brasil não atuou uniformemente nessa pandemia, muito em razão da falta de uma liderança nacional para conduzir o país nesse momento. De certa forma, os governadores tornaram-se os protagonistas e tentam, até hoje, suprir essa falta. Então isso não permitiu que o país atuasse conjuntamente para enfrentar a pandemia”, disse Waldman, referindo-se à postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro, que tem pregado o fim do isolamento social decretado nos estados.

Como Eliseu Waldman, a médica infectologista Raquel Stucchi, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também aponta a falta de um discurso único das autoridades como umas das causas do delicado estado da pandemia no país.

“Nós nunca tivemos uma voz uníssona no país. Eu acho que isso é um determinante muito importante. Nós vemos Nova Zelândia, Portugal e outras nações onde as coisas deram certo. No Brasil, temos alguns locais pontuais, onde as coisas também deram certo. Em Florianópolis (SC), por exemplo, o prefeito foi lá e se adiantou em termos de testagem e reforço da estrutura hospitalar. Mas, falando em termos de país, nós nunca tivemos uma voz uníssona”, disse Raquel Stucchi.

“E aí, eu não coloco a culpa só no governo federal. Eu acho que, mesmo entre governadores e prefeitos houve muita dissonância. Claro que não ter uma voz uníssona é algo muito determinante”, disse Heloísa. Ela também apontou a “insuficiente” ação do governo federal para reduzir os impactos da pandemia como um dos fatores que levaram muitos brasileiros a romper o isolamento social.

Os últimos domingos

Confira a quantidade de mortes registradas nos últimos domingos
21/6 641
14/6 525
7/6 525
31/5 480
24/5 653
17/5 485
10/5 496

Fonte: covid.saude.gov.br

Veto a estrangeiros

O governo brasileiro prorrogou por mais 15 dias a restrição excepcional e temporária de entrada no país, em razão do agravamento da pandemia do novo coronavírus. A Portaria nº 319, publicada ontem no Diário Oficial da União (DOU), é assinada conjuntamente pelos ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto; da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça; da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas;  e da Saúde, Eduardo Pazuello.

Com a prorrogação, ficam mantidas por 15 dias as restrições impostas pela Portaria nº 255, de 22 de maio de 2020, que também traz algumas exceções. As restrições não se aplicam, por exemplo, a brasileiros (natos ou naturalizados); imigrantes com residência de caráter definitivo, por prazo determinado ou indeterminado, no território brasileiro; e profissionais estrangeiros em missão a serviço de organismo internacional ou acreditados junto ao governo brasileiro. As fronteiras brasileiras também continuam abertas para o transporte de cargas e ações humanitárias.

Em outra ação governamental, o Ministério da Saúde está negociando a compra de vacinas contra a covid-19 com alguns laboratórios, segundo noticiou o jornal O Globo. Entre os laboratórios, estão o britânico AstraZeneca, que está desenvolvendo com a Universidade de Oxford a que se imagina ser a primeira vacina a entrar no mercado. (JV)

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